A pandemia intensificou as ações voluntárias no Brasil e no mundo. O exercício prático da empatia, da solidariedade, do contribuir para uma sociedade mais equânime tem feito a diferença diante do cenário desafiador causado pela crise sanitária e econômica. Segundo o Ranking Mundial de Solidariedade 2021, da organização britânica Charities Aid Foundation (CAF), com dados de 114 países, em 2020 houve um número recorde de pessoas que ajudaram um desconhecido: 55% da população mundial adulta, o equivale a mais de 3 bilhões de pessoas.
Nesta edição, o Brasil ficou em 540 lugar. Subiu 14 posições em relação a 2018 e 20 na média de posições dos últimos 10 anos. É perceptível que a pandemia despertou ou fortaleceu nas pessoas a vontade de se colocar à disposição do outro. Quem já se dedica ao trabalho voluntário, seja ele qual for, demonstra o poder que o voluntariado tem de combater a desigualdade e realizar a inclusão na sociedade, além de proporcionar alegria ao próprio voluntário.
É o caso do vendedor de Acari, na Zona Norte do Rio de Janeiro, Alan Pinheiro. No final de 2001, ele sentiu o desejo de levar comida para os moradores de rua e encontrou na sua mãe uma grande aliada. Compraram os mantimentos e prepararam 100 quentinhas que foram distribuídas para os moradores das ruas do Centro da cidade. “Quando cheguei e vi um senhor procurando algo para comer no lixo e pude oferecer uma quentinha foi muito gratificante, nunca vou esquecer”, lembra Alan.
Mesmo sem poder ajudar com a frequência que gostaria, Alan e a mãe seguiram firmes na doação das quentinhas todo final de ano por muito tempo. Mas a vontade de ajudar mais vezes o motivou a se aproximar de uma igreja que fazia um trabalho de levar comida aos moradores de rua uma vez por mês. Assim, o vendedor passou a contribuir com os alimentos, que se somavam a outros, eram preparados pelos voluntários na igreja e entregues.
A pandemia, no entanto, levou à interrupção desse trabalho. Inquieto, em dezembro do ano passado, Alan soube que outra igreja do bairro iria iniciar um projeto parecido. Não pensou duas vezes e se engajou. Nesse novo projeto, as quentinhas são entregues toda primeira segunda-feira de cada mês, nas proximidades do Ceasa (Central de Abastecimento do Rio de Janeiro) no bairro do Irajá. O dia da semana e o local escolhidos para as doações foram bem avaliados. Segundo Alan, aos finais de semana muitas pessoas fazem trabalho voluntário com moradores de rua, “é quando encontram tempo para preparar a comida e fazer as entregas, mas a fome existe todos os dias da semana”.
O local foi escolhido por não receber muitas ações de voluntariado, apesar dos muitos moradores de rua. De acordo com Alan, alguns trabalham no Ceasa e têm casa, mas não retornam durante a semana, para economizarem no transporte. “Além da comida, roupas, levamos carinho, atenção, um abraço. São pessoas muito solitárias. Acho muito importante enxergar essas pessoas que são invisíveis para a maioria. O difícil é não poder ajudar mais, isso até dói”. O vendedor também é doador de sangue há 10 anos, e há cinco passou a doar plaquetas, pois pode fazer todo mês, ao contrário do sangue, que só pode ser doado a cada três meses.
Visitas a asilos e orfanatos
Em Suzano, na Região Metropolitana de São Paulo, a Vendedora Kelly Christina Campos Lima começou como voluntária há três anos, quando participava com o marido de uma equipe de carros rebaixados. Os organizadores promoviam visitas em asilos e orfanatos e ambos começaram a participar.
Desde a primeira visita, Kelly se sentiu muito feliz e gratificada de poder levar carinho e amor às crianças e aos idosos. Mesmo após deixarem a equipe, as visitas se tornaram um compromisso semanal do casal, que revezava os seus finais de semana entre o asilo e o orfanato. No asilo, a vendedora comenta que aprende muito. “São pessoas muito solitárias, muitas foram abandonadas pela família, mas têm muito conhecimento de vida e nos ensinam muito”, diz.
Assim como aconteceu com Alan, a chegada da pandemia interrompeu as visitas. Mas Kelly e o marido já tinham assumido o voluntariado como missão de vida e se uniram a um casal de amigos na ideia de preparar caldos para doar a moradores de rua à noite.
Kelly explica que o trabalho voluntário mudou sua vida familiar, profissional e pessoal. “Hoje me sinto uma pessoa melhor, aprendi muito, vejo que normalmente damos valor a coisas que não têm valor. “Ela e o marido estão ansiosos, pois em breve poderão voltar a visitar o asilo e o orfanato, mas não querem deixar de lado o trabalho que desenvolveram com os moradores de rua.
Alan e Kelly são dois exemplos dos milhões de voluntários que existem no País e que estão ajudando a transformar a sociedade. Mesmo morando em cidades e estados diferentes e não se conhecerem, têm muitas coisas em comum, entre elas, a profissão, ambos são vendedores, trabalham na mesma empesa, a Philip Morris Brasil (PMB), e querem ajudar a quem precisa. Para eles, é isso que vale a pena na vida.