Pesquisa revela que 63% dos trabalhadores enfrentam ansiedade no dia a dia.
O Setembro Amarelo, campanha anual voltada para a prevenção ao suicídio, abre uma janela importante para discutir a saúde mental dentro das empresas. A necessidade de atenção para o bem-estar emocional dos colaboradores é crítica, especialmente em um cenário onde o estresse e a pressão no ambiente corporativo têm levado ao aumento de casos de doenças como a síndrome de Burnout, já reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como um fenômeno ocupacional.
De acordo com a Pesquisa Check-up de Bem-estar 2023, conduzida pela Vidalink, 63% dos trabalhadores brasileiros relatam sentir ansiedade ou angústia na maioria dos dias. Esse dado acende um alerta para a liderança empresarial, reforçando a importância de ações consistentes voltadas para a saúde mental dos colaboradores. Além de combater o estigma, é fundamental que as empresas implementem medidas práticas que vão além das discussões superficiais, promovendo mudanças que efetivamente melhorem a qualidade de vida no trabalho.
Luis González, CEO e cofundador da Vidalink, destaca que “muitas pessoas que enfrentam transtornos mentais, como depressão ou ansiedade, não recebem o diagnóstico ou tratamento adequado. A responsabilidade das empresas está em criar um ambiente onde os colaboradores se sintam seguros para expressar suas vulnerabilidades”.
A introdução da Lei 14.831, que institui o Certificado Empresa Promotora de Saúde Mental, reflete um avanço no compromisso legislativo com a saúde mental no ambiente corporativo. No entanto, González ressalta que o impacto real dependerá da implementação prática e do comprometimento das empresas em adequar suas políticas de saúde mental às demandas modernas do ambiente de trabalho.
1. Promover o diálogo e a cultura de apoio
A criação de um ambiente de trabalho que favoreça o diálogo sobre questões de saúde mental é fundamental. Muitas vezes, colaboradores não se sentem à vontade para expressar suas dificuldades emocionais por medo de retaliação ou julgamento. Para reverter esse cenário, a cultura organizacional precisa ser centrada no bem-estar, permitindo que os colaboradores compartilhem seus desafios de forma segura.
Pesquisas globais apontam que locais de trabalho que incentivam o diálogo aberto sobre saúde mental registram uma maior retenção de talentos e uma diminuição nos casos de burnout. Além disso, é importante proporcionar canais confidenciais para apoio, seja por meio de plataformas digitais ou por encontros presenciais, garantindo que os profissionais se sintam ouvidos e acolhidos.
2. Capacitação de líderes para reconhecer sinais de alerta
Os líderes desempenham um papel crucial na identificação de mudanças de comportamento entre os membros da equipe. Programas de treinamento que capacitem gestores para reconhecer sinais de estresse, ansiedade e outros problemas de saúde mental são essenciais para o sucesso das políticas de bem-estar.
A pesquisa da Deloitte de 2022 mostra que 61% dos trabalhadores afirmam que a empatia de seus líderes em relação a questões de saúde mental influencia diretamente sua decisão de permanecer na empresa. A capacitação não apenas beneficia os colaboradores, mas também permite que as lideranças adaptem programas de benefícios às necessidades específicas dos profissionais.
3. Benefícios para o cuidado da saúde mental
A preocupação com a saúde mental precisa ser traduzida em benefícios concretos. Programas que ofereçam acesso a acompanhamento psicológico e subsídio de medicamentos são fundamentais. Um estudo da World Economic Forum aponta que empresas que investem em saúde mental observam um retorno de até 4 dólares para cada 1 dólar investido, principalmente por meio da redução de afastamentos e do aumento da produtividade.
No Brasil, a Vidalink registrou um aumento de 12% no uso de antidepressivos entre trabalhadores no primeiro semestre de 2024, em comparação com o mesmo período de 2023. Esse crescimento reflete tanto o maior investimento das empresas em saúde mental quanto a necessidade urgente de cuidado entre os colaboradores.
4. Flexibilidade no trabalho como aliada do bem-estar
A flexibilidade no ambiente de trabalho tem se mostrado uma das principais demandas dos profissionais para equilibrar suas responsabilidades com o autocuidado. Políticas que permitem ajustes no horário de trabalho, jornadas híbridas e períodos de folga para consultas médicas são importantes para que o colaborador cuide de sua saúde mental.
Um estudo da Harvard Business Review indica que trabalhadores que possuem flexibilidade em suas rotinas apresentam níveis 55% menores de estresse e maior satisfação no trabalho. Empresas que implementam essas políticas conseguem reduzir significativamente o absenteísmo e melhorar a moral da equipe.
5. Treinamento em primeiros socorros para saúde mental
A capacitação dos colaboradores para reconhecer e apoiar colegas em situações de crise emocional é outra medida crucial. Programas de primeiros socorros em saúde mental têm sido cada vez mais implementados por empresas ao redor do mundo. Esses treinamentos ensinam os colaboradores a identificar sinais de sofrimento emocional, promover escuta ativa e encaminhar o colega para o suporte necessário.
Estudos realizados no Reino Unido mostraram que trabalhadores treinados em primeiros socorros em saúde mental conseguem intervir em situações de crise com mais confiança e eficiência, o que pode reduzir a gravidade dos casos. Além disso, esse tipo de programa ajuda a criar um ambiente mais acolhedor e empático.
O papel da empresa na promoção da saúde mental
O Setembro Amarelo é um importante marco para intensificar as discussões sobre saúde mental, mas o compromisso das empresas com o bem-estar dos colaboradores deve ser contínuo. A pesquisa de 2023 da American Psychological Association (APA) revelou que 79% dos trabalhadores que receberam apoio de suas empresas para lidar com questões de saúde mental sentiram-se mais valorizados e demonstraram maior lealdade à organização.
Como observa Luis González, “o RH tem a responsabilidade de ser o guardião do bem-estar dos colaboradores, e isso pode, literalmente, salvar vidas”. A liderança empresarial precisa entender que, ao investir em saúde mental, está não apenas melhorando a vida dos colaboradores, mas também fortalecendo o próprio negócio.
A criação de ambientes que priorizem o bem-estar, o diálogo aberto e a capacitação de líderes e colaboradores são os pilares para uma gestão eficaz da saúde mental nas empresas. Este é um desafio que, embora complexo, pode transformar a cultura corporativa e trazer benefícios duradouros para todos os envolvidos.