Nossa imagem expõe visualmente quem somos, o que pensamos, nossas experiências, nossas necessidades primordiais (que podem variar de cobrir-se, esconder-se, proteger-se a chamar atenção ou se auto afirmar, dentre outros). Nossas roupas são o que há de mais próximo e concreto entre quem somos (nossa identidade) e o que o outro percebe de nós (nossa imagem perante cada pessoa) e, por isso mesmo, vem carregada de alta relevância. Nossa identidade é transmitida ao outro através de elementos da comunicação não verbal, formando assim nossa imagem.
Uma imagem bem trabalhada deve ser coerente com nossa identidade ou ao menos conseguir transmiti-la em parte o mais fielmente possível, como num alinhamento entre forma e conteúdo. A imagem nunca será maior que o conteúdo, porém ela pode ser entendida como uma promessa e precisa refletir o que é ou será. Todos temos qualidades que são observáveis (físicas) e outras não observáveis num primeiro momento (personalidade, caráter), daí a importância de sabermos transmitir nossas qualidades não observáveis da maneira correta. A nossa personalidade definitivamente não é a primeira coisa que os outros vem de nós.
A imagem pessoal é uma das formas primordiais de comunicação e, consequentemente, de relacionamento. O outro nos vê e nos percebe através dos sinais não verbais que emitimos e pode se sentir conectado a nós ou não. Afinal, num primeiro momento, todos queremos nos aproximar de pessoas que tenham personalidade, valores e experiências de vida semelhantes aos nossos.
Originalmente essa avaliação é feita na troca de olhares e na observação dos traços e expressões faciais. Mas não há como negar que o conjunto do que transmitimos é capaz de continuar influenciando nosso interlocutor. Não existe neutralidade quando falamos de imagem. A “não escolha” ou “não ação” transmite sinais tanto quanto o ato em si. Na maioria das vezes nossa escolha como emissores desatentos pode ser inconsciente, mas não aleatória.
A conexão gerada através da identificação de sinais não verbais pode facilitar ainda o rapport, conhecida técnica de criar uma ligação de empatia com outra pessoa, para que se comunique com menos resistência.
Ao passo que a imagem corporativa, em mundo cada vez mais “comoditizado” com pessoas que tem a mesma formação, as mesmas experiências e muitas vezes a mesma aparência simplesmente por preferir reproduzir padrões, uma imagem bem trabalhada pode ser utilizada como elemento de diferenciação, trabalhando a nosso favor e ampliando nossas possibilidades de prospecção. As qualidades que levam um colaborador a ocupar uma posição técnica não são as mesmas de um diretor ou alguém de cargo mais elevado. Mas você já havia parado para pensar em quais seriam elas?
Somos um dos principais pontos de contato de qualquer empresa (especialmente a “Eu S.A.”, para quem trabalha por conta) e, a cada interação com um potencial cliente, podemos elevar ou sabotar nossa própria reputação e a reputação da empresa que representamos. Dessa forma, é primordial que a imagem de um colaborador esteja alinhada à imagem da empresa que representa. Ao se tornar um colaborador, você se torna espelho de tudo o que a empresa quer comunicar para o mercado, incluindo seus valores.
Há muitos benefícios de se fazer a gestão da imagem corporativa, por exemplo, elevar a confiança, segurança, autoestima e senso de pertencimento, tornando-o um verdadeiro transmissor da imagem corporativa.
Para a empresa, algumas vantagens incluem aumentar a vantagem competitiva, apoiar ações de marketing e atrair novos clientes.
Sem o comportamento adequado, cedo ou tarde a imagem sofrerá danos. Uma boa apresentação pode abrir portas, mas o impacto causado por ela precisa de outros componentes para se manter positiva. Por isso, o conceito de marketing pessoal ficou, durante certo tempo, carregado da conotação do profissional aparentemente muito competente, porém cuja imagem não se mantinha.
Construir uma boa imagem pessoal e corporativa é essencial para nos diferenciarmos e transmitirmos sinais como credibilidade. Com isso, é importante também saber que essas duas imagens se intersectam, e uma pode influenciar diretamente na outra. Por exemplo, se você for uma pessoa otimista, justa e coerente no âmbito pessoal, certamente, também agirá assim em sua vida profissional. Portanto, é fundamental compreendermos e edificarmos cada uma delas e analisar que ambas afetam a percepção das pessoas ao seu redor e até a sua percepção de si mesmo. Desse modo, proponho algumas reflexões para, efetivamente, construir essas duas imagens de maneira sinérgica:
- Entender que não existem uma regra clara entre ambas e que, cada vez mais, a aceleração da digitalização está fragmentando o “véu” entre imagem pessoal e corporativa. A rede social é uma extensão natural da vida real;
- O objetivo, pré-requisito na construção de uma imagem relevante. Saber identificar meus pontos fortes (especialização, escrita, retórica, por exemplo) e delimitar o público-alvo que eu quero atingir, respeitando onde e de que forma que ele consome informação para sua tomada de decisão são caminhos fundamentais;
- Comece hoje mesmo. Todo mundo começou do zero, inclusive as pessoas que você se inspira. Desapegue da ilusão utópica de quer aprovado por todos, se preocupe em ser relevante e lembre-se: o mundo te vê como você se vê;
- Invista na humanização na comunicação. As barreiras do mundo B2C ou mundo B2B estão sucumbindo, hoje fala-se da linguagem H2H (humans to humans), pessoas de conectam com pessoas, sejam por CPF ou CNPJ. Segundo Simon Sinek: “100% dos clientes são pessoas, 100% dos funcionários são pessoas. Se você não entende de pessoas, você não entende de negócios.”;
- Conheça o Storytelling – técnicas narrativas que aumentam o engajamento da audiência. Antes de se preocupar em construir reputação, preocupe-se em contar boas histórias. Ninguém, absolutamente ninguém, resiste o poder de uma boa história;
- Invista no Design e na apresentação pessoal. Segundo Aaron Burns: “Nós nunca temos uma segunda chance de causar uma segunda impressão”. Somos sinestésicos, visuais – atraídos pelo belo. Seja na comunicação pessoal ou nas redes sociais, investir em um padrão estético agradável pode ser um catalisar no processo de edificação de uma boa imagem;
- Planejamento é essencial! Planejar a forma de comunicação, as temáticas e canais assertivos são fundamentais. Evite temas polêmicos ou que gerem debates com pontos de vista muito divergentes. A construção do planejamento deve ser direcionada pela relevância.
E devo criar um perfil pessoal ou comercial nas minhas redes? Pergunta muito comum. Não existe uma regra definida sobre essa questão. Contudo, é importante destacar que você deve se comprometer com sua autenticidade. Trace um planejamento com linhas editoriais direcionadas por pesos e medidas no conteúdo, cadenciados os temas pessoais e profissionais norteado pelo objetivo; e
- Vida pessoal e vida íntima são coisas diferentes! Se sua verdade (e se colaborar com a imagem, ainda melhor) for publicar fotos nos momentos de lazer ou em situações mais informais, tudo bem! Apenas lembre-se: a gestão do bom senso é ingrediente fundamental na lapidação de uma boa imagem, seja em esfera pessoal ou corporativa.
Por Bruno Pedro Bom, advogado e publicitário, fundador da BBDE Marketing Jurídico, diretor de Marketing do IBDP. Autor da obra Marketing Jurídico na Prática publicado pela editora Revista dos Tribunais.