Em 2021, no Brasil, foram comunicados 571,8 mil acidentes e 2.487 óbitos associados ao trabalho, crescimento de 30% em relação a 2020, segundo dados atualizados do Observatório de Segurança e Saúde no Trabalho, desenvolvido e mantido pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) em cooperação com a Organização Internacional do Trabalho (OIT).
Entre as partes do corpo mais atingidas, estão dedos, com 110.001 ocorrências (24% do total de acidentes) e mãos (exceto punhos ou dedos), com 31.246 casos (7%).
“Praticamente todas as atividades envolvem as mãos, então, são as principais partes do corpo que acabam sofrendo traumatismos, com complexas consequências”, fala o presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia da Mão (SBCM), Samuel Ribak. “A mão é composta por diversas estruturas, que envolvem partes moles, estruturas vasculares, nervosas, tendinosas e ósseas, por isso, qualquer lesão na mão, por mais simples que seja, resulta em grande incapacidade funcional que pode limitar o trabalhador, de maneira temporária ou permanente, nas atividades básicas do dia a dia, prejudicando de forma significativa sua qualidade de vida”, completa.
Cansaço, falta de conhecimento do uso correto de máquinas e ausência de equipamentos de proteção individual estão entre as principais causas de acidentes.
Outra situação que implica em maior risco é o trabalho informal. A taxa de informalidade ficou em 40,1% da população ocupada, totalizando 38,2 milhões, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), divulgados no fim de abril. “O trabalhador informal está mais vulnerável à acidentes, uma vez que muitos deles manuseiam equipamentos perigosos de maneira equivocada, além de desenvolverem suas atividades sem os itens básicos de segurança”, salienta Ribak, ressaltando que, nesta modalidade, entre os ofícios mais expostos estão pedreiros e marceneiros, em função do uso de máquinas de corte manuais.
O especialista em cirurgia da mão lembra que o impacto dos acidentes de trabalho com lesões nas mãos é apontado em vários estudos devido à gravidade e a alta incidência, e por causarem graves prejuízos psicológicos, sociais e econômicos. “O trauma da mão é uma das emergências mais frequentes nas salas de pronto atendimento dos hospitais e centros de menor complexidade. Uma lesão com alto grau de gravidade envolve custos diretos, que incluem consultas, cirurgias, hospitalizações, acompanhamento ambulatorial e reabilitação, além dos custos indiretos, como indenizações, benefícios e pensões por afastamento temporário ou permanente”.
Estimativas da OIT apontam que acidentes de trabalho causam a perda aproximada de 4% do Produto Interno Bruto (PIB) global a cada ano. No caso do Brasil, esse percentual corresponde a aproximadamente R$ 350 bilhões anuais, se considerado o PIB brasileiro de 2021, de R$ 8,7 trilhões.
O presidente da SBCM frisa a importância de que as empresas e órgãos ligados ao trabalho atuem com ações que promovam a segurança do trabalhador e prevenção de acidentes, além da conscientização de que cada um faça sua parte para um trabalho seguro. “A questão é um problema de saúde pública, por isso, cada vez mais é preciso atuar com iniciativas de prevenção para melhorar a qualidade da atenção à população trabalhadora”, conclui.