Cristina Santos é diretora de RH da Infosys.
Muito tem se falado a respeito da discrepância entre contratações de homens e mulheres dentro do setor de tecnologia. Não à toa, movimentos que visam a inclusão, não apenas do público feminino, têm ganhado força nos últimos anos. Um exemplo disso é um relatório conduzido pela McKinsey & Company que apontou que, dentre um cenário de mais de mil empresas em 12 países, existe um consenso de que a diversidade é uma alavanca fundamental para a performance financeira e social das empresas. No que tange à tecnologia, isso fica ainda mais evidente.
De acordo com uma pesquisa do PretaLab em parceria com a consultoria de software ThoughtWorks, mais de 68% dos profissionais do setor de TI são homens. Além disso, 58,3% são pessoas brancas. Quando falamos sobre pessoas com deficiência, o índice chega a 85,4% de ausência desses profissionais nas companhias. Para mim, que sou PCD e atuo no setor de RH há 27 anos, esses números comprovam que trabalhar a cultura da inclusão e da diversidade é cada vez mais importante, já que iniciativas que contribuem para a mudança desse cenário são capazes de conferir vantagens competitivas consideráveis para os negócios. Mas como fazer isso se tornar uma prática integrada às estratégias das empresas e não apenas uma obrigação?
A resposta para essa questão tem a ver com o RH humanizado, conceito que já se tornou tendência dentro do setor. Na Infosys, temos trabalhado ativamente para a implantação de projetos que visam gerar maior acessibilidade e empoderamento, por meio de contratação e treinamentos com as equipes. Além disso, há outros programas que envolvem o tema diversidade e inclusão em análise dentro da empresa, visando sempre a melhoria dos serviços e a capacitação constante das equipes.
Para se ter uma ideia de urgência dessas medidas, o último censo do IBGE, realizado em 2010, indicou que mais de 45 milhões de brasileiros possuem algum grau de deficiência física, visual, auditiva, intelectual ou múltipla, bem como para pessoas idosas, analfabetas, daltônicas, com deficiências ou limitações temporárias, entre outras. A previsão é de que, nas próximas duas décadas, pelo menos um terço da população tenha 60 anos ou mais, idade em que muitos de nós começam a apresentar algum tipo de dificuldade motora ou mesmo intelectual. Por isso, práticas inclusivas precisam estar alinhadas ao desenvolvimento profissional, provendo meios para que isso ocorra de forma contínua e adaptando rotinas e atividades conforme essas demandas aparecem.
Já não basta apenas um olhar humanizado para enfrentar esses desafios, mas um pensar estratégico de profissionais de RH sobre ações que contribuam para a mudança do cenário e auxiliem, de maneira efetiva, na tomada de decisões dentro das companhias, especialmente quando falamos de empresas de tecnologia, que têm passado por um processo de transformação digital cada vez mais acelerada. É preciso considerar de que maneira é possível aliar rotinas do dia a dia à tecnologia e às facilidades que ela nos proporciona. Em um mundo cada vez mais conectado, não é mais suficiente oferecer equipamentos para a realização de tarefas, mas pensar como esses equipamentos, junto a outros recursos e ferramentas, podem seguir sendo úteis, funcionais e acessíveis para os públicos cada vez mais diversos com os quais queremos e precisamos contar ao longo dessa trajetória.
A pandemia revelou um problema estrutural que, talvez, grande parte das empresas não havia sequer notado. No entanto, essa situação, por ora preocupante, pode servir como uma grande e importante oportunidade para que as empresas possam trabalhar questões sociais fundamentais e impactem, de maneira positiva, a sociedade e os novos negócios. Com um RH humanizado e soluções tecnológicas eficientes, o colaborador se tornará, dia após dia, o centro das ações, garantindo o sucesso e contribuindo com os resultados da empresa.