Vivemos uma série de mudanças nas formas de trabalho: há alguns anos, muitos conceitos estão em movimento, ações foram repensadas, assuntos diversos ganharam espaço no dia a dia organizacional e, hoje, já não conseguimos pensar que mudanças precisam de anos para acontecer.
No ambiente jurídico, o foco sempre foi o aumento e a manutenção do conhecimento teórico. Na busca diária pelo melhor atendimento às demandas do cliente, as estruturas dos escritórios foram pensadas e criadas para a facilitação quase que exclusiva do crescimento técnico, afinal, a busca dos clientes é por um auxílio jurídico especializado.
Além disso, sabemos que diversas crenças no meio corporativo como um todo, reforçam o trabalho árduo, as agendas lotadas e a rotina desafiadora como algo inerente ao sucesso.
No caso da advocacia, a natureza litigiosa da profissão, aumenta a potência de algumas destas crenças e da necessidade de o advogado estar sempre intermediando conflitos. O fato de as entregas serem envoltas em prazos, também, sempre incentivaram a capacidade de aguentar a pressão do dia a dia como parte do ônus do Direito.
Mas o que vem mudando?
Na linha de aplicar mudanças em curto espaço de tempo, a pandemia chegou há mais de um ano, e a primeira necessidade de adaptação foi transformar o dia a dia de escritório em um modelo de trabalho remoto, hoje sem previsões de acabar. Mudanças tecnológicas, que já eram previstas, foram aceleradas, e mesmo as que nem haviam sido discutidas antes foram implementadas. Neste processo, a adaptação às necessidades do momento decretou: será necessário acrescentar ao olhar técnico, projetos de gestão organizacional e o olhar dedicado a pessoas.
Foi um exercício deste último ano repensar alguns conceitos chaves para o mundo corporativo, como, por exemplo, o que entendemos por performance? Além do tempo e quantidade de trabalho, será que “performar” bem também é construir um plano estratégico para que as metas sejam alcançadas de forma sustentável, particular ou coletiva? Qual o conceito de disponibilidade? Presença física ou escuta atenta? E o dress code? Cabe no mundo jurídico alguma flexibilidade que abrace as diferentes formas de ser?
Entendemos que chegaríamos mais próximos às mudanças do mundo corporativo – e consequentemente das visões dos clientes em relação ao que esperam do serviço da advocacia – se conseguíssemos responder às perguntas acima sempre com a segunda opção: implementando um projeto inovador, ressaltando temas que gostaríamos que fossem prioridades e traçando medidas e datas para que elas sejam tomadas.
Para além disso, tivemos que refletir sobre nossas responsabilidades com o todo, avaliar as situações caso a caso e, com isso, exercitar a aceitação e adaptação quase que de forma obrigatória. Junto a isso, o desafio de separar ambientes, acumular tarefas e manter a produção de trabalho com qualidade aconteceu e, então, como instituição, devemos nos tornar também agentes de mudança, e precisamos encarar a necessidade de criar um espaço que seja capaz de acolher os sentimentos, os medos, as vulnerabilidades e o cansaço que vieram junto com a situação trágica de viver uma pandemia. O trabalho foi intenso para as áreas de recursos humanos dos escritórios de advocacia.
E, embora o mundo já venha criando formas de trabalho diferentes, e continuará suas mudanças após o cenário pandêmico, humanizar as relações de trabalho e com o trabalho é o nosso maior ganho neste momento, em meio a tanta perda de contato humano.
Hoje, o que vendemos é conhecimento, e quem o produz é nosso maior ativo!
Por Marina Toledo, responsável pelo RH do escritório especializado em direito tributário, schneider, pugliese