Desde o início da pandemia, especialistas esperavam o aumento nos transtornos mentais. Após um ano, a confirmação chegou: quase metade da população mundial considera que a saúde mental piorou no último ano. Pelo menos é o que revelam os dados levantados pelo Ipsos (Especialista em Pesquisa de Mercado e Opinião Pública) no estudo One Year of Covid-19 (Um Ano de Covid-19), em abril. A pesquisa diz que 53% dos brasileiros observaram mudanças negativas em seu emocional. O país não só ficou em quinto lugar entre os que mais sentiram as consequências, como foi o sétimo onde a população mais notou um agravo no mal-estar desde o começo de 2021.
Mesmo com todos os transtornos existentes, surge um novo fenômeno que emergiu com a pandemia : o languishing, que inclui um sentimento persistente de apatia de difícil definição, mas que está longe dos extremos, seja o de felicidade plena, e o da tristeza angustiante, mas sim no meio-termo. Em inglês Languishing, que tem sido usado aqui no Brasil como “abatimento” ou “apagamento”, nada mais é do que o meio do caminho, não se sentir bem e também não conseguir explicar isso direito (se sentir meio “blah”). No ambiente corporativo a pandemia impactou negativamente a saúde mental das pessoas, muitos estão com depressão, níveis elevados de estresse e burnout; e a outra parcela, com sensação de vazio que também preocupa, o chamado ‘languishing”’, observa a Dra. Ana Carolina Peuker, que é psicóloga, CEO e fundadora da BeeTouch, mental healthtech responsável por mensurar riscos psicológicos digitalmente em empresas e instituições.
Como tudo o que é novo, há uma dificuldade para identificar esse fenômeno psicológico. Por isso, a especialista aponta 4 indícios que podem acender um sinal de alerta. Veja abaixo.
1 – Sentimento de “esvaziamento”
A crise sanitária global tem agravado esse quadro. Não conseguir planejar o futuro é perturbador e acaba gerando mais ansiedade nos indivíduos, acabando com a ilusão de que é possível ter controle das coisas. Ainda tivemos que nos adaptar muito rápido a tantas necessidades, e isso é exaustivo, pois as pessoas ficam em alerta contínuo. Essa exaustão é a responsável por causar o sentimento de culpa, esvaziamento emocional e apatia.
2 – Não se sente feliz e nem triste
Existe um grupo que não se sente triste ao ponto de se encaixar na depressão, já que tem energia para tarefas do dia, mas está longe de estar satisfeito com a vida. Esse é um sintoma muito comum, que é praticamente invisível, e os tratamentos são destinados aos transtornos já existentes. Porém, quem não se encaixa nos critérios de depressão, síndrome do pânico, burnout e outros. A pessoa não consegue se realizar, por isso, também sofre.
3 – Não conseguir ter uma visão positiva
Mesmo não se sentindo extremamente triste, a pessoa que apresenta o quadro de languishing não tem a dimensão positiva do futuro, apresentando padrões mais negativos e falta de perspectiva. Isso poderia ser definido como uma visão “embaçada” do futuro, a pessoa pode ter a sensação de que sua vida está estagnada. Se na síndrome de Burnout a sensação é de um motor pifado pelo “superaquecimento”, no Languishing é como se o motor só pegasse “no tranco”.
4 – Se sentir desmotivado no trabalho
Na rotina profissional, uma das sensações que são importantes para a nossa alegria é a sensação de progresso. Quem sofre com o languishing pode ficar desmotivado e, aos poucos, perder a produtividade. Assim, acaba criando um ciclo vicioso e levando para outras áreas da vida, como também a vida pessoal. Se a crise pandêmica fez com que muitas pessoas encontrassem seu propósito, neste quadro é ao contrário, as pessoas deixam de reconhecê-lo e se sentem sem rumo.