Apesar dos avanços na transparência, a equidade salarial entre gêneros ainda caminha lentamente no Brasil, com poucas empresas implementando ações concretas para reduzir a desigualdade de remuneração.
Quase um ano após a divulgação do Primeiro Relatório sobre Transparência Salarial do Brasil, publicado em março de 2024 pelo Ministério do Trabalho e Emprego, as empresas ainda avançam de forma lenta na adoção de medidas concretas para reduzir desigualdades salariais entre gêneros.
A Pesquisa Termômetro de Equidade de Gênero, realizada pela Mercer no último trimestre de 2024, revela um cenário de desafios. O levantamento, que ouviu 84 companhias nacionais e multinacionais de 17 setores — incluindo bens de consumo, finanças, tecnologia, manufatura, construção, agro e varejo —, mostra que apenas 21% das empresas pretendem definir estratégias de Diversidade, Equidade e Inclusão (DE&I) voltadas para gênero.
Ainda mais preocupante é o fato de que apenas 19% planejam executar alguma ação específica para equidade salarial entre homens e mulheres, enquanto apenas 13% têm a intenção de criar um comitê de acompanhamento sobre o tema.
Quando se trata da capacitação de lideranças para lidar com essa questão, somente 26% das empresas têm planos de treinamento para gestores.
A espera pelo movimento do mercado
Embora o debate sobre equidade salarial esteja cada vez mais presente nas organizações, a pesquisa mostra que a maioria das empresas (75%) ainda está focada apenas na fase de diagnóstico. Além disso, 39% preferem aguardar movimentações de mercado e dos concorrentes antes de adotar medidas concretas para reduzir as desigualdades salariais.
Equidade salarial ainda pouco divulgada internamente
Outro ponto crítico apontado pelo estudo é a falta de comunicação interna sobre a equidade salarial. Entre as empresas que já publicam seus relatórios, apenas 21% possuem campanhas estruturadas para abordar o tema internamente.
Ainda mais alarmante, somente 5% das empresas realizam uma comunicação regular sobre o assunto, com a divulgação frequente de boletins para os funcionários.
Enquanto isso, metade das companhias entrevistadas não tem campanhas ativas, embora algumas afirmem que estão abertas a iniciativas futuras.
Avanços na publicação de relatórios
Apesar dos desafios, há um avanço na transparência salarial dentro das empresas. A pesquisa revela que 82% das organizações entrevistadas já publicam seus relatórios de equidade salarial. Por outro lado, 10% ainda não o fazem e 8% optaram por não divulgar seus dados sobre equidade de gênero.
O principal canal escolhido para essa divulgação é o site corporativo, utilizado por 88% das empresas para disponibilizar os documentos para download. Já 14% optam por comunicados internos, enquanto 10% utilizam reuniões mensais, intranet ou aplicativos internos, sem permitir o download do material. Apenas 4% compartilham trechos dos relatórios em suas redes sociais oficiais.
O papel das áreas internas na divulgação da equidade salarial
A pesquisa também aponta que, embora a equipe de Recursos Humanos seja a mais envolvida no processo de divulgação dos relatórios de equidade salarial, outras áreas da empresa também desempenham um papel fundamental.
Os setores mais mencionados na pesquisa incluem:
- Comunicação interna – 64%
- Jurídico e Compliance – 58%
- Diversidade e Inclusão – 25%
- Liderança Executiva – 23%
O desafio de transformar diagnóstico em ação
A Pesquisa Termômetro de Equidade de Gênero da Mercer deixa claro que, embora muitas empresas tenham avançado na transparência, a transformação efetiva da equidade salarial ainda enfrenta barreiras estruturais e culturais.
O grande desafio agora é sair do campo da análise e diagnóstico e partir para a implementação de ações concretas, garantindo que a equidade salarial seja mais do que um compromisso no papel — mas uma realidade no ambiente corporativo brasileiro.