Por Lucia Madeira, presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos do Rio de Janeiro (ABRH-RJ)
Ser um estadista significa exercer a liderança pensando na sociedade como um todo e ter visão de futuro para além da sua gestão. Numa empresa não é diferente. É papel da liderança trazer essa visão de mundo mais ampla, criar consciência comunitária e entender como se dá a inserção da empresa na sociedade e como isso se reflete na estratégia da organização.
Isso se tornou mais importante ainda com os compromissos das empresas com o ESG, responsabilidade ambiental, social e de governança corporativa, que refletem como as empresas estão preparadas para lidar com as crises e impactos socioambientais. Organizações que aplicam esses princípios nos negócios são mais valorizadas pelo mercado e investidores e têm tido melhores resultados.
Com o ambiente de mudanças e incertezas, que traz desafios crescentes para os gestores, cada vez mais as organizações precisam de lideranças capazes de ter uma visão ampla da sociedade e traduzir estas referências, transpondo-as para a estratégia da empresa. Pessoas abertas a aprender, que busquem informações e análises sobre as macrotendências e que tenham um olhar além do momento, para equilibrar ações de impacto imediato, com os objetivos de longo prazo. Gestores que pensem na geração do lucro qualitativo, ao longo do tempo, e não só nos lucros quantitativos.
Por outro lado, o líder-estadista deve cuidar também da comunidade onde a empresa estiver inserida, promovendo a melhoria e apoiando entidades e programas locais. Isso exige a articulação entre instituições e a formação de redes colaborativas que visem o desenvolvimento da região.
Esta deve ser uma liderança voltada para as pessoas, construindo relacionamentos e proximidade e sempre aberta ao diálogo e à negociação. Também deve promover a diversidade nos seus quadros, contemplando o arco da sociedade que representa seus colaboradores e clientes.
É uma liderança que busca a essência da organização e serve de exemplo de conduta ética, criando valores compartilhados e zelando pela integridade do negócio, mas que consiga promover a mudança na cultura empresarial, quando necessária, para fazer frente aos desafios que irão surgir.
Esses múltiplos papeis, constroem um estilo de liderança adequado aos novos tempos e que se reflete nas práticas de gestão e mexe nas estruturas de poder, dentro e fora das organizações.
O modelo de autoridade vem se transformando, impactado pela rapidez das mudanças. Mais que nunca, os processos gerenciais e de liderança dependem de importantes considerações éticas e políticas e sua impropriedade pode resultar em significativos custos pessoais e organizacionais.
Se o uso do poder propicia o maior bem para o maior número de pessoas, então a liderança, segundo a perspectiva utilitarista, está sendo exercida de maneira apropriada.
Uma segunda perspectiva, derivada da teoria dos direitos morais, considera que o poder é utilizado adequadamente apenas quando nenhum direito nem liberdades pessoais são sacrificadas. Os gestores precisam, portanto, respeitar os direitos e os interesses da minoria, bem como procurar o bem-estar da maioria.
Uma terceira perspectiva, deduzida das teorias de justiça social, sugere que mesmo o respeito aos direitos de todos numa organização pode não ser o bastante. Segundo esse ponto de vista, os detentores de poder também precisam responder por efeitos causados no longo prazo.
O líder estadista não é o que exerce poder segundo suas próprias convicções e buscando resultados imediatos, mas o que governa ouvindo a sociedade e pensando na continuidade de sua empresa e no desenvolvimento da comunidade onde está inserida.
Isso vale para uma organização, uma cidade, um país.
Este assunto também será abordado pelo especialista em gestão, estratégia e liderança, Oscar Motomura, no Congresso RHRio 2022, nos dias 21 e 22 de junho, sobre como desenvolver líderes-estadistas.