O invejoso é um cego que não consegue olhar para si, antes olha para outro sempre o culpando por sua incapacidade de ser ou ter
Por Bruno Bom, Empresário do Direito
A inveja é um sentimento natural do homem, cujo registro mais longínquo encontra-se na própria Bíblia, ao, em Gênesis, descrever a história de Abel e Caim, relatando o que poderia vir a ser o primeiro episódio desse mal secular; o qual, por sua vez, também opera em âmbito corporativo. Entretanto, nem por isso necessitamos admiti-la em sua forma sombria e nefasta.
O homem sendo um ser de habilidades racionais tal como o é, também é capaz de observar sentimentos, aprender a controlá-los, dosá-los e até, talvez, estimulá-los de maneira melhor aproveitável. É com fé nessa capacidade humana que discorro sobre esse mal que pode e deve vir a ser administrado, tanto pelo próprio indivíduo, quanto pelas organizações que almejam um ambiente concitador e próspero.
Antes mesmo de prosseguir, devo reafirmar algo que sempre digo: “inteligência emocional é utilizar o sentimento certo, na hora certa e na proporção certa”. Diante disso, ratifico tanto a possibilidade quanto a imperiosidade da inveja, uma vez como sentimento, ser manipulada de maneira mais proveitosa para si e para o ambiente no qual está inserido o indivíduo.
Desse modo, em um interessante contraponto à visão tradicionalmente negativa da inveja, capaz de ser destrutiva – como comumente é -, ela pode e deve ser aproveitada como um estimulante construtivo. Se adequadamente redirecionada, a depender de como é percebida e gerenciada, deverá servir de motivação ao crescimento pessoal e profissional, trazendo venturoso resultado para todos.
Para que isso tudo ocorra, em âmago pessoal, é necessário sobretudo autoconhecimento, sendo imperioso reconhecer esse sentimento, afinal, pior do que ser invejoso é mentir alegando que não sente inveja, ou pior, revestir-se por meio de falsas intenções. Não é à toa a máxima socrática “conheça a ti mesmo”.
O invejoso é um cego que não consegue olhar para si, antes olha para outro sempre o culpando por sua incapacidade de ser ou ter.
Dito isso, devo dizer que, em âmbito corporativo, algumas estratégias são promissoras para a administração desse sentimento negativo e a primeira delas não poderia ser outra medida senão a promoção e incentivo ao autoconhecimento e reflexão, por óbvio considerando as disposições anteriores, que evito repetir por tautologia.
Identificado esse sentimento, use-o como motivação para se concentrar no seu próprio crescimento e desenvolvimento profissional, evitando, assim, a comparação com outros colegas de trabalho.
Pratique a gratidão, inclusive e principalmente por suas própria realizações e qualidades. Além de ajudar a reduzir sentimentos como inveja e aumentar o bem-estar geral, você também estará autorreconhecendo de seus méritos e conquistas, algo importante para a manutenção da motivação e dissipação de eventual senso de inferioridade que poderia desencadear a inveja.
Estabeleça metas pessoais, seja realista ao fixá-las. Ao conhecer o caminho a ser percorrido, será muito mais fácil manter-se focado em seu próprio desenvolvimento, além de que o alcance dessas metas lhe trará a manutenção da inspiração e motivação necessárias para o seu constante crescimento.
Agora, pensando em estratégias de trato coletivo, aconselháveis principalmente aos gestores, profissionais de recursos humanos, líderes, etc., tenho que para melhor gerenciamento e aproveitamento desse sentimento está, primeiro, o reconhecimento da equipe e sua colaboração. Dados da Gallup mostram que elogiar equipes é eficaz no incentivo à colaboração.
Além disso, é crucial manter uma comunicação constante e aberta, promovendo feedbacks, o que trará aos funcionários a percepção de que eles estão contribuindo para a organização e que suas contribuições são valiosas. Isso certamente fomentará um ambiente de colaboração com menor tendência a sentimentos negativos, tais como a inveja.
Por fim, incentive a cultura de reconhecimento entre pares, encorajando funcionários a celebrar o sucesso uns dos outros, o que, por sua vez, deve melhorar a responsabilidade e a produtividade das equipes. Devo dizer ainda que o reconhecimento entre pares dá maior valor ao feedback honesto, promovendo um ambiente de aprendizado e apoio mútuo, verdadeiro antagonista ao desenvolvimento da inveja.
Como já descrito, a inveja pode ser administrada e convertida em um cenário de motivação e até colaboração, por isso, atente-se aos seus comportamentos e sentimentos, conhecendo a ti mesmo e, enquanto gestor, profissional de RH, entre outros, atente-se ao ambiente colaborativo de suas equipes, promovendo medidas estratégicas. Assim, certamente, sua organização poderá desfrutar de um lugar sadio, prazeroso e muito mais venturoso.
Aos merecedores do brilho do sucesso por meio da virtude, trabalho e mérito próprio, despeço-me com a reflexão de Ayn Rand: “Nada pode tornar moral a destruição dos melhores. Não se pode ser punido por ser bom, ou pagar por ter sido hábil”!