Por Flavia Caroni, VP LATAM de People na Kraft Heinz Company
A Cultura do Erro no mundo corporativo, embora muito conectada ao atual estilo de trabalhar de startups, sempre foi um tema relevante nas companhias, especialmente aquelas preocupadas em inovar de forma contínua. Mais do que entender que errar faz parte do processo, não apenas no trabalho como na vida, as empresas começaram a valorizar a humanização dos colaboradores por trás dessa ideia.
Essa cultura, que embora tenha se popularizado com esse nome, visa entender que os erros vão acontecer, de forma natural e previsível, e que em seguida é preciso focar nos aprendizados que podem ser tirados de uma falha para que essa não ocorra mais. Essa linha de pensamento permite que os funcionários estejam acostumados com a possibilidade do fracasso, sem prejuízo para os procedimentos diários de trabalho. Afinal, o foco está sempre no acerto e nas boas práticas, mas também é importante não termos medo de tentar, algo intrínseco aos processos de inovação.
De acordo com a Pesquisa de Segurança Psicológica, realizada pela Pulses em 2021, 54% dos funcionários possuem medo de serem punidos após cometerem um erro. Além disso, dentre os colaboradores com maior tempo de casa, 91% acreditam que vão sofrer consequências negativas em caso de falhas – o índice cai para 37% se analisamos funcionários contratados há apenas seis meses. O levantamento, realizado com 2 mil pessoas que trabalham em companhias de diferentes setores e portes, joga luz sobre o estresse causado nos funcionários pelo medo de errarem.
Outro olhar que podemos ter sobre essa Cultura do Erro está no compartilhamento das experiências e lições aprendidas. As pessoas que se deram bem no mundo corporativo, que é sempre tão perfeccionista, não eram acostumadas a contar as partes nem tão bem-sucedidas de suas histórias. O que deu errado? Quais atitudes foram tomadas após essa falha? Como as equipes se mantiveram engajadas mesmo após um erro de cálculo? Perguntas que suscitam não apenas curiosidade, mas trazem insights relevantes.
Hoje, contar esses detalhes vem se tornando mais comum, especialmente nas redes sociais profissionais, como o LinkedIn. Dentro da Kraft Heinz, realizamos a “Fail Conference”, um momento em que os colaboradores descrevem uns para os outros falhas, insucessos e quais aprendizados cada história gerou.
De início, a reação dos funcionários foi de surpresa. Com o tempo, surgiu o entendimento sobre essa humanização, e aos poucos as pessoas foram desmistificando a cultura organizacional do sucesso sempre. O espaço também evoluiu com as pessoas compartilhando relatos pessoais, movimentos de carreira, em um momento de mútuo desenvolvimento humano. Essa celebração, além de incentivar a tolerância ao erro, enfatiza ainda mais a humanização das relações dentro da companhia e possibilita um clima agradável e gostoso entre os times.