A educação pode te ajudar a adquirir essas habilidades?
Colunista Mundo RH – Fabrício Garcia, CEO da Qstione
A aquisição de habilidades socioemocionais ou comportamentais (soft skills) pode ser considerada o tendão de Aquiles da educação formal. Isso ocorre porque a aferição do desenvolvimento dessas habilidades dentro de um sistema educacional massificado é muito complexa. As discussões em torno do tema são polêmicas e os processos de ensino que envolvem as soft skills ainda estão numa fase embrionária. Portanto, na educação, quando falamos do ensino das habilidade socioemocionais, estamos falando de uma educação em nível experimental.
Nesse sentido, o relativo insucesso do setor educacional faz com que as pessoas busquem essas habilidades em fontes diversas, que vão desde a leitura de livros de autoajuda até a participação em retiros espirituais. O fato é que o mercado está exigindo um conjunto de soft skills, mas os profissionais não sabem por onde começar para desenvolvê-las.
Mas, afinal, quais são as principais soft skills exigidas pelo mercado de trabalho atual?
I – Habilidades digitais: envolve um conjunto de habilidades que possibilitam que o indivíduo tenha uma alta produtividade mesmo trabalhando remoto, além de ser capaz de se adaptar ao uso de novas tecnologias. As empresas buscam profissionais totalmente adaptados a essas novas ferramentas .
II – Tomar decisões baseando-se em dados: essa habilidade envolve uma mudança de paradigma, na qual os profissionais passam a agir sempre considerando a analises de evidências ou dados. É a cultura data driven chegando forte em todos os setores. O uso inteligente dos dados pode aumentar muito a assertividade das decisões corporativas.
III – Aprendizagem constante e independente: o mercado procura o autodidatismo. Pessoas capazes de apreender e evoluir sozinhas.
IV – Mentalidade de crescimento (growth mindset): é a capacidade de sempre buscar o crescimento pessoal e da empresa, sem medo dos desafios envolvidos nessa empreitada. Essa mentalidade caracteriza as pessoas empreendedoras.
V – Ser comprometido: estar comprometido com os projetos pessoais e objetivos da empresa. Isso implica em ser capaz de abdicar de coisas de ordem pessoal em prol do trabalho ou dos estudos, se automotivando e buscando o aumento da qualidade do trabalho e maior produtividade.
VI – Resiliência: ser capaz de lidar com situações adversas e manter o foco mesmo diante de crises.
Se analisarmos cuidadosamente essas habilidades, perceberemos que é difícil adquiri-las plenamente dentro do sistema educacional atual. Geralmente, essas habilidades são desenvolvidas por meio de experiências fora do ambiente escolar e universitário ou são cultivadas no seio da estrutura familiar. Em outras palavras, os ensinamentos e princípios familiares constituem a base para a aquisição dessas soft skills. Portanto, a falta de uma base familiar sólida pode representar um obstáculo quase insuperável para a aquisição de certas habilidades socioemocionais.
No entanto, ainda há muito a ser feito nesse campo no setor educacional. Precisamos romper com a bolha das nossas instituições de ensino e conectá-las com o mundo real, onde a vida é muito mais desafiadora e o mercado, muitas vezes, é implacável. Em resumo, se desejamos profissionais com esse perfil comportamental, será necessário mudar a cultura educacional existente, reconhecendo que o mundo real é muito mais exigente do que a limitada perspectiva do mundo acadêmico.