No corporativo tradicional, cerca de 72% dos CEO foram da área comercial
Por Liris Gonçalves, Mentora de executivos
Normalmente, um executivo começa sua carreira por volta dos 25 anos, um pouco antes ou um pouco depois desta idade. É o período mais interessante para concorrer aos programas de trainee, por exemplo, ou de conseguir ser promovido a um cargo gerencial, que para muitas empresas é o divisor de águas na carreira para tornar-se um executivo(a). Ao terminar a universidade, quem deseja construir uma carreira executiva até o cargo mais alto de CEO, começa uma verdadeira corrida contra o tempo.
De acordo com levantamento da startup de recursos humanos MyDNA, realizado com 2,3 mil gestores de cinco países da América Latina, entre fevereiro e junho de 2011, 25 anos é o tempo que os profissionais levam para alcançar o cargo de CEO nas organizações. Ou seja, aos 50 anos em média esse profissional ocupará a principal cadeira da empresa. O Brasil possui a segunda menor faixa etária entre os cinco mercados analisados – 53 anos (Chile) ;52 (Colômbia), 51 (Peru) e 49 (Argentina).
Afinal, isto é pouco ou muito tempo? A expectativa de vida do brasileiro está hoje em 72,2 anos e a da brasileira 76,9 anos, de acordo com os últimos estudos do IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
É inegável o aumento percentual de pessoas mais velhas ainda na ativa no mundo corporativo, e meu marido é um destes exemplos: aos 69 anos, como diretor, segue recebendo convites de trabalho. Apesar de ele ainda ser uma exceção, já não é tão raro de acontecer quanto antes. Até poucos anos atrás, a política de aposentadoria de executivos em uma das empresas onde atuei como executiva tinha 55 anos. Se considerarmos que um executivo atinge em média o tão sonhado cargo de CEO aos 50 anos num contexto de aposentadoria aos 55, provavelmente ele teria que se retirar da ativa no auge da experiência e maturidade de sua função. Isto de fato ocorreu, pois tive a oportunidade de presenciar.
Afortunadamente, o mundo mudou e a mentalidade das empresas foi aos poucos se alinhando à realidade de uma vida executiva mais longa. Apesar do mundo corporativo ter esticado a vida útil dos executivos, o tempo para chegar ao topo não mudou muito. Até a década de 80, o tão sonhado cargo de CEO era destinado muitas vezes aos mais velhos, pois naquela época era muito comum que a idade pesasse como mérito para promoção. Na década de 90, houve o início de uma “moda” dos CEOs de 35 anos. Em virtude da crise e da necessidade de enxugar os orçamentos, a pouca idade deixou de ser um impeditivo para um profissional assumir cargos de gerência, diretoria e até presidência. Contudo, aos poucos, as companhias foram revendo essa tendência que provocou uma juniorização nos quadros que não foi muito positiva.
Mas hoje o mundo mudou. E existem exceções a esta regra. Fui executiva por mais de 30 anos e decidi sair do mundo corporativo aos 51 anos, após atuar mais de 10 anos como diretora comercial e de marketing, e de ter chegado à conclusão que não desejava subir mais um degrau na carreira executiva – tornar-me VP ou CEO não era meu sonho. Escolhi começar a construir uma carreira nova no digital, como mentora de executivos, fui estudar mais a fundo o mercado digital e me surpreendi com ele! No mundo digital, as regras para tornar-se CEO são outras! Ao contrário das grandes empresas, que levaram anos para atingir o tamanho que comporta uma estrutura profissionalizada que exige a tal experiência de 25 anos em média para chegar ao topo, no mercado digital há CEOS de empresas que faturam mais de R$100 milhões ao ano com apenas 32 anos!
Assim como no mercado offline, muitos deles são provenientes da área comercial e começaram vendendo infoprodutos. Podemos citar Thiago Nigro ou Érico Rocha como alguns exemplos, pois como vendedores fizeram suas empresas crescerem, e entenderam a matriz de valor da companhia que estavam criando. No corporativo tradicional, cerca de 72% dos CEO foram da área comercial.
Se juntarmos as 2 informações mencionadas aqui – CEOs mais jovens com vida corporativa mais longa – teremos uma nova geração de CEOs que terá a oportunidade de permanecer muito mais tempo no cargo do que qualquer outra geração anterior. Fico aqui imaginando as transformações que surgirão desta mudança no mercado, e quero acompanhar de perto, pois acredito firmemente que nada substitui a sabedoria da experiência, mas nunca o mundo criou sábios tão jovens!
E você? O que opina sobre este assunto?