Tradicionalmente, este segmento vem sendo muito mal atendido pelos bancos que pensam apenas em oferecer serviços como conta corrente e pagamentos, ou operações de baixo risco que envolvem cartões de crédito e cheques especiais com taxas exuberantes. O principal motivo de os bancos não oferecerem linhas de capital de giro para as micro e pequenas empresas é a falta de entendimento que os bancos têm sobre cada pequeno negócio dos seus clientes.
Diante desse cenário, as fintechs, voltadas para operações de crédito, criaram tecnologias baseadas em dados que estão substituindo o relacionamento tóxico que o empresário historicamente tem com os bancos por uma relação muito mais simples e customizada. Utilizando os dados de plataformas de pagamentos, marketplaces e ERPs que possuem o API (Interface de Programação de Aplicações) aberto, as condições de empréstimos são calculadas com base nas leituras de dados produzidos por cada empresa no dia a dia do seu negócio.
Um dos exemplos de fintechs que utilizaram esse mecanismo é a GYRA+. A empresa surgiu em 2017 e hoje conta com 40 funcionários que tem o propósito de possibilitar a ampliação dos limites de cada empreendedor para voltar à normalidade diante desse cenário caótico de pandemia. Logo de início, o foco já era voltado em oferecer capital de giro para sellers do marketplace da plataforma Mercado Livre. Nos últimos anos, a empresa ampliou seu escopo e, agora oferece crédito digital para praticamente todos os setores da economia, com destaque para o mercado de e-commerce e serviços.
Ao solicitar um empréstimo na plataforma digital, o cliente permite o acesso da plataforma a todo o seu histórico de dados (utilizado no dia a dia do negócio).
Para facilitar o entendimento, podemos pensar em uma loja de roupas que utilize a maquininha da PagSeguro no balcão, mas que também vende suas roupas no Mercado Livre e em um site com check-out da PayPal, utilizando a plataforma Conta Azul para sua contabilidade na nuvem. Durante o processo de solicitação do empréstimo, o cliente dá permissão para a plataforma ter o acesso/leitura de todos os dados de atividades da empresa em todas as 4 plataformas. Com acesso a essas informações, essa tecnologia analisa esses e a partir daí, o processo é muito rápido, os dados são analisados pelos algoritmos de IA e uma proposta de crédito individualizada é gerada para o cliente. Toda a operação, desde a solicitação até o crédito cair na conta do cliente, demora em média 24 horas.
A agilidade e a transparência no processo de aprovação têm um impacto positivo em quem prefere fazer um empréstimo dessa maneira. O assunto “crédito”, no Brasil, muitas vezes é relacionado a algo ruim ou abusivo. Em outras partes do mundo, como por exemplo nos EUA, o crédito é considerado muito mais um investimento, um importante aliado que ajudará na construção do negócio. É dessa forma que as fintechs estão tomando para si um segmento de clientes muitas vezes negligenciado pelos bancos.
Os pequenos negócios muito provavelmente foram os mais impactados pela pandemia. Um comércio normalmente tem fôlego e caixa de 3 a 4 semanas. Depois disso, precisa se financiar para manter as contas em dia. Neste contexto crítico, o pequeno empresário se viu abandonado pelos bancos e ignorado pelo governo.
Por um lado, os bancos começaram a sofrer o impacto da pandemia em suas carteiras de crédito e fecharam a torneira para melhor entender e gerir seus próprios riscos. Pelo governo veio a ajuda por intermédio de alguns programas, cujo auxílio chegou muito tarde e sem a escala necessária. Neste mesmo período, a carteira de crédito das fintechs aumentou muito. A da GYRA+, por exemplo, quadruplicou. Os volumes emprestados deram um salto, com uma procura muito forte por linhas mais longas.
No atual cenário, a atividade das fintechs é essencial. Após quase dois meses parados e um ano do primeiro lockdown adotado no Brasil, o segundo retorno do comércio é visto como um momento crucial para as pequenas e médias empresas (PMEs). Aquelas que conseguirem se financiar terão a possibilidade de continuar sobrevivendo em uma conjuntura com muitas incertezas pela frente. Para quem ficar excluído do mercado de crédito, a chance de falência é enorme.
O funcionamento desse mecanismo utilizado pelas fintechs ainda pretende avançar muito. O plano é oferecer ao cliente uma plataforma inteligente, onde a solicitação de crédito é feita por um chatbot para o preenchimento de dados e, enquanto esse processo acontece, a empresa já vai estruturando a análise de crédito em tempo real. Em poucos minutos, o empréstimo é aprovado e o dinheiro é depositado na conta digital para uso imediato.
O algoritmo também é melhorado a cada dia. Todo mês um novo modelo é implantado: assim que entram mais dados, o sistema é testado e, quando está bastante preciso, ele é colocado para rodar. Tudo isso pensado para facilitar o regresso das pequenas e microempresas no mercado.
Rodrigo Cabernite, cofundador e CEO da GYRA+.