A tecnologia tem contribuído para que possamos aumentar a eficácia e eficiência dos processos e dar mais atenção ao que realmente nos interessa
Tiago Hayashida, Gerente Executivo de Gestão e Pessoas, na Câmara de Comercialização de Energia Elétrica – CCEE
Os seres humanos vivem uma relação paradoxal com a tecnologia. Por um lado, sonhamos com um futuro de artefatos e técnicas que melhorem nosso dia a dia, agilizem nossa forma de trabalhar e até mesmo prolonguem nossa expectativa de vida a parâmetros antes inimagináveis. Realidade aumentada para games e projetos arquitetônicos, espaços virtuais de trabalho colaborativo e reconstrução de tecidos biológicos por meio da engenharia genética são alguns exemplos de sonhos já materializados e em franca expansão.
Ao mesmo tempo, tememos perder espaço no mercado de trabalho e nos tornarmos obsoletos frente à evolução da chamada inteligência artificial. Tememos ser substituídos por robôs. Não por aquele do tipo “Exterminador do Futuro”, mas por aquele do filme Ela, de Spike Jonze, no qual o protagonista, vivido por Joaquin Phoenix, se apaixona pela forma de IA que conta com a voz da magnífica Scarlett Johansson.
Temos uma grande discussão na mesa, porém muito se fala e pouco se aprofunda no tema. Os pessimistas pregam que ferramentas como o ChatGPT vão impactar o trabalho e o potencial criativo das pessoas de forma irreversível. Que teremos, em breve, uma grande classe de profissionais inúteis, que não terão mais espaço no mercado de trabalho, e uma pequena elite detentora das ferramentas que substituirão os humanos. Será que essa é a triste realidade que se avizinha?
Bem, não é uma resposta fácil, mas eu acredito que a história nos mostra que a genialidade humana sempre nos direcionou para o caminho do aprendizado e da adaptação. Mais do que isso: tudo que temos à nossa disposição atualmente, em tecnologia, ainda está muito longe de replicar toda a complexidade e a nuance do cérebro humano. Até então, as ferramentas tecnológicas aparecem com grande potencial de inteligência, aqui considerada a capacidade de resolver problemas, mas ainda sem consciência, que é a capacidade de sentir. Máquinas não sentem medo, nojo, raiva, surpresa, felicidade ou tristeza.
Na área de gestão de pessoas, as ferramentas têm nos ajudado de diversas formas: de chatbots para tratar o primeiro nível dos atendimentos burocráticos a triagem de candidatos com referência no fit cultural das organizações. A tecnologia tem contribuído para que possamos aumentar a eficácia e eficiência dos processos e dar mais atenção ao que realmente nos interessa: olhar mais para o desenvolvimento de habilidades humanas, que, se somadas à tecnologia disponível, tornam as equipes e a organização muito mais fortes.
Essa é a direção para a qual o mundo caminha, como mostrou o relatório O Futuro dos Empregos, edição 2023, divulgado recentemente pelo Fórum Econômico Mundial, que analisa como as tendências socioeconômicas e tecnológicas moldarão o local de trabalho nos próximos cinco anos. O estudo ouviu mais de 800 empresas de diferentes setores e que juntas empregam mais de 11,3 milhões de pessoas em vários países. Mais de 40% delas acreditam que seus negócios serão automatizados até 2027, especialmente quando se trata de informações e tratamento de dados.
A inteligência artificial deve ser adotada por quase 75% das companhias pesquisadas e metade delas acredita que esse cenário deve gerar mais empregos. No Brasil, especificamente, 44% das empresas disseram que o desenvolvimento de aplicativos e de outras plataformas digitais deve criar mais postos de trabalho. E quando perguntadas sobre o impacto do uso de Big Data, o índice subiu para 51%.
As empresas também dizem que habilidades cognitivas estão ganhando cada vez mais importância. A tendência é dar mais oportunidade para as mentes criativas, curiosas, pessoas ágeis, flexíveis e resilientes.
Obviamente, precisamos nos atentar para a reestruturação do mercado de trabalho, o que é natural e que exigirá adaptação das pessoas para as novas ocupações. Nesse sentido, a educação continuará exercendo papel fundamental no processo de preparação e para isso, a esfera pública, as instituições de ensino e as lideranças empresariais precisarão fazer uma força-tarefa a fim de criar meios que possam gerar mais oportunidades de aprendizado e treinamento para quem já está no mercado de trabalho e também para preparar melhor as novas gerações.
Sem dúvidas, nós devemos ter um olhar cuidadoso para esse assunto, mas sem deixar que o medo do desconhecido crie barreiras que nos impeçam de ter à mão ferramentas que são capazes de mudar a nossa vida no trabalho ou fora dele para melhor. E, definitivamente, é essencial que os avanços tecnológicos venham acompanhados de regulamentação adequada para garantir a segurança de todos. O equilíbrio segue sendo a premissa básica para aproveitarmos todos os benefícios que o futuro nos reserva e a capacidade humana de compreensão, criatividade e intuição continua sendo habilidade insubstituível.