A pandemia da covid-19 trouxe mudanças para as empresas que vão além de colocar parte de seus funcionários em home office. O novo coronavírus fez com que muitas organizações passassem a olhar com mais atenção para a experiência do empregado, na busca de oferecer melhores condições para enfrentar os desafios atuais e manter a saúde em dia.
Alguns benefícios e temas que antes pareciam ficar à margem da agenda da área de Recursos Humanos, ou que não ganhavam muito destaque e importância, agora vêm à tona com mais força. Um exemplo é a própria preocupação com a saúde mental, que tem recebido atenção por meio de programas, muitos a distância, por parte da empresas. O oferecimento de seguro de vida também dá sinais de crescimento e o auxílio medicamento entra na lista de atenção por parte do RH como uma ferramenta estratégica na condução da gestão de saúde.
“Em um momento em que todos se voltam mais para o cuidado com a saúde, seja física ou mental, é importante destacar a continuidade dos tratamentos por meio de remédios prescritos. Ainda mais em um país em que uma parcela significativa da população não tem acesso a uma série de medicamentos”, diz Luiz Monteiro, presidente da Associação Brasileira de Operadoras de Planos de Medicamentos (PBMA). Segundo ele, com a pandemia, uma série de doenças crônicas não desapareceram, como hipertensão e diabetes: elas continuam demandando cuidado constante e redobrado, pelo fato de serem comorbidades que colocam os pacientes no grupo de risco da covid-19.
Nas empresas, o gerenciamento de colaboradores com doenças crônicas como essas contribui não apenas para manter o índice de sinistralidade em dia, mas também para mudar a percepção sobre a gestão desse tema: sai de cena a gestão de doença e sobe ao palco a gestão de saúde. Ou seja, um olhar para investimentos em prevenção. E uma ferramenta para acompanhar e contribuir para essa nova gestão pode ser utilizada por meio do auxílio medicamento.
Como Monteiro explica, com esse benefício, por exemplo, uma organização pode perceber a incidência de uma comorbidade crônica (pelo consumo frequente de um medicamento por um grupo de funcionários) ou acompanhar se o colaborador está se cuidando, dando continuidade a um tratamento. “E ainda há outro fator importante que é combater a automedicação, um hábito comum de 77% dos brasileiros, segundo um levantamento do Conselho Federal de Farmácia”, diz.
Cuidados com a família
De acordo com dados da pesquisa da consultoria Aon sobre benefícios e divulgada em 2019, na qual participaram 536 empresas no Brasil, 45,9% já ofereciam algum tipo de auxílio de medicamentos. Quase a totalidade (99,8%) disponibilizava assistência médica e 94% seguro de vida. E a pandemia trouxe mais interesse por este item.
Dados da Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (FenaPrevi) mostram que no ano passado o segmento de seguro de vida em grupo, do qual fazem parte os itens oferecidos pelas empresas em seus pacotes de benefícios, registrou um aumento de 3,6% em prêmios, comparado a 2019. O índice é bem inferior ao verificado nas contratações individuais, que foi de 26,2%. Mas levando-se em conta que o crescimento entre as empresas está muito vinculado ao desempenho econômico, o número pode ser visto como significativo.
A contratação de seguro de vida em função da preocupação com a vida do colaborador — e, em caso de falecimento, com a família e dependentes dele — em algumas situações pode ter um custo mais elevado. Diabéticos, por exemplo. Em função dos problemas decorrentes da doença, arcar com um produto como esse pesa no bolso e no caixa, quando se fala em empresas.
Mas há como mudar esse cenário. A WinSocial, uma insurtech de seguro de vida, utiliza a tecnologia para fazer uma melhor avaliação do estilo de vida e de controle da doença por parte de diabéticos. Conforme afirma Rafael Rosas, diretor da WinSocial, que opera em parceria com a MAG Seguros, o objetivo é ser mais justo na hora de cobrar pelo seguro. Assim, aquele que melhor cuida do problema, que mantém controle da saúde, paga menos.
O resultado desse trabalho foi o crescimento de 488% de novas vendas de seguro de vida no ano passado pela startup, em comparação com 2019. O número de vendas focado em pessoas com diabetes aumentou 60% em março, comparado ao mês anterior.
De forma geral, como Rosas explica, as pessoas com diabetes costumam ter uma boa disciplina alimentar e hábitos de exercício físico. Para auxiliar mais quem se cuida e quem tem de começar a se cuidar mais, a WinSocial oferece, por exemplo, descontos em consultas online com médicos especializados, bem como o auxílio-medicamento. Por enquanto, o seguro é destinado apenas para pessoas físicas, mas a discussão de entrar no mundo corporativo não está descartada.
“Atender a uma necessidade de um determinado público da empresa, no caso dos diabéticos, seja com o oferecimento de um seguro mais justo na cobrança ou indicando caminhos para o colaborador buscar essa solução, seja dando a oportunidade de ele ter acesso a medicamentos de uso frequente com desconto contribui muito para criar uma experiência significativa do empregado. Contribui para reforçar valores da empresa em relação ao cuidado com seu capital humano”, diz Monteiro, da PBMA. “Isso significa realmente se preocupar com a pessoa que faz parte da empresa e também com a família dela. Com o home office, muitas empresas entraram nas casas dos funcionários em reuniões on-line e passaram a conviver mais com a família deles. Nada mais justo do que se preocupar com a experiência da família também. E cuidar da saúde do colaborador é cuidar também de quem vive com ele”, finaliza.