De acordo com o IBGE, quase metade das mães não conseguem conciliar a maternidade com a vida profissional
A maternidade não é um caminho fácil, mas ela fica ainda mais complicada quando as mulheres estão em um ambiente corporativo nada acolhedor. Dados levantados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que, em 2021, apenas 54,6% das mulheres com filhos pequenos conseguiram trabalhar, porém quando olhamos para os homens, 89,2% afirmaram que lidam com a paternidade e o ambiente de trabalho ao mesmo tempo.
Neste cenário adverso, muitas mães se veem equilibrando diversas tarefas que não são distribuídas igualitariamente com os homens, além de uma escolha árdua: os filhos ou o trabalho. Para Carine Roos, socióloga e CEO da Newa, empresa de consultoria em DE&I e saúde mental, as organizações dispõem do papel fundamental no acolhimento dessas mulheres para que o fardo não seja ainda maior. “As mulheres quando se tornam mães muitas vezes ficam com tarefas extremamente exaustivas. Um diagnóstico do que as colaboradoras precisam para tornar o cotidiano mais leve, é o início do acolhimento por parte das empresas, depois partimos para ações realmente afirmativas e resolutivas. Não podemos presumir que uma rotina flexível, por exemplo, é o suficiente para o apoio no dia a dia”, comenta a CEO.
A especialista ainda ressalta a necessidade de ampliar o apoio e suporte dado por parte das organizações, uma vez que as empresas devem ampliar o seu olhar sobre o trabalho reprodutivo, que engloba toda tarefa que não é remunerada, mas é necessária para sobrevivência, como cuidar dos filhos, e que em sua grande maioria é atribuída apenas às mulheres. “Uma liderança mais presente é o caminho para o verdadeiro acolhimento das mulheres e mães nas organizações. Cada pessoa tem suas necessidades, por isso, é preciso analisar de forma profunda a rotina de cada colaboradora e estar ciente das mudanças de comportamento que elas vão mostrando para proporcioná-las um melhor ambiente de trabalho”, pontua Carine Roos.
Além do diagnóstico, existe uma carência da participação masculina no assunto e na proatividade de serem exemplos. Roos comenta “Uma das maneiras que as empresas podem atuar de forma efetiva no assunto é trabalhar na educação masculina, mostrando formas como os homens podem ser mais ativos com seus deveres em casa, como por exemplo, levando os filhos na escola, saindo mais cedo para uma consulta no pediatra, ações que demonstrem a participação nesses outros afazeres, que normalmente caem nos ombros das mulheres”. Outra ação efetiva que as organizações podem fazer para ampliar a responsabilização dos pais sobre o cuidado é a ampliação da licença parental, estimulando os pais a repensarem a criação e o relacionamento com os seus filhos desde o início.
O caminho para o acolhimento materno ainda é longo e passa pela construção de uma cultura organizacional que tenha como princípios o diálogo e a escuta sensível das necessidades de suas pessoas colaboradoras. “Hoje, felizmente, algumas empresas já começaram a construir ambientes psicologicamente seguros para que mães se sintam mais pertencentes às organizações, e para que possam mostrar ao mundo que um filho não faz da mulher um ser menos profissional, mas ainda temos muito trabalho”, finaliza a CEO.