Do privilégio da prioridade à realidade da rotação: a complexa vida útil das amizades
Há uma verdade universal que percorre a jornada humana: as amizades podem ser efêmeras, durando apenas enquanto somos prioridades na vida de alguém. Muitos de nós sentimos o peso do silêncio dos antigos amigos e nos perguntamos por que eles não nos procuram mais. Para entender melhor essa dinâmica, precisamos mergulhar nos meandros da psicologia social, do tempo e das mudanças na vida.
A Dra. Irene Levine, professora de psiquiatria na Escola de Medicina da Universidade de Nova York, aborda esse fenômeno em sua pesquisa sobre a evolução das amizades. Ela afirma: “As amizades são relacionamentos dinâmicos que requerem manutenção para sobreviver. Como as plantas, se não forem regadas e alimentadas, elas murcham e morrem.”
Assim, as mudanças na vida desempenham um papel crucial na manutenção da amizade. A medida que crescemos, as prioridades mudam. Avançamos em nossas carreiras, começamos nossas próprias famílias e, inevitavelmente, nosso tempo disponível diminui. Isso muitas vezes resulta em amizades que antes eram próximas se desvanecendo, não por falta de afeto, mas por falta de tempo.
Além disso, a Dra. Carlin Flora, autora de “Friendfluence: The Surprising Ways Friends Make Us Who We Are”, sugere que as pessoas procuram amigos que compartilhem suas circunstâncias atuais. “À medida que mudamos, nossas amizades também mudam. Isso pode significar que velhos amigos, que não se encaixam mais em nossas vidas atuais, acabam se distanciando.”
Outro estudo da Universidade de Oxford, liderado pelo professor Robin Dunbar, também mostra que as pessoas têm uma capacidade limitada para manter relacionamentos sociais íntimos. Segundo a teoria de Dunbar, o número médio de amigos íntimos que um ser humano pode ter é de cerca de cinco.
A verdade é que todas as amizades têm seu tempo e lugar. Aqueles que permanecem mesmo após grandes mudanças na vida são raros e devem ser valorizados. No entanto, é importante lembrar que o afastamento não significa necessariamente o fim. Como a Dra. Levine destaca: “As amizades podem ser retomadas se ambas as partes estiverem dispostas, mesmo após um longo período de distância.”
O desaparecimento das amizades antigas pode ser doloroso, mas é uma parte natural do ciclo da vida. Devemos valorizar os momentos que tivemos com esses amigos e estar abertos para formar novas conexões. Afinal, cada amigo que encontramos ao longo do caminho contribui para a tapeçaria vibrante e diversificada que é a nossa vida.