Conquistando espaços tradicionalmente masculinos, as mulheres mostram que pertencem a esses lugares e vieram para ficar
Por Flávia Caroni, VP LATAM de People na Kraft Heinz
As mulheres, que por muito tempo representaram apenas a parcela de cargos de entrada em empresas de todos os portes, têm conquistado cada vez mais seu lugar em posições de liderança e alta gerência. Essa movimentação no mercado vem crescendo diariamente, dado que o público feminino se mostra determinado em se especializar e preencher as vagas de maior senioridade também. Tal mudança se faz importante para ambos os lados, já que a presença feminina no mercado de trabalho garante mais equidade de gênero, maior sustentabilidade e capacidade de inovação para as empresas, além de reforçar pilares importantes de uma cultura organizacional saudável.
Em 2022, as mulheres ocupam 38% dos cargos de liderança em companhias de médio e grande porte no Brasil, segundo uma ampla pesquisa realizada pela consultoria Grand Thornton, que realiza o levantamento anualmente em companhias de médio porte espalhadas pelo mundo. O resultado brasileiro pode ser visto com bons olhos ao compararmos com a média global (32%) e da América Latina (35%), mas podemos evoluir mais.
Chama a atenção outro dado: das 250 companhias brasileiras pesquisadas, apenas 6% declararam não possuir nenhuma mulher em cargos de liderança, número que ficou abaixo das médias global (10%) e latino-americana (11%), e dos exorbitantes 57% alcançados pelo Brasil na edição de 2015 da mesma pesquisa.
É interessante apontarmos para a constante necessidade de expandirmos o número de profissionais mulheres dentro de segmentos tradicionalmente ocupados por homens, como o agronegócio e áreas relacionadas à tecnologia e ciências exatas. No caso do agro, o número de mulheres que lideram estabelecimentos agropecuários está em franca expansão, saltando de 12,7% para 18,7% entre 2006 e 2017, segundo o último Censo Agropecuário realizado pelo IBGE em 2017. No entanto, somente 19,9% do universo de profissionais formados em engenharia agronômica são mulheres, de acordo com o sistema Confea-Crea.
Durante a minha carreira, tive a oportunidade de acompanhar a evolução de mulheres incríveis, que lideraram equipes diversas e de altíssima performance, sendo, sem dúvidas, referência para minha construção de estilo de liderança. Mulheres que aprenderam como crescer em ambientes predominantemente masculinos e com a presença de sexismo estrutural consciente ou não, mas que souberam como quebrar essas barreiras e estabelecer voz e direção a suas ações dentro das empresas. Ter referências é fator crucial para o desenvolvimento de novas líderes por um caminho mais natural e menos tortuoso.
Na Kraft Heinz, construímos diariamente um ambiente em que a diversidade e a equidade de gênero possuem relevância e consistência. No Brasil, além das mulheres serem maioria no quadro de colaboradores, faço questão de dar um destaque especial, por contarmos com a liderança de duas brilhantes engenheiras agrônomas à frente das safras de milho doce e de tomate, gerenciando uma enorme operação que gera a matéria-prima de alguns dos nossos principais produtos e que vão à mesa dos brasileiros.
Para que essa transformação seja efetivamente consolidada e o crescimento de posições ocupadas por mulheres não pare por aí, além da mudança cultural vigente, é preciso haver gatilhos de apoio e incentivo por parte das companhias para que essas profissionais sejam absorvidas pelo mercado, especialmente em segmentos onde a presença delas ainda está começando a crescer.