Criar uma empresa no contexto atual, de tanta imprevisibilidade e complexidade, é um grande desafio, mesmo para pessoas com perfil empreendedor. Vivemos um cenário extremamente movediço, onde as certezas de hoje podem ser as dúvidas de amanhã.
À primeira vista, iniciar um novo negócio nessas condições pode parecer loucura ou, no mínimo, um risco grande demais a se correr. Por outro lado – e sempre há um outro lado – um momento assim é tão assustador quanto oportuno aos inovadores, que encontram justamente em momentos difíceis a motivação para transformar boas ideias em produtos ou serviços que sejam úteis para o seu público-alvo e que também gerem impactos positivos para a sociedade em geral e o planeta. O perfil empreendedor está mudando bastante, muito orientado por essa nova economia.
A sociedade valoriza cada vez mais as empresas comprometidas com um plano de desenvolvimento contínuo, que saia da lógica da escassez e da mitigação de impacto negativo para a lógica do impacto positivo. Ou seja, as pessoas querem comprar, trabalhar e investir em empresas que colocam o propósito empresarial no centro do seu modelo de negócios e comprometam-se a investir continuamente em seu desenvolvimento, levando em consideração todas as partes envolvidas em seu negócio.
Note-se que o formato tradicional de Plano Estratégico permanece importante: é fundamental identificar os cenários políticos, econômicos e demográficos, elaborar uma descrição de missão e cunhar valores que serão norteadores da visão de negócio. Também se mantêm imprescindíveis a necessidade de se estabelecer um posicionamento de marca, antever suas fraquezas e pontos fortes, conhecer o clima de concorrência do segmento onde se deseja atuar, estabelecer níveis competitivos de preço e linguagem de comunicação. Tudo by the book. No entanto, a mente do empreendedor atual deve trabalhar para tratar o dilema: como mudar o mundo e ganhar dinheiro? Mas como empreender integrando ambos direcionadores: foco comercial e sustentabilidade?
Modelos de negócios tradicionais focam em fazer planejamentos detalhados da operação e focam no conhecimento profundo do mercado para a consolidação de dados que ofereçam segurança às instituições de linhas de fomento e financiamentos. Porém eles não dão conta da agilidade das mudanças de cenários e as incertezas inerentes aos mercados atuais e emergentes. Neste sentido, desde 2018 o Business Model Canvas vem se aprimorando e ganhando novas versões, tornando-se ferramentas ágeis para estruturar os principais elementos de negócio de forma rápida e profunda; testar ideias e garantir se pontos importantes para o sucesso foram cobertos e fornecem um ponto de partida para o plano de implementação.
Atualmente, um bom plano de negócio deve levar em consideração as duas dimensões dos negócios de impacto socioambiental positivo: impacto e retorno. E o empreendedor não deve ficar restrito às questões técnicas, em detrimento de outros assuntos que são relacionados à criação de uma nova empresa. Recomenda-se que una três ferramentas eficientes: o Business Model Canvas (que privilegia a cadeia de resultados), a Teoria de Mudança (que se concentra no desenho do negócio que seja compreensível, colaborativo, constante e de conteúdo vivo) e a Capacidade Organizacional (o mapeamento dos principais atores, seu nível de engajamento para realizar as principais atividades, estrutura e recursos materiais e custos para o sucesso do empreendimento).
Outra questão: Para planejar um novo negócio é preciso ter em mente questões como: quem será impactado pelo negócio? Quais são suas dores e necessidades, possíveis causas e evidências de que estão sendo atendidas? Quais serão as estratégias? Quais são os resultados qualitativos esperados? Qual é a equipe inicial, suas habilidades, competências e network necessários?
Tudo isso é fundamental para se criar uma organização que, mesmo pequena, já nasça com aspirações aderentes às cobranças da nova sociedade, que sabe, esta sim como nunca, privilegiar quem se identifique e se preocupe com o consumidor e, pior, punir sem dó quem não o faça.
Por Adriana Schneider, Especialista em Desenvolvimento Humano e Organizacional da Humanare