Por que as pessoas têm tanta dificuldade em realmente se distanciar do trabalho?
Quem nunca tirou as tão esperadas férias com o objetivo de relaxar após um ano exaustivo de trabalho e acabou dando aquela olhada no e-mail profissional? Ou respondeu aquela mensagem para tirar dúvida de um colega da empresa? Ou até mesmo atendeu uma ligação para tratar de algo relacionado ao emprego? Pois é, essa realidade se tornou cada vez mais comum na vida não só dos brasileiros, mas dos trabalhadores mundo afora.
A evolução tecnológica dos dispositivos eletrônicos, o aperfeiçoamento dos sinais de internet e a criação de aplicativos mudaram por completo a forma como os seres humanos se relacionam com o mundo em geral. Vivemos em um ritmo muito mais acelerado e conectado do que trinta, vinte ou mesmo dez anos atrás. De tirar fotos até fazer transações bancárias, hoje tudo já está ao alcance de nossas mãos em questão de segundos. E, por essa razão, a relação entre as pessoas e seus trabalhos também mudou.
Mas, diante dessas situações, como se distanciar do trabalho no período de férias? E por que isso é importante?
Para Jonas Duarte, sócio-fundador da Warana Treinamentos e Consultoria, esse processo passa, em primeiro lugar, pelas pessoas que ocupam os cargos de liderança, uma vez que elas são as responsáveis por esse acordo de convivência no trabalho e esse modelo mental.
“É quase impossível um liderado sair de férias se o líder não valida isso, se não acha que a pessoa tem que estar desconectada naquele momento. Então, o líder é o responsável por fazer com que as pessoas saiam, real e verdadeiramente, de férias. O gestor tem a obrigação de ter o mindset de que seu funcionário precisa estar off-line. É algo que faz parte da rotina; o sair de férias faz parte do trabalho”, aponta.
Bruno Di Gioia, sócio de Relações Laborais do PDK Advogados, concorda que o período em questão faz parte do trabalho. “É um direito garantido pela Constituição Federal (7º, inciso XVII). Trata-se de um direito indisponível – ou seja, aquele do qual a pessoa não pode abrir mão -, que tem como objetivo proporcionar descanso ao trabalhador, em atenção aos aspectos relacionados à saúde”, afirma, ressaltando que “a empresa que não respeitar o período de férias pode ser condenada a pagar indenização ao empregado”.
Repasse as tarefas e curta suas férias
Segundo Jonas, a importância em se distanciar da labuta durante esse período está muito mais ligada ao ato de recarregar e equilibrar as energias do que à questão do estresse em si gerado no restante do ano.
“Quando falamos de esportes, estressar o nosso corpo é levá-lo ao extremo; e o extremo é o ponto no qual a gente tira o melhor de cada um. Então o problema não é o estresse, mas sim como a gente recarrega a nossa energia. Se não fizermos isso, aí sim o estresse vira uma coisa ruim. Quando a gente vai para as férias, a gente tem que recarregar mentalmente, fisicamente, espiritualmente, emocionalmente”, reflete Jonas, que lembra que inclusive trata sobre esse tema na Warana, a partir do livro “Envolvimento Total”.
Mas, para além do gestor, como deve ser a mentalidade do trabalhador nessas horas? Sabendo que há sempre um certo clima de instabilidade, o que deve ser feito para aproveitar melhor o período de descanso e lazer? Jonas Duarte responde que as dicas para o trabalhador são: saber delegar suas funções para os outros antes de sair; criar sucessores que possam fazer o trabalho durante sua ausência; e entender que há um pouco de risco.
“Você tem que correr um pouco de risco e não pegar celular, não ficar vendo mensagem, e-mail… é desconectar mesmo. Você tem que ser desnecessário durante aquele período, isso é muito importante. Se você quer sempre ser alguém necessário, você nunca vai tirar férias”, conclui.