Sempre busquei empreender. O fato de eu ter escolhido seguir minha carreira no Direito, que é um universo tradicional e conservador, não diminuiu essa característica em mim. Pelo contrário, pois acredito que um bom advogado precisa ter muita criatividade para oferecer soluções jurídicas inovadoras, eficientes e assertivas. E como, na minha visão, a essência do empreendedorismo é, justamente, buscar novas abordagens para resolver problemas existentes, possuir boas ideias e ter uma grande dose de inquietude e inconformismo, entendo que as duas áreas — direito e empreendedorismo — já estão interligadas.
E foi com este espírito questionador que dei um importante passo para mudar o meu modelo de negócio. Eu e meus sócios apostamos na cultura officeless – ou remote first –, que nos libertou da obrigação de ter e de manter um escritório físico grande e caro e, com isso, estamos repassando algumas vantagens deste novo modelo e cultura de execução e entrega dos serviços jurídicos para os nossos clientes.
Esta filosofia tem o seu porquê ou pilar no conceito de que as relações de trabalho devem ser baseadas em autonomia, propósito e confiança, de modo a tornar os profissionais mais produtivos, realizados e conectados, independentemente do local onde estejam desempenhando suas tarefas e funções.
O meu papel, como sócio administrador, é garantir que essas premissas sejam aplicadas corretamente e para que essa mudança traga os resultados esperados. Para começar, gerir a equipe sob esta ótica exige um comprometimento muito maior com as entregas aos clientes.
O conceito officeless, que tem por base a atuação remota, permite que as pessoas trabalhem de onde se sentem mais produtivas e engajadas. Para isso, a confiança entre os gestores e as equipes não é apenas essencial, mas mandatória. Mas, como gestor e advogado, procuro partir do princípio de que a confiança já está subentendida e que faz parte do job description de um profissional do Direito, uma vez que lidamos com informações sensíveis e confidenciais dos nossos clientes o tempo todo.
Contudo, acredito que a gestão neste formato deve ser mais próxima e mais presente, mas, isso deve ser traduzido muito mais no sentido de apoio e de trabalho em equipe do que como controle ou micro gestão. Os contatos com o time são mais frequentes, muito mais interativos e não perdemos tempo com reuniões improdutivas e desnecessárias. Falamos quando é preciso, mais vezes ao longo do dia, e, ainda assim, com muito foco nas conversas e com limites de tempo, respeitando o tempo e a agenda de todos, inclusive para as atividades pessoais. Compromisso, pontualidade e capacidade de definição clara de pautas a serem tratadas. Percebo que a equipe está mais centrada, melhor engajada e substancialmente mais focada. Nos encontros digitais/on-line, os participantes precisam olhar para a tela e acompanhar a fala dos demais, acabando, assim, com distrações como celulares, por exemplo.
Como gestor, procuro deixar claro que os profissionais devem ter autonomia e possuir autorresponsabilidade para o desempenho de suas funções, sem a necessidade de uma obrigatória e muito antiquada supervisão presencial. Somos adultos e trabalhamos com prazos e entregas, ponto. A tecnologia nos permite acessar ferramentas eficientes e que nos mantêm em dia com os nossos compromissos. Isso deve bastar.
Estamos passando por uma profunda transformação cultural, comportamental e, claro, digital. Não se trata apenas de adotar novas tecnologias, mas de uma verdadeira transformação em nosso mindset de atuação, inclusive, com a adoção dos conceitos de metodologia ágil, como Kambam, Squads, Legal design, entre outros.
E, para isso, a contratação e a adoção das plataformas e de soluções digitais já disponíveis no mercado, incluindo as que nos fornecem a gestão e o tratamento de dados, representam investimentos relevantes para esse tipo de operação.
Apostamos no modelo remoto por não mais acreditar em dogmas que nos acompanham historicamente. A meu ver, a ideia de que os funcionários mais produtivos e dedicados eram aqueles que chegavam cedo e saiam tarde, passando uma longa jornada sentados em suas mesas ou em intermináveis reuniões, não faz mais sentido no momento atual e, menos ainda, ao que se projeta para o futuro próximo.
A produtividade, que antes era medida pelas horas gastas (debitadas na conta do cliente), ou seja, a permanência física dentro de um determinado local de trabalho, ainda que este pudesse ser manipulado, escondendo interrupções e distrações como a internet, as redes sociais, as conversas paralelas, ou qualquer outra atividade, que não tem relação com as entregas profissionais, passa a ser medida pelas entregas, pela experiência que nossos clientes têm com nossos serviços, com a agilidade e disponibilidade que nos propomos a executar nossos serviços jurídicos.
No J Amaral Advogados estamos diariamente descontruindo essa teoria de que mais tempo é igual a mais eficiência. Que tempo dentro do escritório é métrica para produtividade. Que espaços físicos generosos, com custos elevados, são sinônimo de sabedoria, inteligência ou sucesso. Após mais de quatro meses operando de forma remota ou officeless, percebemos que fizemos a escolha certa para trilhar esse novo caminho. Nosso diferencial foi repensar nosso modelo e criar um formato de trabalho diferente. Nesse sentido, nossa atuação tem se amparado no pilar da combinação de competências + criatividade = combinatividade.
Essa junção que trouxemos por meio do officeless nos tem permitido compartilhar com o nosso time a responsabilidade pela execução e entregas dos nossos serviços aos clientes, ao mesmo tempo que permite a todos uma gestão mais eficiente, inteligente e racional do tempo e da vida profissional e pessoal.
Se nosso diferencial, como advogados, está na inteligência empresarial e jurídica que colocamos à disposição de nossos clientes e se essa expressão do intelecto humano está na mente humana, será que o que define nosso êxito na prestação dos serviços está no local físico onde executamos nossas entregas ou em nossa capacidade intelectual de atuar com criatividade e técnica, propiciando a combinatividade jurídica e empresarial que nossos clientes tanto esperam?
Essa é uma das principais perguntas que me faço todos os dias e espero manter a mente provocativa e inquieta que, no início da minha carreira, me fez escolher por uma profissão em que passo a vida resolvendo problemas. E que bom que, todos os dias, mais e mais problemas temos para resolver. Problemas são o melhor combustível para o exercício da criatividade, tão necessária para tudo o que fazemos, seja na vida pessoal, seja na atividade profissional.
Por João Eduardo de Villemor Amaral, sócio administrador do J Amaral Advogados