As especialistas em diversidade e inclusão, Renata Torres e Kaká Rodrigues, discutem a interseccionalidade feminina e como as organizações podem agir para melhorar este cenário
Se por um lado o Dia Internacional das Mulheres é uma data histórica, símbolo da luta pela equidade de gêneros e da conscientização sobre o machismo estrutural existente na sociedade moderna, por outro lado, essa batalha se intensifica ainda mais ao considerarmos uma série de fatores atrelados a essas mulheres, como raça, classe social, orientação sexual e outras identidades, uma vez que essas características geram ainda mais discriminação e exclusão social.
Segundo a 10ª Pesquisa Nacional de Violência contra a Mulher, realizada pelo Instituto DataSenado em parceria com o Observatório da Mulher contra a Violência (OMV), e divulgada em fevereiro pela Agência Senado, cerca de 68% das brasileiras têm uma amiga, familiar ou conhecida que já sofreu violência doméstica.
Ao traçar paralelos com outros fatores, os dados vão se mostrando mais preocupantes. O estudo conclui, por exemplo, que mulheres pretas, pardas e indígenas percebem um aumento da violência doméstica e familiar em percentuais maiores que as mulheres brancas ou amarelas. Além disso, a faixa de renda também afeta de maneira relevante a percepção sobre a não denúncia, já que 28% das mulheres que possuem renda de até dois salários mínimos acreditam que as vítimas de violência doméstica e familiar não denunciam o agressor às autoridades.
Para Kaká Rodrigues, especialista em diversidade e inclusão e cofundadora da consultoria Div.A – Diversidade Agora!, os movimentos representativos desses segmentos são de extrema importância e precisam se unir para ter ainda mais voz. “O Feminismo Interseccional bebe das fontes do Movimento Feminista, do Movimento Negro, do Movimento LGBTQIAPN+ e de tantos outros, trazendo voz à mulher preta, periférica e homossexual, por exemplo, que soma quatro fatores de discriminação social sobre ela. Assim como também precisam de atenção as mulheres indígenas, bissexuais, transgêneras, e tantas outras que só querem respeito e seus direitos reconhecidos perante à sociedade”, explica.
O estudo do DataSenado mostra ainda que houve um aumento significativo de 2021 para 2023 na percepção de desrespeito à mulher no ambiente de trabalho. Se na pesquisa anterior, 17% acreditavam que a mulher era menos respeitada no seu emprego do que em outros locais, no questionário mais recente este número subiu para 25%. Já o estudo “Profissionais liberais lésbicas no mercado de trabalho brasileiro”, realizado pela Universidade de São Paulo (USP) junto ao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), levantou que 60% das mulheres lésbicas já sofreram algum tipo de discriminação no ambiente profissional devido à sua orientação sexual, e cerca de 40% também presenciaram algum tipo de assédio sexual ou moral.
A especialista em diversidade e inclusão e também cofundadora da consultoria Div.A – Diversidade Agora!, Renata Torres, ressalta que as organizações devem agir proativamente para que este cenário mude. “As empresas podem se beneficiar da diversidade de talentos, perspectivas e experiências que as mulheres e outras minorias podem oferecer. Para isso é necessário criar um ambiente acolhedor a ideias, usar uma linguagem inclusiva e respeitosa, oferecer oportunidades de crescimento profissional para as pessoas colaboradoras, independentemente de suas características pessoais, implementar políticas de equidade salarial e desenvolver campanhas de sensibilização, por exemplo”, comenta.
As especialistas da Div.A reforçam que um importante passo tem que partir da liderança da empresa. “As gestoras e gestores não só precisam dar o exemplo, mas acreditar nesta premissa para que seja legítima sua mensagem às pessoas colaboradoras”, explicam, “muitas vezes, é uma mudança de cultura. Não é fácil, mas necessária para que possamos beneficiar as mulheres, as empresas e a sociedade”, concluem Renata e Kaká.