Uma jornada de aprendizado e transformação – Como o desafio de uma aula em Stanford conduziu a uma revolução pessoal e profissional na gestão de pessoas
Raquel Brandão – diretora de Gente e Operações da Falconi
Eu sempre gostei muito de aprender, tenho prazer nisso. Mas, às vezes, nos vemos sobrecarregados com responsabilidades no trabalho e na vida pessoal que tomam tempo e dificultam o desenvolvimento de habilidades. Durante anos estudei e cultivei conexões profissionais abaixo da intensidade desejada. Viver em um mundo acelerado pode ser um bloqueio para aqueles que desejam aprender e crescer em suas carreiras.
E foi então que, em 2018, um clique mudou a minha percepção sobre isso. Eu já estava numa fase mais inquieta da minha vida profissional e fui fazer um curso na Universidade Stanford, na California, Estados Unidos. Durante uma aula sobre pessoas, performance e cultura, um dos meus colegas de classe perguntou ao vice-presidente de Operações de Pessoas do Google, Prasad Setty: “Quais são as suas prioridades para a área?”.
A resposta dele me surpreendeu. Setty citou que queria contribuir para formar um time de RH mais técnico, profundo em sua especialidade. E veio o grande insight: o executivo complementou a resposta com uma pergunta que me causou um desconforto que, hoje, seria digno de agradecimentos: “Quais são os especialistas nos subsistemas de RH? E as principais teorias da área? Quem inventou determinados métodos”. E seguiu com outra provocação: “Agora pergunte aos seus melhores engenheiros. Com certeza saberão.”
Essa aula me marcou, foi um empurrão e tanto. Passei a ler muito mais, a procurar um embasamento teórico a cada desafio e a estudar com mais profundidade os temas sob minha gestão. Muito se fala do RH estratégico, que entende do negócio e participa. Sem dúvida, isso é importante, mas só somos relevantes se formos especialistas nos nossos assuntos. É preciso entender como nossa especialidade viabiliza os planos de negócio.
E, sim, os nossos temas são fundamentais para o sucesso de qualquer negócio. Seja qual for a empresa, bons profissionais fazem diferença. São os produtos de RH que reforçam e delineiam a cultura da organização. Quer algo mais poderoso do que os sinais dados sobre quem é promovido, quem é demitido, quem vira sócio, quem lidera um projeto? Desenhar essas práticas de forma estratégica, prática e escalável é boa parte da missão.
RH especialista e sistêmico
Segundo o analista Josh Bersin, referência global e um dos maiores influenciadores de RH do mundo, os problemas enfrentados na gestão de pessoas são sistêmicos e não podem ser resolvidos apenas por um domínio. Os subsistemas de Recursos Humanos estão interconectados. Ações e ferramentas de recrutamento, remuneração, gestão de talentos, diversidade, treinamento e experiência do colaborador sozinhas não resolvem os desafios reais. Uma mudança de política em uma especialidade impacta em outra.
Dentro desse contexto, o que temos visto hoje nas empresas que mais inovam e onde o RH tem sido um alavancador das transformações de seus respectivos negócios: a área tem os seus especialistas nos diversos subsistemas, mas que trabalham em times multifuncionais para resolver problemas reais. É necessário repensar a estrutura de RH como um sistema e interconectar serviços de forma orientada e prepará-lo para ter uma base estruturante de todo o sistema de pessoas e do negócio que estão inseridos.
Sem deixar o aprendizado de lado
Quem atua na área de RH há muitos anos, assim como eu, sabe que muitas vezes somos os últimos a terminar a avaliação de competências, fazemos ações de clima com nossos parceiros internos, mas raramente com nossos times. A responsabilidade e urgência de facilitar e evoluir a gestão de pessoas de todas as áreas muitas vezes nos deixa em último plano. O professor Vicente Falconi, sócio fundador da Falconi, traz no livro “O verdadeiro poder” que as pessoas só aprendem uma quantidade por vez, e isso é temporal, não se recupera o gap. Ou seja, precisa estar no fluxo do trabalho e de forma constante.
Assim como Prasad Setty me inspirou em Stanford, há cinco anos, quero inspirar outros profissionais de recursos humanos a tornar essa especialidade mais técnica e capaz de acelerar as transformações. O aprendizado contínuo é fundamental para o sucesso a longo prazo. Estudar e ler é como fazer exercícios físicos: vira hábito. E quando nos afastamos, fica ainda mais difícil retomar. Às vezes ouço: “Você lê muito!”. E respondo sempre: “Um pouquinho, todo dia”. Por que então não fazer isso com nossas equipes?