Por Juliana Abreu, Diretora Executiva e Sócia do Boston Consulting Group (BCG) no Brasil
A diversidade étnica e racial nas empresas tem sido discutida exaustivamente, seja por razões sociais e éticas, seja pelo fato de que está cada vez mais evidente a relação entre diversidade e capacidade de geração de valor. Em um estudo de 2018, o Boston Consulting Group revelou que empresas com equipes de liderança com diversidade acima da média relataram maior receita em novos produtos e serviços – algumas 20% superior em relação àquelas com diversidade de liderança abaixo da média.
Para refletir sobre esse tema, o BCG desenvolveu recentemente o estudo “The Real Reason Diversity Is Lacking at the Top” e identificou algumas questões importantes. Embora venham investindo na melhoria do recrutamento e no apoio ao desenvolvimento profissional de colaboradores pertencentes a minorias étnicas e raciais, as empresas em geral não abordam os dois obstáculos mais significativos que bloqueiam o avanço e a retenção desses talentos: um fraco senso de pertencimento e a dificuldade de navegar em ambientes profissionais.
Para orientar uma mudança efetiva, elencamos cinco ações que empresas de consultoria e de outros setores que têm enfrentado desafios em diversidade e inclusão, como o financeiro e o de tecnologia, por exemplo, podem adotar para construir um ambiente de trabalho efetivamente diverso e inclusivo, além de mais próspero e inovador.
Melhorar o senso de pertencimento dos funcionários. Uma abordagem de eficácia comprovada é ajudar funcionários de grupos raciais e étnicos subrepresentados a construir uma rede de apoio robusta, que facilita a integração dessas pessoas na rotina e nos desafios diários da empresa. A criação de um ambiente de trabalho inclusivo – em que eles se sintam valorizados, respeitados como indivíduos e livres de preconceitos e julgamentos – também é fundamental.
Para isso, uma importante alavanca institucional é o treinamento de empatia com líderes brancos, de modo a mostrar como funcionários de origens raciais e étnicas diversas vivenciam a organização de maneiras diferentes, mesmo que tenham frequentado as mesmas escolas e trabalhado anteriormente nas mesmas organizações.
Apoiar os funcionários a navegar pelo ambiente profissional. Colaboradores de origens étnica e racial pouco representadas nas organizações podem precisar aprimorar suas habilidades de networking para se integrar totalmente ao ambiente profissional. Na prática, mais do que formalizar programas de patrocínio e mentoria, as empresas precisam de processos e estruturas bem definidos, como um coaching profissional e seguro que normalmente é reservado para executivos seniores durante transições cruciais. Esse treinamento deve ocorrer durante o primeiro ano do colaborador na empresa (quando uma narrativa de alto desempenho é estabelecida) e no ano anterior à janela de promoção (para esclarecer os requisitos para promoção e o processo de tomada de decisão).
Desenvolver uma mentalidade de crescimento. Durante os programas de treinamento de nível básico, as empresas devem destacar os processos e as melhores práticas para dar e receber feedback. Elas também devem orientar as lideranças sobre como fornecer feedback construtivo que destaque os pontos fortes, enquadre as áreas para desenvolvimento como comuns e gerenciáveis e delineie ações táticas para desenvolvê-las. Além disso, devem apontar e recompensar os líderes que se destacam no desenvolvimento de talentos em suas equipes e orientar os menos adaptados para ajudá-los a melhorar.
Ajudar os funcionários a aprimorar suas habilidades. As empresas devem garantir que os líderes demonstrem claramente o que é um bom desempenho. Além disso, os programas de treinamento de nível básico devem incluir orientações sobre como estruturar o trabalho, como trabalhar em equipe com os clientes e como se comunicar de maneira eficaz.
Permitir o domínio de ferramentas. As empresas devem apoiar os funcionários no uso de ferramentas críticas, como as de análise e visualização de dados. Esse suporte pode incluir o desenvolvimento de módulos de aprendizagem online sob demanda para que os funcionários acessem os programas de treinamento quando for conveniente.
Além dessas ações, as empresas precisam ter a liderança e o talento certos dentro da organização para definir uma estratégia para lidar com as raízes dos desafios da diversidade e medir os resultados com rigor. O caminho para alcançar a tão almejada diversidade ainda é longo, mas é totalmente possível.