O acesso limitado ao crédito, em tempos de isolamento social e ociosidade de diversas cadeias de negócios, por conta da Covid-19, tem graves reflexos na economia nacional. Apesar de o Brasil dispor de um sistema financeiro moderno, o empréstimo de valores financeiros continua muito concentrado em grandes bancos, com custos e alcance aquém dos anseios dos públicos de interesse e, por consequência, de ser instrumento mais relevante no processo de desenvolvimento e combate à desigualdade social no País.
O volume total de crédito bancário vem batendo recordes, segundo a Febraban. Contudo, com a elevação seguida da taxa Selic, porta-vozes do Banco Central, órgão regulador do Sistema Financeiro Nacional, acreditam em uma certa desaceleração nos próximos meses. Não em face à demanda, que seguirá alta, mas sim em razão dos riscos inerentes ao concedentes. A solução passa pelo aumento da concorrência – por meio de canais não bancários – e do conforto, praticidade e melhor experiência ao solicitante do empréstimo e das opções de garantia de quitação.
A evolução dos modelos, da tecnologia, das regulações dos canais de distribuição, a queda das barreiras de custos, precificação de riscos e avanços do mercado possibilitaram o surgimento e a expansão de um novo segmento de empresas de crédito nos últimos anos. Há um novo protagonista: o canal de distribuição de produtos extra balcão bancário.
A capacidade de composição no mercado e mudanças que beneficiem o consumidor já foi reconhecida pelo Banco Central, que vem anunciando normatizações e medidas para incentivar a atuação de empresas, como as fintechs. A premissa é prestar serviços diferenciados, desburocratizados e com tarifas muito mais reduzidas que as instituições financeiras tradicionais, utilizando novas plataformas digitais e modelos de negócios, além do uso constante de tecnologia.
Nos últimos anos, os modelos de negócios alavancados pela tecnologia e melhoria dos serviços avançaram em todo o mundo. Especificamente no mercado de crédito, essas iniciativas trouxeram expectativa de maior inovação e eficiência para o consumidor brasileiro, tão ávido por melhores produtos e serviços a custos mais baixos.
No País, a distribuição, a oferta de crédito e a expansão desse mercado vêm ascendendo frente aos outros indicadores de recuperação econômica, muito por conta do estímulo das novas iniciativas do Bacen com novos horizontes para a ampliação das condições de competição e oferta. As normas para fomentar o desenvolvimento do mercado, buscando torná-lo cada vez mais competitivo, inclusivo e capaz de gerar benefícios econômicos e sociais, talvez seja a principal medida. Outra mudança foi de natureza macroeconômica: a taxa básica de juros (Selic), que chegou a os 14,25% ao ano, hoje está em 5,25%.
Nesse cenário, investidores começaram a buscar alternativas para alocar capital e assim aumentar os recursos disponíveis para fomentar a criatividade, a inovação e a oportunidade para empreendedores. Mas apenas a inovação e a flexibilidade do sistema não serão suficientes para diferenciar e buscar novas proporções de escala de crédito. Temos de elevar a ampla oferta, o acesso e a simplicidade do processo de contratação atrelado a um bom serviço de pré e pós-venda ao provedor e ao cliente final.
Segundo o último Relatório de Empréstimos Digitais da American Bankers Association, 31% dos bancos demonstram interesse em fazer parcerias com fornecedores terceirizados para empréstimos ao consumidor, 80% querem alavancar tecnologia em sua atividade de empréstimos às pequenas empresas e 72% desejam se tornar mais eficientes em seus serviços de empréstimo.
Paralelamente, o volume de contratos vem aumentando, demonstrando a forte aceitação do consumidor aos produtos de crédito fora do ambiente bancário. Percebe-se a importância de adequar as necessidades do comércio e dos distribuidores na adaptação e refinamento do seu modelo de negócio, criando produtos e serviços capazes de ganhar escala e desenvolver um histórico de volumes crescentes, atraindo novos clientes, gerenciando a carteira por meio de processos internos e externos eficientes.
É preciso acreditar no incremento do fluxo de clientes, com a busca constante de players para atrair novos segmentos de tomadores de empréstimos e criar um ambiente para impulsionar o valor de avaliação da empresa, reduzindo as despesas de aquisição de novos consumidores, o que permite negociar melhor os custos das operações e oferta.
Buscar a confiança dos parceiros e expandir a gama de produtos, aumentando as taxas de fidelização e reduzindo os custos fixos e de venda. Isso tem impacto positivo no valor do negócio de toda cadeia e dá segurança aos gestores e clientes.
Existem oportunidades para se destacar no mercado oferecendo serviços melhores e mais ágeis aos consumidores, facilitando o cadastramento, transações e apresentando produtos de crédito mais vantajosos, mas acima de tudo com acessibilidade, simplicidade e oferta.
Essa evolução impulsiona os grandes conglomerados financeiros a se reinventarem para não perderem mercado e traz benefícios a todos da cadeia, com acesso a serviços mais baratos e eficientes.
O contexto demonstra que o processo de expansão e democratização da oferta de crédito, através da acessibilidade dos novos canais, é uma tendência que deve a médio prazo transformar o segmento de serviços financeiros no Brasil.
Rodrigo Salim é diretor executivo da Wiz Parceiros, unidade de negócio do Grupo Wiz