Ambientes de trabalho cool precisam de métodos inovadores para engajar colaboradores
Ambientes abertos e coloridos, videogame, sinuca e happy hour na sexta com direito a chope. O ambiente “cool” das startups e empresas de tecnologia parece ter se disseminado pelo Brasil, como um belo atrativo para a nova geração de colaboradores, que chega ao mercado de trabalho com demandas bem diferentes das que seus pais tinham.
Mas, na medida em que a “febre das startups” abranda e o conceito vai se acomodando na cabeça de todos, passa também o deslumbre por ambientes de trabalho que fazem muito “barulho”, mas nem sempre são úteis para o engajamento dos colaboradores.
Seja em portais formais, como o Love Mondays e páginas de vagas no Facebook, ou seja em links informais que circulam pela internet, cada vez mais os profissionais reclamam de ambientes de trabalho que exigem um “Jedi” – que precisa ter poderes especiais para assumir tantas tarefas – mas, por outro lado, mantém uma gestão tradicional de RH e não conseguem manter esse profissional engajado.
Para o especialista em gestão de carreiras e fundador da empresa Gestores de Sonhos, Ricardo Castanheira, a técnica de ambiente cool adiantará pouco se o funcionário não sentir que suas motivações individuais não estão sendo consideradas pela empresa. E foi acreditando no engajamento como um movimento de “dentro para fora”, que ele criou, junto com sua sócia, Laura Torres, a Gestores de Sonhos, uma incubadora comportamental que trabalha com o desenvolvimento dos funcionários por meio da realização dos seus sonhos pessoais.
“Acreditamos que a melhor maneira de transformar uma empresa é transformar as pessoas dentro dela. Muito se fala em engajamento dos funcionários, mas o que vemos são ações coletivas implantadas de cima para baixo e que não se alinham com as motivações de cada um. A metodologia que utilizamos é focada no sonho de cada funcionário e faz com que a decisão de se engajar parta do empregado, o que é um grande diferencial”, explica Ricardo.
Apesar de atender empresas de diferentes setores, a empresa vem se especializando no nicho de empresas de tecnologia, justamente por encontrar nesses ambientes mais abertura e, ao mesmo tempo, maior demanda. A sócia, Lauta Torres, explica que mesmo nessas empresas é possível encontrar pessoas trabalhando infelizes.
“Existem profissionais que trabalham fingindo que estão executando algo de valor e suprimindo sonhos, enquanto se entregam à rotina. Ao mesmo tempo é comum ouvirmos histórias de empresas que são inovadoras, mas que ainda mantém estratégias antigas de relacionamento com o funcionário. É como se fossem um unicórnio com a cabeça de um dinossauro”, ilustra.
Como funciona a metodologia?
O trabalho começa com uma avaliação das estratégias de relacionamento e bem-estar que a empresa adota junto aos funcionários. O segundo passo é a realização de uma pesquisa quantitativa com os colaboradores sobre engajamento e que consiste em 20 questões baseadas em cinco pilares: o senso de pertencimento, que avalia se as pessoas se sentem parte integrante da empresa; bem-estar, que analisa a qualidade do ambiente de trabalho; valorização, que mede quanto o funcionário se sente valorizado para além de questões de remuneração; a autorrealização, que mede a percepção de evolução do empregado e, por último, a liderança, que avalia a forma como os líderes impactam, positiva ou negativamente, nas outras quatro dimensões.
De acordo com Ricardo Castanheira, essa pesquisa é feita em dois momentos: no início e no fim do processo para a medição dos resultados. Logo após a primeira aplicação da pesquisa, o trabalho segue com a seleção dos funcionários que participarão do processo. Essa é uma decisão feita em conjunto com a empresa, mas os sócios sugerem o engajamento de, pelo menos, 30% dos colaboradores. É fundamental que essa seleção seja feita de forma que os não incluídos não se sintam desprestigiados.
Feita essa definição iniciam-se os “Dream Meetings” ou encontro de sonhos, que é o momento em que os colaboradores passarão por um processo de autoconhecimento e definição de um sonho. Ricardo explica que esse sonho pode ser profissional ou não, mas precisa ser algo que seja relevante e viável para o empregado e que fará diferença em sua vida. Por meio da metodologia, o funcionário será guiado e apoiado para que atinja seu sonho. O essencial é entender que ele será o grande protagonista do processo.
Ricardo explica que o engajamento do funcionário e o consequente resultado que a empresa precisa se torna uma consequência desse processo. “Quando as pessoas perseguem e realizam sonhos sentem-se apaixonadas, enérgicas e felizes. Ao apoiar a realização de sonhos pessoais, a empresa mostra que se importa genuinamente com as pessoas. Em troca, ganharão funcionários envolvidos emocionalmente com o trabalho e muito mais dispostos a dar mais do que o esperado”, garante.
Dados de mercado atestam: funcionário engajado gera lucro
De acordo com dados de 2015 do Instituto Gallup, 73% dos trabalhadores brasileiros estão desengajados com suas empresas. Esse cenário poderia facilmente ser um dos motivos de outro dado alarmante que outro estudo, do Banco Credit Suisse, realizado em 2016, traz: a produtividade do Brasil está estagnada há 35 anos.
A verdade é que a felicidade do funcionário é uma das chaves do sucesso das empresas. Segundo o levantamento do Instituto Gallup, o engajamento dos funcionários gera aumento de 22% na produtividade, 21% na lucratividade e crescimento de 10% da retenção de clientes. De acordo com a GPTW, em 2015, as melhores empresas para trabalhar tinham um índice de 11% de rotatividade voluntária, enquanto nas demais esse índice era de 25%.
Imagem:Pixabay