A transformação dos modelos de carreira: da linearidade para a versatilidade
Colunista Mundo RH, Lilian Giorgi é Managing Director da A&M
A palavra carreira vem do latim “carraria”, que significa estrada para carros ou estrada rústica. Somente a partir do século XIX, passou-se a utilizar o termo para se referir à trajetória profissional que se divide em etapas. Desde então, o conceito de carreira se consolidou como uma ideia estrutural, onde o indivíduo escolhe uma carreira para seguir, tendo consciência, de antemão, do que esperar do percurso.
Durante muito tempo, os cargos de liderança foram sinônimos de sucesso na carreira. Não à toa, profissionais buscaram nessas posições o prestígio e o reconhecimento financeiro que os dariam uma trajetória profissional estável. Uma visão um pouco limitada do que é sucesso.
Com o passar dos anos e das mudanças constantes no mundo corporativo, percebeu-se que as posições de liderança eram insuficientes para suprir toda a demanda de candidatos disponíveis, transformando essa escalada linear em um grande obstáculo para os negócios. Com isso, as empresas precisaram se reinventar internamente e olhar com mais atenção para o seu corpo funcional. Nesse processo, não foi difícil perceber quantos talentos estavam sendo desperdiçados simplesmente por não atenderem aos requisitos de liderança.
Essas observações deram início ao processo de investir nos profissionais que tinham aptidões mais técnicas e poderiam agregar conhecimento à empresa. Da mesma forma, o reconhecimento da importância dos líderes na gestão de equipes para se alcançar resultados cada vez melhores, criando-se a carreira em Y.
Carreira em Y
Esse formato de carreira surgiu como uma oportunidade de dar novas possibilidades ao crescimento profissional, graças à sua versatilidade e às lacunas deixadas pelos modelos de carreira tradicionais. Dentro dela, os profissionais que antes demoravam anos para conseguir subir de cargo, agora sentem-se valorizados tanto em ocupações técnicas quanto nas de gestão, o que é bom para ambos os lados.
A carreira em Y presume que o crescimento profissional ocorre até um determinado momento, em que o profissional ou empresa tem que optar pela continuidade técnica ou gerencial, dividindo assim os profissionais entre gestores ou especialistas técnicos, mas sem diferenciá-los hierarquicamente e financeiramente.
Porém, como tudo muda o tempo todo, esse modelo de carreira passou a não atender mais a todas as necessidades e a distanciar os gestores e os especialistas. Surgiu a necessidade de profissionais mais generalistas, com uma visão sistêmica, capazes de transitar entre áreas técnicas e as áreas funcionais e administrativas.
Dessa forma, surgiu o formato de carreira em W, mais uma possibilidade para o desenvolvimento profissional, que permite maior flexibilidade na estrutura organizacional, incluindo uma movimentação tanto vertical como horizontal, além de unir habilidades técnicas com habilidades de gestão.
Carreira em W
Os profissionais adequados a ter essa evolução de carreira, são aqueles que possuem bom conhecimento técnico e sistêmico, capazes de realizar uma sinergia entre o conhecimento da sua área de atuação e as outras áreas da organização. Além dessas características, os profissionais em carreira W precisam ser auto gerenciáveis e possuir habilidades administrativas, já que são responsáveis por projetos específicos. Precisam reunir também habilidades de liderança, como por exemplo, habilidades para gerir os relacionamentos interpessoais, fornecer feedback e tomar decisões.
Na Alvarez&Marsal, a gente vive na prática esses modelos Y e W, principalmente dentro da unidade de negócios “Corporate Transformation”. Levamos mais de 2 anos para estruturar as práticas setoriais por especializações e assim garantir que nossos funcionários possam escolher qual carreira seguir. Afinal, eles são os protagonistas e donos das próprias carreiras aqui dentro.
O desempenho e a evolução – respeitando as competências e habilidades de cada um – servem como referência para o processo e todos têm a possibilidade de experimentar outras funções. Essa oportunidade de experimentar possibilita aos profissionais identificar aptidão e interesse, e se desenvolverem ainda mais de acordo com a função que lhes parecer mais relevante. Assim, quando atingem um determinado nível de especialização no segmento de atuação, chega o momento de aplicar efetivamente a carreira W.
Com a setorização em CT, as 263 pessoas da área tiveram a oportunidade de decidir em qual das 8 especialidades seguir. Isso permitiu que os colaboradores que antes poderiam ser alocados em projetos generalistas, se dedicassem a desenvolver competências técnicas da sua especialidade. Essa visão macro da carreira em W, aplicada a uma área, traz vantagens competitivas na atração de talentos e no fechamento de negócios. Ao possibilitar o desenvolvimento de nossos profissionais como especialistas, agregramos valor ao individual e ao coletivo.
Como exemplo, a especialidade de Finance, com um time de 63 pessoas, atende clientes com necessidades em Legal, Treasury, Procurement Hub, CFO Services e Financial Services.
E depois da carreira em W, o que virá?
Como tudo é veloz e dinâmico, agora já começa a despontar um novo movimento, a carreira em X. Nesse modelo, o profissional levará em conta o propósito que tem na empresa e, com isso, desempenhará o papel que for necessário para atingir seu objetivo.
O profissional que buscar a carreira em X sempre considerará uma empresa que possua propósitos que estejam de acordo com seus valores pessoais. Consequentemente, será necessário ter versatilidade e capacidade para desempenhar várias funções.
A chave para ter sucesso profissional é possuir um diferencial e saber enquadrar-se no modelo de carreira compatível com seu objetivo e habilidades e saber navegar nesse universo versátil e dinâmico que muda a cada ato.