Juliana Gusmão, Diretora de Talent Acquisition da Nuvemshop
A vontade de ser mãe sempre permeou meus pensamentos. Quando casei, eu estava no mercado financeiro, o que significa que adentrava madrugadas trabalhando, mas, até então, isso não era um problema – eu estava satisfeita e feliz com a minha vida.
Quando, junto com meu companheiro, decidi que era o momento de aumentar a família, algo mudou. Percebi que precisaria gerenciar meu tempo de outro jeito. Então, fui buscar novos desafios profissionais, pois sabia que o mercado financeiro não estava pronto para acolher as demandas e imprevisibilidades da maternidade. Mas alguma empresa estaria?
Segundo uma pesquisa feita pelo IBGE em 2021, apenas 54,6% das mulheres com filhos pequenos estão empregadas, enquanto o número de homens empregados com filhos pequenos é de 89,2%. Afinal, nem sempre há flexibilidade e acolhimento para as mães profissionais, que ainda carregam o estigma de serem as principais ou únicas responsáveis pelos cuidados com crianças. Isso nos leva a sentir culpa e a ter pensamentos duais: ou sou mãe, ou construo uma carreira.
Eu consegui romper meu pensamento dual, pois atualmente estou em uma companhia na qual existe um olhar sensível e humano, que consegue perceber e acolher a demanda de cada funcionário e funcionária. Quando precisei ‘largar tudo’ para cuidar do meu filho, que teve uma emergência de saúde, escutei da minha gestora: “vai, cuide dele, fique o tempo que for preciso”. Isso me transformou.
Eu estava na companhia havia 6 dias, com diversas metas a cumprir; não podia, simplesmente, suspender meus compromissos, mas de que adiantaria cumprir metas, se meu filho não estivesse saudável? Fiquei 16 dias com ele no hospital e, quando retornei à rotina de trabalho, estava totalmente grata e comprometida em entregar o meu melhor.
Estou certa de que o olhar sensível transforma relações. Independentemente de gênero ou estado civil, por exemplo, líderes precisam entender que seus funcionários e funcionárias não são meros executores em busca de resultados: são seres humanos – com todas as complexidades e imprevisibilidades que essa condição carrega.
Por isso, uma empresa que deseja crescer em harmonia e alcançar bons resultados, precisa estar aberta para entender e ouvir cada pessoa do time. A escuta ativa é peça chave para uma cultura organizacional positiva, saudável e produtiva.
Hoje, e sobretudo depois da minha experiência na companhia atual, eu percebo que é possível encontrar um equilíbrio entre maternidade e carreira. Mas isso não depende só de nós, mulheres mães, e sim de toda a sociedade. É preciso ter coragem para sermos as mães e as profissionais que queremos e podemos ser.
Filhos saem do cronograma o tempo todo, e isso pode ser positivo inclusive para o bom desempenho das grandes empresas. Afinal, a imprevisibilidade e a falta de controle são inerentes à vida e, quando aceitas e bem trabalhadas, podem despertar qualidades potentes, como o bom aproveitamento do tempo e o aumento do foco e da produção.
A maternidade me trouxe coisas incríveis, entre elas, a disciplina de estar presente. Seja no trabalho, seja com meus filhos.