Um ano novo que pouco se parece ao início do velho. A pandemia mudou o mundo, disso não há mais dúvidas. Da maneira como nos socializamos e estudamos a como consumimos, quase nada é igual ao que era 1 ano atrás. E a área que mais sofreu mudanças foi a do mercado de trabalho. Nos negócios, o departamento de gestão de pessoas teve que se reinventar bruscamente para dar suporte a empresas e colaboradores, enquanto tentava lidar com as consequências da pandemia, do confinamento e do trabalho remoto. Mas, afinal, vivemos nos últimos meses um modelo que veio para ficar?
A preocupação com esse novo design na organização de trabalho é uma das principais apontadas por 800 líderes de RH em uma pesquisa do Gartner Institute sobre as prioridades do setor para 2021. Construir habilidades e competências foi apontado como a maior meta por 68% dos entrevistados. “Esses dados refletem o cenário provocado pela pandemia. Com o avanço da tecnologia e da transformação digital nas empresas, é preciso desenvolver os colaboradores para que eles tenham novas capacitações. Além disso, a preocupação com a saúde de cada profissional se manterá em evidência já que em 2020 vimos que, sem equipe, nenhuma atividade se sustenta”, afirma Daiane Andognini, CEO da HUG, consultoria de gestão de talentos e desenvolvimento de cultura e liderança especializada em startups.
De acordo com a especialista, a pandemia colocou como nunca as pessoas no centro das atenções. E com as empresas não foi diferente: elas sentiram o drama que foi desde colocar todo time operando remotamente até dar suporte emocional para vítimas e familiares da Covid-19. As mudanças foram tão grandes que, segundo a profissional, era difícil imaginar que os departamentos de Recursos Humanos conseguiriam “virar a chave” tão rapidamente. Mas isso não só foi possível, como também a área se tornou mais sensível para as questões além do trabalho. “Manter um time engajado, à distância, e ainda sabendo que ele está lidando com angústias, frustrações e medo na vida pessoal não é fácil. Aprendemos no susto em 2020 e agora é hora de seguir com o que deu certo em 2021 já que a expectativa é que o ano ainda seja marcado pelo coronavírus”.
As prioridades na gestão de pessoas para 2021
As profundas mudanças no mercado de trabalho com a adoção massiva da tecnologia e as novas maneiras de trabalhar aceleradas pela pandemia deixam em evidência que a capacidade de promover novas habilidades nos colaboradores está aquém da necessidade real. Ainda segundo o levantamento do Gartner Institute, os principais desafios são identificar os gaps nas habilidades, integrar o aprendizado ao fluxo de trabalho e desenvolver essa competência de uma maneira rápida.
“Os funcionários precisam de habilidades distintas para essa nova maneira de trabalhar, e o principal desafio é oferecer o desenvolvimento desse profissional com a rapidez necessária”, afirma Daiane. Uma outra pesquisa do instituto em 2020 também apontou que o número de habilidades requeridas para um determinado trabalho cresce cerca de 10% a cada ano, e que 33% das habilidades solicitadas em ofertas de emprego em 2017 não serão mais necessárias até 2021. “A tecnologia muda rapidamente a maneira como vivemos e trabalhamos, e um dos desafios é ajudar os profissionais a acompanhar essa mudança”, acrescenta a executiva da HUG.
Além desses dois pontos, outras três preocupações aparecem na pesquisa: Adaptações nas lideranças, Futuro do trabalho e Experiência do funcionário. “Esse último reforça a percepção de que as pessoas estarão, cada vez mais, no centro das organizações, contribuindo efetivamente para ter um ambiente de trabalho melhor e mais produtivo”, completa a especialista.
Os desafios para 2021
Se em 2020 as mudanças pegaram quase todos despreparados, as lições desse aprendizado serão o principal norte na gestão de pessoas no novo ano. “Acreditamos que o principal desafio será adequar o novo modelo de trabalho ao contexto das organizações e do mundo. Algumas empresas ainda não definiram quando ou se irão retomar as atividades presenciais e, se isso ocorrer, qual será o formato. Esse tipo de decisão vai ter impacto total em como as ações de gestão de pessoas irão funcionar. O uso de dados em massa para fornecer insights de como fazer essa gestão será um dos desafios mais importantes, aliados à capacidade crítica e à criatividade para solução de problemas complexos. Desenvolver tais habilidades na área e ajudar os colaboradores a acelerar essas competências será um dos grandes desafios para as empresas em 2021”, analisa a CEO.
Uma das mudanças com melhor potencial de sucesso para as empresas, segundo Daiane, tem a ver com a aproximação do RH à área de negócios, ajudando numa visão mais sistêmica da organização. Com isso, o setor consegue perceber o que a empresa e os funcionários precisam – e aí, o desafio é transformar esse conhecimento em soluções que beneficiem ambas as partes. A saúde física e mental dos funcionários seguirá na pauta de ações da gestão de pessoas, ao mesmo tempo que a preocupação com o desenvolvimento de competências e habilidades também ocupará um espaço de maior importância.
“2021 será um ano decisivo para o mundo, seja no contexto da saúde, com a chegada da vacina, ou no econômico, com os novos modelos de vida e trabalho impostos pela pandemia. A área de gestão de pessoas está longe de ter respostas certas para situações ainda não vividas, porém, com um pouco de predição, será possível antecipar soluções para problemas que ainda não ocorreram, olhando para o que foi feito em outras empresas ou mesmo para outros países. A cultura organizacional e a comunicação são ainda mais importantes nesse momento, para manter as equipes engajadas e tornar o negócio ainda mais forte”, finaliza Daiane.
Por Daiane Andognini, Formada em Psicologia pela Unisul com especialização em Negócios e Comportamento, atua há 20 anos com gestão de pessoas. Com passagens por Ambev e ContaAzul, fundou em 2016 a HUG, consultoria de gestão de talentos e desenvolvimento de cultura e liderança, da qual é CEO.