Saúde emocional e esporte: Lições do pré-olímpico de vôlei e mundial de ginástica artística
Marcela Marrocos – CMO na Telavita, startup de saúde mental
A semana passada foi repleta de desafios para o maior expoente da saúde do corpo: o esporte. O Brasil sediou o Pré-olímpico de Vôlei Masculino, enquanto Antuérpia foi palco do Mundial de Ginástica Artística. Nesse contexto, a saúde emocional se mostrou o grande treinador e comandante de tudo.
Mas por quê? Afinal, a saúde física é essencial para um bom desempenho esportivo, certo? Porém, aprendemos nesta semana que a saúde do corpo não vale de nada no esporte se a mente não estiver equilibrada – e os dois se influenciam mutuamente.
Na incrível ginástica artística, Simone Biles é a maior representante atual desse esporte no mundo. A atleta americana interrompeu sua participação no meio de uma olimpíada para cuidar de sua saúde mental. Seu corpo estava preparado, mas sua mente não. Após essa pausa, ela voltou e conquistou cinco medalhas na primeira competição após o intervalo.
Já a brasileira Rebecca Andrade voa graciosamente, comprometida com seus desafios pessoais. Ela pronunciou uma das frases mais significativas da competição: “Sinto-me honrada em representar minha equipe e tantas pessoas, e vou defender essa honra com determinação. No entanto, não sou responsável pelas expectativas que as pessoas depositam em mim. Sou responsável por trabalhar e dar o meu melhor”.
Outro destaque do time brasileiro, Flavinha passou por uma cirurgia no pé há um ano. Ela se recuperou tanto fisicamente quanto mentalmente. Mesmo após machucar o pé na classificatória do solo e cair na apresentação das barras assimétricas, enfrentou os desafios com um sorriso, passou pelas entrevistas com tranquilidade e consciência. E, agora, conquistou sua primeira medalha em um mundial.
Pela primeira vez na história, a equipe brasileira de ginástica artística participou de uma Olimpíada como grupo e conquistou uma medalha inédita. As lições de positividade, autoconhecimento e coragem dessas mulheres são incontáveis. Para coroar tamanha clareza, esse foi o primeiro pódio composto por três atletas negras, que reforçam a importância da representatividade.
No vôlei masculino, testemunhamos que é preciso superar desafios para se apresentar novamente. Conseguimos a vaga para as Olimpíadas em uma emocionante vitória por 3×2 contra a poderosa Itália. Por que contra eles? Porque ninguém esperava que a Alemanha se destacasse como fez. Eles tinham uma mistura de jogadores experientes e outros menos experientes, além de um técnico estrangeiro.
George Grozer, apelidado de “o velhinho do vôlei”, saiu da aposentadoria para tentar conquistar mais medalhas nas Olimpíadas, e sua performance foi crucial para o sucesso da Alemanha. Ele marcou incríveis 27 pontos apenas no jogo contra o Brasil, com 22 deles provenientes de ataques que ultrapassaram os 100 km/h. O “velhinho” jogou todas as partidas sem sequer sentar e sempre exibiu um sorriso radiante. Os jogadores alemães nunca pareceram tão à vontade e confiantes. O estereótipo da idade foi desafiado!
Do nosso lado, tínhamos Darlan. A combinação de jogadores experientes e jovens não era novidade em nossa seleção, mas Darlan quase não participou deste campeonato. Chamado de última hora após uma desistência, ele não se intimidou, nem mesmo quando cometia erros. Ele retirou o peso da responsabilidade de seus ombros, mas não do seu comprometimento. Assim, se tornou o símbolo desta conquista árdua e sorriu o tempo todo, demonstrando felicidade e comprometimento.
Ao final do campeonato, Renan Dal Zotto, o técnico, anunciou que estava se afastando para cuidar de sua saúde mental e física. Na minha visão, ele não desistiu; na verdade, saiu vitorioso por compreender até que ponto pode ir sem comprometer seu bem mais valioso: sua qualidade de vida.
Embora não goste muito de comparar esportes com o mundo corporativo, pois ambos têm comprometimentos e entregas que se originam em lugares muito distintos em nosso ser, mas é possível fazer algumas analogias com essas histórias. Ficou muito claro para mim nesta semana a importância da clareza, foco, resiliência, representação e liderança independentemente do cargo.
O estigma da idade foi desafiado, e a felicidade e leveza se destacaram como ensinamentos valiosos. Acima de tudo, fica evidente que, sem saúde emocional, nada do que foi mencionado acima funciona. Precisamos superar os preconceitos contra a saúde mental no mundo corporativo. Todos somos humanos e, como tal, estamos sujeitos às nossas próprias mentes.