Autor do livro Manual Antichefe elenca as lideranças tóxicas mais frequentes no ambiente corporativo.
Um levantamento da consultoria internacional Michael Page revelou que 80% dos profissionais que pedem demissão apontam a relação com a chefia como principal motivo. Para muitos, conviver com líderes tóxicos é uma realidade que impacta tanto a saúde mental quanto o desempenho no trabalho. Mas será que todo chefe ruim é apenas um vilão? Segundo o escritor e executivo Eberson Terra, autor do livro “Manual Antichefe”, a resposta é mais complexa.
No livro, publicado pela Buzz Editora, Terra explora os desafios de lidar com lideranças difíceis e como encontrar formas de convivência saudável, mesmo em ambientes adversos. “A ideia de que todo chefe ruim grita ou humilha é simplista. Lideranças tóxicas muitas vezes surgem de inseguranças e medos, e compreender esses comportamentos pode ajudar a mitigar os impactos no ambiente corporativo”, explica.
Terra adverte, no entanto, que situações extremas, como assédio moral ou sexual, devem ser denunciadas imediatamente, pois extrapolam qualquer possibilidade de negociação. Para os casos mais sutis, ele oferece um guia estratégico de convivência, incluindo 10 arquétipos de chefes ruins baseados na psicanálise de Carl Gustav Jung.
Os 10 perfis de chefes ruins e como lidar com eles
1. Tirano
Descrição: Líder autoritário que impõe suas vontades por meio de ameaças e opressão. Enxerga subordinados como peças descartáveis e busca perpetuar seu poder a qualquer custo.
Como lidar: Evite confrontos diretos. Compartilhe créditos pelas ideias e demonstre concordância em pontos-chave para minimizar conflitos. Seja estratégico, garantindo liberdade para atuar sem se tornar um alvo.
2. Politiqueiro
Descrição: Aparece como amigo e aliado, mas usa de manipulação para atender interesses próprios, muitas vezes prejudicando a equipe.
Como lidar: Documente suas atividades, mantenha-se longe de fofocas e crie aliados fora da área de atuação. Evite reuniões desnecessárias, onde manipulações podem acontecer.
3. Microgerente
Descrição: Controlador obsessivo que sufoca a autonomia da equipe, acompanhando cada detalhe do trabalho.
Como lidar: Envie atualizações regulares e antecipadas sobre tarefas. Proatividade e comunicação clara ajudam a reduzir a necessidade de supervisão constante.
4. Omisso-Permissivo
Descrição: Dá liberdade excessiva à equipe, confundindo autonomia com indiferença.
Como lidar: Organize suas próprias tarefas e incentive os colegas a fazerem o mesmo. Relatórios regulares podem trazer o chefe de volta para um nível mínimo de envolvimento.
5. Guardião da Verdade
Descrição: Centraliza decisões e descarta opiniões divergentes, dificultando o debate e o crescimento da equipe.
Como lidar: Escolha momentos estratégicos para propor ideias, de preferência em conversas privadas. Evite confrontá-lo publicamente e busque mediação, se necessário.
6. Multiplicador da Ansiedade
Descrição: Converte todas as demandas em urgências, criando caos e esgotamento emocional na equipe.
Como lidar: Proponha cronogramas claros e organize as demandas para reduzir o impacto da desorganização do líder. Mantenha equilíbrio emocional para não absorver a pressão.
7. Gladiador
Descrição: Promove competições destrutivas entre colegas, desestabilizando a equipe em busca de “sobreviventes mais fortes”.
Como lidar: Evite competir de forma antiética e, se possível, busque novas oportunidades. Caso o comportamento persista, registre incidentes e denuncie.
8. Bélico
Descrição: Responde a críticas com ataques pessoais, criando um ambiente de medo e desconfiança.
Como lidar: Foque no trabalho e evite conflitos diretos. Mantenha postura neutra e, se necessário, reporte comportamentos abusivos.
9. Acumulador de Problemas
Descrição: Inseguro, assume mais responsabilidades do que pode gerenciar, sobrecarregando a si mesmo e à equipe.
Como lidar: Ajude o chefe a reconhecer seus limites. Proponha planos de ação claros e renegocie prazos de maneira objetiva.
10. Espalha Promessas
Descrição: Alimenta falsas esperanças com promessas vazias, minando a confiança e a motivação da equipe.
Como lidar: Exija registros formais das promessas e avalie sua viabilidade. Estabeleça limites claros para evitar expectativas frustradas.
Conviver ou sair?
Para Eberson Terra, o principal é avaliar se o comportamento do chefe pode ser administrado ou se o ambiente é insustentável. “Trabalho não deve ser fonte de sofrimento, mas a decisão de sair deve considerar sua saúde financeira e mental. Nunca se demita impulsivamente, mas também não fique até o ponto de adoecer.”
O autor reforça que, em casos extremos de abuso ou assédio, a saída deve ser imediata e acompanhada de denúncia às autoridades competentes.
Transformando o ambiente corporativo
Segundo Terra, entender os perfis tóxicos ajuda a planejar uma abordagem mais eficaz e a reduzir os impactos no dia a dia. “Chefes tóxicos não definem sua trajetória profissional. Com estratégias certas, é possível neutralizar os efeitos negativos e até transformar o ambiente a seu favor.”
Embora lidar com líderes ruins seja um desafio, o “Manual Antichefe” oferece um ponto de partida prático e reflexivo para trabalhadores enfrentarem essa realidade e retomarem o controle sobre suas carreiras.