Discutir ou não sobre política entre os colegas de trabalho? Saiba como lidar com divergências de ideias
O ano de 2022 é considerado decisivo para o Brasil, isso porque estamos vivendo um cenário em que os eleitores terão o poder de decidir quem irá comandar o país pelos próximos quatro anos. Diante do atual contexto, em que há um cenário político polarizado, que segue desde as eleições de 2018, as discussões políticas podem ser um fator de risco para diversas condições de saúde emocional, como estresse, depressão, ansiedade e insônia, que podem afetar diferentes âmbitos da vida de uma pessoa – incluindo o profissional.
De acordo com o psicólogo Luiz Lourencetti, head de Psicologia Digital da healtech Hisnek – criadora do aplicativo IVI, benefício corporativo que utiliza inteligência artificial para fazer a prevenção ativa a doenças mentais e promoção à saúde de colaboradores –, a política sempre esteve relacionada ao campo do conflito de ideias, argumentos e posições diferentes, que, pelas próprias definições, já se entende que o assunto é polêmico e um gerador potencial de estresse e tensões emocionais, o que pode afetar a saúde mental.
Lourencetti ainda explica que um aspecto importante que precisa ser compreendido, quando o assunto é debate político, é que cada indivíduo tem suas crenças e valores, que são construídos a partir de sua própria história de vida, e isso acaba direcionando seus posicionamentos políticos. “É comum nas discussões sobre política nos aproximarmos de perspectivas individuais e nos esquecermos que do outro lado da conversa há uma outra pessoa que também tem sua história de vida, suas crenças e valores, e que eles podem ser diferentes. Quando isso ocorre, as consequências disso são afetações diversas a nossa saúde mental, tocando em áreas como relacionamentos, produtividade no trabalho, disposição para interação social, dentre outros”, aponta.
Falar ou não sobre o tema entre os colegas de trabalho?
Em pesquisa realizada em julho pelo Datafolha, diante do acirramento eleitoral, 49% dos brasileiros alegaram ter deixado de falar sobre política para evitar discussões e conflitos entre familiares e amigos. Porém, segundo o psicólogo, não falar sobre um determinado assunto ou situação nem sempre é uma forma saudável de lidar com os problemas, sobretudo quando se trata de saúde mental. Para Lourencetti, a questão não é falar sobre política em si, visto que pautar informações e debates que cercam o tema é fundamental para que um país exerça a sua democracia, mas sim a forma como é debatida e incorporada à pauta entre as pessoas.
Pensando no ambiente de trabalho, Lourencetti listou algumas estratégias que podem auxiliar colaboradores a lidar com divergências de ideias, posicionamentos e, até mesmo, com os efeitos na saúde mental de um debate mais acalorado.
- Praticar a autoavaliação
É preciso realizar um exercício de reflexão sobre os próprios argumentos e posicionamentos. Busque tentar refletir e entender que sua forma de pensar não é a única adequada ou correta, e ser aberto para ouvir o outro e compreender, a partir do ponto de vista dele, quais são os seus argumentos e porque aceita aquilo como verdade. De acordo com o psicólogo, esse tipo de exercício favorece um olhar mais empático, de se colocar no lugar do outro, o que pode reduzir as tensões e criar um diálogo aberto e construtivo sobre o tema.
“É importante observar até que ponto a nossa posição política tem prejudicado as relações sociais e familiares, de trabalho, lazer e estudos. Se surgem pensamentos repentinos acompanhados de sensações ruins associadas, isso pode ser um sinal de alerta de que algo não está bem. Caso não consiga lidar e identificar o que está ocorrendo, talvez o caminho seja procurar ajuda profissional”, alerta.
- Promover a escuta ativa
Entre as rodas de conversas com pessoas que pensam de forma diferente, uma boa estratégia a seguir para preservar a saúde mental, é tentar praticar a escuta ativa e encontrar pontos em comum, acordos mínimos que ambos compartilham sobre determinado assunto. O ser humano tem a tendência natural a rejeitar e ser mais crítico com ideias divergentes, além de gostar do que se assemelha a sua forma de pensar, o que pode ser chamado de viés de confirmação. Porém, é preciso ter em mente que nem todo mundo tem a mesma forma de pensar.
3. Evitar exposições prolongadas ao assunto
Há meses o tema política vem sendo amplamente discutido, o que pode ser inevitável não falar sobre o assunto com algum colega de trabalho. Em determinados momentos, para evitar situações que podem potencializar o sofrimento mental, evite gerar discussões prolongadas.
Como líderes e RHs podem tornar o ambiente de trabalho leve diante desse contexto
Acima de tudo, é importante que haja respeito aos posicionamentos políticos do colaborador. Isto é, não tentar direcionar posicionamentos e votos, independentemente da posição hierárquica do colaborador. De acordo com Lourencetti, este deve ser respeitado, sem sofrer coação ou represálias por sua posição.
Além disso, líderes de empresas e RHs podem criar estratégias favoráveis ao diálogo amplo, plural e respeitoso entre os colaboradores, que envolvem a criação de momentos de debates e exposição de ideias diferentes. “Ao criar esses contextos favoráveis ao diálogo, a organização pode estabelecer certos limites, como regras para uso dos canais de comunicação interna, evitando hostilidades, ofensas e disseminação de fake news nesses canais”, explica.