Ter líderes sensibilizados e que entendem a real importância do bem-estar dos profissionais é essencial
Paula Gallo – chief human resources officer da Conexa, maior player de saúde mental da América Latina
Não há mais espaço para os padrões de liderança focados em comando e controle. O mercado hoje é alinhado com uma atuação horizontal, que olhe integralmente para o tripé de saúde (social, mental e física) do colaborador. A pandemia evidenciou que softskills como escuta ativa, empatia e zelo pelo bem-estar são valores que as empresas devem preservar para que o colaborador trabalhe com qualidade de vida, sem risco à saúde mental ou à tão temida síndrome de burnout. E o começo do ano é uma excelente oportunidade para que médias e altas lideranças definam as políticas de saúde integral de suas empresas, contemplando a transversalidade.
Uma pesquisa realizada pela Deloitte, com 1.050 C-level, em fevereiro de 2022, mostrou que 68% da alta liderança admite que não está tomando medidas suficientes para proteger a saúde dos funcionários e das partes interessadas. Outro dado relevante da pesquisa destaca que apenas 56% dos funcionários entrevistados acreditam que os executivos de sua empresa se preocupam com seu bem-estar.
Para mudar essa percepção é necessário mobilizar as lideranças como embaixadores do bem-estar para que possam dar o exemplo e se tornem disseminadores da pauta para os times. Nesse contexto, não são apenas os profissionais de gente e cultura que devem se envolver. O C-level precisa estar genuinamente preocupado com o bem-estar corporativo e tomar atitudes para promover as mudanças necessárias, sobretudo em momentos de crise ou quando a empresa passa por mudanças, como crescimento rápido, por exemplo.
Na Conexa, encerramos no final de 2022 a primeira fase da implantação do programa Bem-Estar no Trabalho Importa (BETI) com nossas lideranças. O objetivo foi treiná-los na escuta ativa e na adoção de ações de cuidado, suporte, prevenção e promoção da saúde de forma contínua, para nossas equipes que estão trabalhando espalhadas pelo Brasil e América Latina. A jornada de sensibilização da liderança, iniciada em agosto, mantém 20% da agenda do C-level voltada para o bem-estar e contou com 100% de adesão de 60 líderes de áreas.
Realizamos encontros mensais com um especialista em desenvolvimento humano e organizacional, dos quais eu também participei, focando nas competências mentais e emocionais. Os encontros começaram com a premissa do reforço da confiança, e pudemos deixar de lado nossas armaduras e expor nossas fragilidades. Isso nos aproximou e deu a confiança de que somos humanos e podemos errar, já que ninguém é super-herói. Os próximos encontros foram desenhados de acordo com as percepções, adesão e inputs que nós, líderes, estávamos trazendo.
A frase que mais ouvi das pessoas que participaram quando encerramos foi: “eu me sinto transformado” e, no final de cada treinamento, era nítida a mudança de mindset de todos da liderança, assim como a minha, que passei a ter mais confiança na minha intuição, e a não me sentir insegura. Toda essa jornada nos deixou ‘desnudados’, nos permitiu olhar para dentro, ver nossas equipes de maneira mais humanizada e nos deu entendimento da importância do cuidado real com as pessoas.
Como próximos passos, as lideranças têm como meta para 2023 disseminar o conhecimento aprendido ano passado. Estamos desenhando jornadas de cultura focadas na comunicação autêntica e em habilidades de negociação (feedbacks, gerenciamento de conflitos, modelos de influência e persuasão). Cada liderança trabalhará na potencialização individual e da equipe; sempre pronta para cuidar da saúde mental dos times e fazer a adequada gestão do estresse, de forma a impactar diretamente o bem-estar dos profissionais.
Ter líderes sensibilizados e que entendem a real importância do bem-estar dos profissionais é essencial. Quando trabalhamos com pessoas, lidamos não apenas com a função exercida por ela, mas também com a extensão da sua vida pessoal, incluindo sua saúde mental e física. É nosso papel, como profissionais de RH, manter essa chama acesa e engajar a liderança em busca dessa transformação. Mas, reforço, essa não é uma pauta exclusiva do RH, ela pode ser abordada por qualquer colaborador. E você, tem refletido sobre isso? Está preparado para acolher essa necessidade na sua empresa?