O especialista em comportamento, Marcel Scalcko explica como o autoconhecimento pode ser uma forma de prevenção
Cansaço excessivo, desânimo ao levantar de manhã para trabalhar, tristeza ou ansiedade aparecendo no domingo à tarde, podendo vir acompanhada de taquicardia, são alguns dos sintomas da síndrome de burnout, uma estafa mental e física por conta do trabalho. Uma pesquisa inédita conduzida pela empresa Gattaz Health & Results, liderada pelo presidente do Conselho Diretor do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo (IPq – USP), Wagner Gattaz, mostra que 18% dos profissionais brasileiros, 1 a cada 5, sofrem com a síndrome de burnout. O levantamento foi apresentado durante o Congresso Brasileiro de Psiquiatria, no início de outubro em Fortaleza, Ceará.
O especialista em treinamento de equipe e comportamento humano, Marcel Scalcko, explica que o burnout costuma aparecer nos profissionais conhecidos como workaholics (viciados em trabalho), mas também pode aparecer naqueles colaboradores que atuam em empresas que exigem muito do funcionário, onde há cobrança excessiva, múltiplas funções e grandes responsabilidades. “O profissional precisa se autoconhecer para não adoecer. A partir daí, ele consegue prestar mais atenção em si e tomar algumas medidas como proteção. Desacelerar é o primeiro passo. Essas pessoas precisam ter em mente que mais vale a prevenção do que a recuperação após o adoecimento”, diz Marcel.
É o caso do Gabriel Arantes, de 38 anos, ex-funcionário de uma multinacional, tinha uma rotina pesada de trabalho. Embora tenha sido contratado para uma única função, fazia mais do que o combinado, sempre na esperança de ter um reconhecimento, que nunca chegou. “Eu acordava todos os dias às 4h para chegar no trabalho às 6h, trabalhava de segunda a sábado. Fazia as minhas atividades e acaba sobrando tarefas de outros colegas que não concluíam seus projetos e o gestor empurrava pra mim. Na minha função eu usava muito o inglês, o que causa um cansaço maior o fato de pensar em outra língua. Sem falar na minha tripla jornada, sou pai muito presente e atuante. Além disso, estudo para concluir minha segunda graduação. Sem tempo de cuidar de mim, adoeci e fui diagnosticado com burnout. Após minha licença, fui desligado”, conta Gabriel.
Segundo o especialista, se esses profissionais não separarem algumas horas por semana para cuidarem do seu bem-estar, poderão sentir um esgotamento mental como foi o caso do Gabriel. “As pessoas precisam ficar atentas, pois na maioria das vezes o burnout chega de mansinho, rouba suas horas de sono, altera seu apetite, causa dores de cabeça ou no corpo, dificulta a concentração, sem falar no tradicional cansaço. Uma vez diagnosticada a síndrome, é necessário fazer acompanhamento com psiquiatra e psicólogo”, esclarece o especialista.
Para Marcel, os colaboradores de grandes empresas ou até aqueles de empresas menores com múltiplas funções, devem investir no autoconhecimento, assim dificilmente serão pegos pelas circunstâncias que despertam o Burnout. “A pessoa estará atenta, presente, e percebendo o que está acontecendo em seu entorno e vai se proteger de alguma forma. Para evitar a doença, o especialista em comportamento, gestão e treinamento, Marcel Scalcko, dá cinco dicas:
1.Meditação – “Se possível, meditar todos os dias, nem que seja uma meditação curta. É importante criar o hábito, o que só acontece depois de 21 dias consecutivos. A meditação ajuda a aplacar os sintomas de ansiedade, equilibra a parte mental, faz a pessoa ficar mais centrada”, diz Marcel.
- Terapia – “É fundamental para ajudar a olhar pra si e encontrar as origens emocionais e psíquicas dos seus problemas, dentro da sua história”, explica o especialista.
- Alimentação – “Uma dieta rica em frutas, verduras e legumes, pode garantir um bom funcionamento do corpo. Manter o corpo saudável é meio caminho andado”, orienta.
- Atividade Física – “Se possível, fazer meia hora de exercício todos os dias. Isso aumenta a produção de seretonina e endorfina no corpo”, esclarece.
- Mentoria e imersões – “Poucas pessoas usam do recurso da mentoria, das imersões e das vivências de autoconhecimento, mas é uma ferramenta maravilhosa para o desenvolvimento humano. Essas práticas darão um norte para as pessoas se aprofundarem nos seus processos e ajudar a dar um rumo à vida. É um momento de aconselhamento e acompanhamento. O terapeuta pode fazer esse papel ou a pessoa pode optar por um outro profissional que faça esse trabalho”, instrui Marcel.
O especialista ressalta que quem tem ou teve Burnout não deve passar pelo processo de coach, que é diferente da mentoria, por pelo menos por um ano. “O coach estende os limites das pessoas e nesse momento ela precisa reconhecer seus limites e não tê-los estendidos”, finaliza Marcel Scalcko.