Especialistas explicam como a paralisação expõe a fragilidade na organização do território
De acordo com o especialista em Mobilidade Urbana do Mackenzie Campinas, Luiz Vicente Figueira de Mello Filho, o transporte no Brasil é praticamente feito por rodovias, independentemente se o propósito é locomoção de pessoas, grãos ou o próprio combustível – que é a matriz energética do país.
No último mapeamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que divulgou dados da Confederação Nacional de Transportes (CNT), 61,1% de toda a carga transportada no Brasil usa o sistema modal rodoviário; 21,0% passa por ferrovias, 14% pelas hidrovias e terminais portuários fluviais e marítimos e apenas 0,4% por via aérea.
Com essa dependência do transporte rodoviário, cinco dias sem abastecimentos já refletem na paralisação nacional. Por esse motivo o transporte é um elemento estratégico para qualquer país ou governo. “A paralisação além de reivindicar reoneração, também propõe reflexões sobre as políticas de mobilidade”, ressalta Mello Filho.
Já Pedro Raffy Vartanian, coordenador do Mestrado Profissional em Economia e Mercados da Universidade Presbiteriana Mackenzie e pesquisador do Centro Mackenzie de Liberdade Econômica, diz que os protestos dos caminhoneiros, que de fato enfrentam dificuldades para repassar os aumentos dos custos para os preços dos fretes em um cenário de recuperação econômica ainda instável, motivaram reuniões no governo federal na tentativa de encontrar uma solução para um problema que é “exógeno”, ou seja, que está relacionado ao comportamento dos preços do petróleo no mercado internacional.
A economia brasileira já experimentou, no passado, o artificialismo nos preços dos combustíveis e o resultado foi danoso ao país. Os custos do represamento dos preços dos combustíveis superaram os benefícios e, infelizmente, a história está se repetindo. Uma redução de outros impostos sobre os preços dos combustíveis, tanto sob a esfera federal quanto estadual, constituiria uma discussão alternativa muito mais interessante. Se os governos não estivessem sob uma severa crise fiscal, a redução de impostos poderia ser anunciada de forma imediata. “Diante do cenário adverso, recomenda-se a inclusão dessa questão na pauta dos problemas a serem solucionados no médio prazo e uma avaliação cuidadosa no sentido de se evitar a repetição de erros do passado que culminaram na pior recessão da história econômica brasileira que vivenciamos nas últimas décadas”, comenta Vartanian.