Ao contrário do que se imagina, o fato de um colaborador ter acesso ao saldo disponível não significa que ele o utilizará integralmente.
Por Mafalda Barros, cofundadora e COO da Quansa
Imagine um mundo onde as empresas não só remuneram seus colaboradores, mas também desempenham um papel ativo em evitar o endividamento pessoal deles. Esta não é uma visão utópica, mas uma possibilidade concreta que pode transformar a realidade financeira de muitos brasileiros. Em vez de simplesmente fornecer educação financeira, as empresas podem adotar práticas inovadoras que impactam diretamente o bem-estar econômico de seus colaboradores.
A recente pesquisa da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) traz uma luz no fim do túnel: pela primeira vez em quatro anos, o endividamento das famílias brasileiras diminuiu, ainda que modestamente, 0,1 ponto percentual em 2023. No entanto, a persistência de um índice elevado, de 77,8%, indica que muitas famílias ainda enfrentam dificuldades financeiras.
Mas evitar o endividamento é um caminho que não se trilha sozinho. Dados do Novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) mostram que 1,48 milhão de pessoas tiveram sua carteira assinada no mesmo período (2023). A questão que surge é: por que, apesar de uma renda fixa, tantas famílias continuam endividadas? E como as empresas, com sua responsabilidade social corporativa (ESG), podem ajudar seus próprios colaboradores a evitar esse ciclo de dívida?
Uma resposta inovadora pode estar na adoção do Salário Sob Demanda. Este conceito, que já em prática na Europa e nos EUA, permite que os colaboradores acessem seus salários à medida que trabalham, sem ter que esperar pelo tradicional quinto dia útil do mês. Essa flexibilidade pode ser importante para evitar o uso de crédito rotativo e empréstimos com altas taxas de juros, prevenindo assim o endividamento. Empreendedores autônomos, motoristas de aplicativo e comerciantes informais já operam com uma dinâmica de fluxo de caixa mais ágil, recebendo seus ganhos quase que imediatamente. Este modelo oferece um suporte financeiro contínuo, reduzindo a necessidade de recorrer a crédito de emergência.
Estudos, como o realizado pela Quansa, mostram que a antecipação salarial pode economizar milhões em juros e evitar créditos predatórios. Em 2023, os usuários dessa plataforma aqui no Brasil economizaram mais de R$2,6 milhões. Esse modelo não só ajuda a resolver crises financeiras inesperadas – como emergências médicas ou despesas imprevistas – mas também ensina, na prática, a gestão financeira responsável.
Além de oferecer maior controle financeiro e segurança, o levantamento da Quansa, uma empresa que oferece a solução de salário sob demanda, revela como o benefício é utilizado na prática pelos colaboradores. Contrariando certos mitos, o dinheiro é utilizado, majoritariamente, para despesas básicas e essenciais, sendo 29% deles para contas da casa, 22% para situações emergenciais e alimentação, 11% para despesas pessoais e 8% para cartão de crédito.
Ao contrário do que se imagina, o fato de um colaborador ter acesso ao saldo disponível não significa que ele o utilizará integralmente. Isso é evidenciado pelos resultados da pesquisa , que mostram que os colaboradores usaram, em média, apenas 71% do saldo disponível na plataforma, e apenas 45% deles utilizaram o saldo total. Já 84% dos usuários consideram o benefício muito útil para lidar com imprevistos financeiros.
Então, onde entram as empresas e os departamentos de Recursos Humanos? Elas têm o poder de implementar o Salário Sob Demanda como um benefício, dando aos colaboradores o controle sobre quando e como acessar seus próprios ganhos. Isso não só diminui o estresse financeiro dos colaboradores, como também melhora sua produtividade e bem-estar emocional.
A adoção desta prática pode resultar em um cenário de menor endividamento a nível nacional e, para as empresas, significa contar com colaboradores mais tranquilos e focados. O RH pode liderar essa mudança, promovendo um ambiente de trabalho onde a saúde financeira é tão valorizada quanto a saúde física e mental.