Psicóloga e especialista em gestão de pessoas, Amanda Carvalhal fala sobre a importância do estímulo ao cuidado com a saúde mental vindo das empresas.
O afastamento do emprego por depressão e ansiedade tem sido crescente no Brasil. De acordo com uma pesquisa recente divulgada pelo Ministério da Previdência Social, só em 2023 foram 145 mil, 45% maior do que o último repassado. Segundo a psicóloga especialista em gestão de pessoas, Amanda Carvalhal, esses dados são reflexos da saúde mental desgastada no ambiente de trabalho, que acaba impactando no desempenho e levando o colaborador a se afastar.
Para Amanda Carvalhal, a pandemia impactou bastante em cobranças e até mesmo na falta de um bom ambiente para que as pessoas realizem suas tarefas. “Com essas mudanças, o nível de cobrança aumentou e, na maioria das vezes, é tão alto que impede que os colaboradores realizem o trabalho com tranquilidade. E, dependendo, caso seja presencial, ainda existem questões externas, como o trânsito. Tudo isso acaba acumulando e deixando as pessoas mais estressadas”, explica a psicóloga.
Para a maioria das empresas, tudo é sobre produtividade e isso é extremamente prejudicial. “Se, para o empregador, você não está sendo cada vez mais produtivo, acaba perdendo o valor”, afirma Amanda Carvalhal. E, além da depressão e ansiedade, esse tipo de situação pode desencadear o burnout, que foi uma das síndromes incluídas na lista de doenças relacionadas ao trabalho.
“Falar de burnout é falar de uma pessoa extremamente cansada que está em busca de cumprir todas as metas. Isso vai para o corpo porque, muitas vezes, já começa com sintomas físicos e doenças devido ao esgotamento. Inclusive, muitos não sabem, mas existe atestado médico para afastamento por cansaço”, explica Amanda. Para a psicóloga, antes de tudo, entender o problema é a chave para a solução.
Ela acredita que o líder precisa entender o motivo do colaborador estar esgotado e dar um suporte emocional. “É sobre entender se o esgotamento está vindo mais do âmbito pessoal ou profissional, se a empresa está colocando metas excessivas ou inalcançáveis, porque existem, sim, empresas que colocam metas surreais. Entender isso é essencial para tentar ajudar essa pessoa”, diz.
Com isso, a psicóloga não deixa de reforçar a importância da busca pela terapia. “A pessoa afetada também pode fazer terapia para buscar melhorar na dificuldade de dar limites, entender o que ela quer para a própria vida… E conseguir sustentar, porque a grande dificuldade da vida é a gente conseguir sustentar, principalmente porque, no momento que escolhemos algo, estamos deixando outra para trás”, analisa.
Ou seja, combater a depressão, ansiedade, o burnout e outras síndromes exige um esforço conjunto que envolve líderes, colaboradores e toda a cultura organizacional. “É essencial que o empregador dê esse apoio, principalmente antes de acontecer alguma coisa. Promover ações que falem sobre essas síndromes, um ambiente de trabalho saudável e dar suporte caso aconteça algum afastamento. Para o funcionário é ruim ficar afastado, dá medo de que, na hora de voltar, eles não tenham o emprego de volta. Na cabeça deles, não há necessidade em se afastar e se cuidar, poucos são os que têm essa consciência”, finaliza.