Como lideranças conscientes e políticas inclusivas podem transformar o mercado de trabalho brasileiro.
Promover a equidade racial nas empresas não é apenas uma questão ética, mas uma necessidade urgente para superar barreiras históricas que perpetuam a exclusão de pessoas negras em posições de destaque. Segundo as psicólogas e professoras universitárias Dalila Bordignon e Manueli Tomasi, do FSG – Centro Universitário da Serra Gaúcha, o caminho para essa transformação passa por ações práticas e estruturadas.
A desigualdade racial no mercado de trabalho brasileiro reflete um sistema social estruturado no racismo e na hegemonia branca. Apesar de 56% da população brasileira se autodeclarar negra, essas pessoas continuam sub-representadas em cargos de liderança e nas funções mais bem remuneradas. Para romper com esse ciclo, as especialistas destacam que é fundamental que as empresas reconheçam seus privilégios e implementem medidas efetivas.
Conscientização e liderança engajada
O ponto de partida, de acordo com Dalila e Manueli, é a conscientização das lideranças empresariais. “Consumidores e trabalhadores estão cada vez mais atentos às práticas corporativas, e as organizações precisam alinhar seus discursos às suas ações”, afirmam. A adoção de políticas de equidade racial e diversidade, além de ser uma demanda social, também impacta positivamente na inovação, criatividade e retenção de talentos.
Ações práticas para a inclusão
Entre as medidas propostas, destacam-se:
- Censo interno: Mapear o perfil dos colaboradores para identificar gaps de representatividade.
- Metas de inclusão: Estabelecer percentuais mínimos de pessoas negras em cargos de liderança.
- Mentorias e grupos de afinidade: Capacitar e dar suporte aos profissionais negros dentro das organizações.
- Contratações afirmativas: Implementar processos seletivos que priorizem a diversidade racial.
- Treinamentos específicos: Oferecer capacitações sobre racismo, microagressões e vieses inconscientes.
Além disso, as especialistas recomendam a revisão de políticas corporativas, incluindo a criação de canais de denúncia para casos de discriminação, alocação de orçamento para ações inclusivas e ajustes nos processos de comunicação e cadeia de suprimentos.
Políticas contínuas e estruturadas
Com a celebração do Dia da Consciência Negra, em 20 de novembro, agora oficialmente feriado nacional, as psicólogas alertam para o perigo de limitar ações de inclusão a datas específicas. “Palestras e eventos pontuais são importantes, mas precisam estar inseridos em uma estratégia mais ampla e contínua”, explicam.
Romper com o pacto da branquitude
Para que mudanças reais aconteçam, é essencial romper com o “pacto da branquitude”, conceito da pesquisadora Cida Bento que evidencia como estruturas de poder perpetuam privilégios brancos em detrimento da exclusão de pessoas negras.
“As empresas precisam reconhecer suas responsabilidades e adotar um papel ativo na construção de uma sociedade mais igualitária. O futuro será plural e antirracista, e as organizações que liderarem essa transformação estarão melhor preparadas para enfrentar os desafios de um mercado que valoriza a diversidade”, concluem Dalila e Manueli.
A equidade não é apenas um ideal, mas uma prática diária que exige comprometimento, ação e coragem para mudar. As empresas que investirem nesse caminho estarão não apenas fortalecendo suas marcas, mas contribuindo para um Brasil mais justo e inclusivo.