Por Maurício Pedro, gerente do atendimento corporativo do Senac São Paulo
Entre as medidas tomadas por conta da pandemia do novo coronavírus está a adoção do trabalho em home office, que se tornou uma solução definitiva em diversos setores. Como todo o processo de migração do trabalho presencial, nos casos em que essa realidade foi possível, aconteceu sem planejamento, muito rapidamente e a durabilidade do isolamento social tem se estendido, alguns efeitos estão surgindo.
De acordo com pesquisa da Capterra, plataforma de busca e comparação de softwares, sete em cada dez funcionários relatam sentir algum sintoma de burnout no trabalho após migrarem para a modalidade remota: ou seja, apenas 30% disseram que não têm sintomas de problemas emocionais em decorrência das atividades laborais durante a pandemia. A sensação de solidão trabalhando em casa foi citada por 26%, enquanto a tristeza foi apontada por 20%. As reflexões que surgem dessa análise, portanto, passam necessariamente pela atenção que as empresas devem dar à saúde mental dos colaboradores.
Nós precisamos de estímulos e superação. O desafio de continuarmos trabalhando e nos relacionando, superando preconceitos sobre uso e a eficácia das tecnologias é enorme. Os obstáculos e as aprendizagens estiveram relacionados à necessidade de usar de maneira integral a tecnologia para as atividades a que estávamos habituados, então o tempo dedicado e a exaustão caminharam juntos. A disputa pelo equilíbrio entre a rotina do trabalho e a vida doméstica foi outro fator impactado pela tecnologia.
Alguns aspectos observados nesse ano e meio foram a dificuldade dos funcionários com questões de infraestrutura (ergonomia, oscilação na internet), sensação de ineficiência, necessidade de adaptação sobre novas formas de contato, administração do tempo, o dilema disponibilidade x indisponibilidade, a competitividade mais acirrada no ambiente virtual (as pessoas sentem que têm mais abertura e acesso ao decisor, configurando por vezes ‘quebra da hierarquia’), entre outros.
Sobre o outro lado da moeda, por sua vez, algumas empresas perceberam que a produtividade não está necessariamente ligada a ter as pessoas sob o olhar atento dos gestores, e esse é um aprendizado do qual não podemos abrir mão e que precisa ser incorporado aos modelos de trabalho.
O cuidado, nesse contexto, é não querer transformar tudo em remoto. Uma ação assim pode fazer com que as empresas percam sua “alma”, e as pessoas se esqueçam do vínculo com a essência da organização em que atuam. Uma grande empresa se faz com pessoas que trabalham, convivem, aprendem e geram soluções de modo coletivo e colaborativo.
O home office possibilitou também um convívio mais próximo com nossos familiares e, com isso, passamos a valorizar ainda mais as pessoas e os momentos de partilha familiar.
Diante dos pontos apresentados sobre as atividades em home office, é preciso que as empresas continuem com os programas de auxílio psicológico, pois é possível que haja o agravamento dos problemas de saúde mental decorrentes do luto gerado por milhares de perdas com a pandemia e da crise econômica persistente.
Aumentar a estrutura de suporte é a bola da vez, ou seja, as companhias devem incrementar os programas de bem-estar, oferecer sessões com psicólogos, consultores financeiros e assistentes sociais; em paralelo, os departamentos de recursos humanos podem enfatizar as avaliações de clima organizacional, medindo a percepção do trabalhador sobre o ambiente interno. Outra implementação importante refere-se à criação de uma agenda programática (ferramenta de gestão) com visibilidade das atividades e do tempo dispensado a cada uma delas, eliminando a prática de cobrar entregas em momentos inapropriados.
Por fim, a manutenção da motivação em casa ou no escritório é um ponto de atenção contínua: conectar as equipes ao propósito da organização, em conjunto com as ações sugeridas anteriormente, pode ser benéfico para a manutenção de uma boa saúde mental.