Quando adequadamente preparados, eles representam uma força de trabalho capaz de gerar alto valor, riqueza e prosperidade para a sociedade.
É no fim da adolescência que, ansiosos por independência e autonomia, começamos a pensar mais seriamente em ir para a faculdade, ter uma carreira e ganhar nosso próprio dinheiro. E a porta de entrada para o “mundo adulto” costuma ser o estágio.
Segundo o estudo “O Perfil do Estagiário no Brasil 2024”, elaborado pela Companhia de Estágios, ganhar experiência profissional é o que motiva cerca de 70% dos estudantes a buscar uma vaga de estágio.
Outro aspecto que não podemos desconsiderar é o econômico. Em um país onde a renda per capita é de R$ 1.848,00 e 45% dos estagiários ganham entre R$ 1.412,00 e R$ 2.118,00, conseguir um estágio significa incrementar o orçamento familiar e aumentar as chances de estudar, ascender profissionalmente e ter melhores condições de vida.
Além disso, de acordo com o IBGE, 5,4 milhões de jovens brasileiros entre 14 e 24 anos não estudam e nem trabalham. Essa faixa etária, que representa apenas 17% da população, corresponde a mais da metade do total de desempregados.
Como executivo, acredito que as empresas têm o papel social de incluir e desenvolver essa mão de obra, ajudando a formar os talentos dos quais nosso país já sente falta. Só que não basta abrir vagas. É preciso disponibilizar uma trilha de desenvolvimento que leve em conta as características da geração Z e as novas demandas do mercado de trabalho.
Infelizmente, nesse sentido, existe um descompasso entre empresas e estagiários. O estudo da Companhia de Estágios mostra que treinamento/desenvolvimento e cursos de idiomas são oferecidos por pouquíssimos empregadores (31% e 14%, respectivamente), ainda que interessem a cerca de 50% e 30% dos jovens. Ou seja, estamos desperdiçando a vontade desta geração de aprender e crescer profissionalmente.
Já entre os estagiários que têm pouca esperança em seu futuro profissional, 68% ficariam confiantes se dominassem mais tecnologias e conhecimentos técnicos e 42% gostariam de ter mais desenvoltura/habilidades interpessoais.
Será que estamos olhando, de verdade, para o aprimoramento das hard skills e soft skills dos estagiários? Afinal, não é da combinação de ambas que se cria um alicerce sólido para o profissional em construção?
Na Alelo, vejo o quanto o estágio impulsiona o amadurecimento dos jovens. Temos vários rituais para estar próximos deles e trocar ideias, tirar dúvidas e compartilhar experiências.
Eu mesmo costumo conduzir periodicamente uma agenda focada nos colaboradores abaixo dos 30 anos, mas também temos ações como o Unboxing, programa de mentoria reversa em que um profissional sênior é mentorado por um júnior, e o Falaí, ocasião em que a diretoria conversa com grupos de colaboradores, incluindo estagiários e jovens aprendizes.
Mais recentemente, como pai, também tenho testemunhado os medos e anseios que o primeiro emprego desperta. Meu filho mais velho, Nicolas, de 22 anos, começou a estagiar há pouco mais de dois meses em uma grande empresa de tecnologia.
Estudante de Sistemas de Informação, uma área em constante mudança, seu principal receio era o de que os conhecimentos adquiridos na faculdade não se aplicassem à realidade do mercado de trabalho.
Ele está se ajustando à rotina procurando se comunicar com toda a equipe e entender o que cada um faz para tentar vislumbrar qual será sua atuação, tanto no estágio quanto na área de tecnologia.
Esse período de adaptação costuma gerar um certo desconforto, motivo pelo qual o acolhimento, orientação e empatia dos colegas são essenciais. (Embora eu não tenha tido a oportunidade de estagiar, felizmente fui recebido com muita atenção e cuidado quando entrei no Bradesco, aos 21 anos.)
Se quisermos tirar o Brasil do subdesenvolvimento, precisamos dar aos jovens a chance de ingressar no mercado de trabalho para aprender, errar, corrigir, melhorar e vivenciar toda a dinâmica do desenvolvimento profissional.
Quando bem-preparados, eles são uma força de trabalho com alto grau de geração de valor, riqueza e prosperidade para as pessoas, para o Estado e, principalmente, para as empresas. É nosso dever, como profissionais e pais, ajudar a formar os líderes do futuro.
E por falar em futuro, o Nicolas descobriu que gostaria de ser mais um gestor de pessoas do que um técnico da área de tecnologia. Filho de peixe, peixinho é.