Prezar por uma boa saúde mental é imprescindível em qualquer cenário, principalmente nos ambientes corporativos. As dinâmicas que envolvem o bem-estar da instituição e a saúde mental dos colaboradores esbarram na sensibilidade das empresas em perceberem o quanto um corpo profissional desequilibrado emocionalmente poderá afetar e trazer prejuízos para a produtividade e o faturamento da empresa, arranhando, inclusive, sua reputação frente a clientes e parceiros – e acarretando sérios riscos para sua marca comercial.
Várias pesquisas sobre o tema apontam dados alarmantes. Conforme a OMS (Organização Mundial de Saúde), nosso país é o campeão em transtornos de ansiedade, com 9,3% dos brasileiros sofrendo deste mal. Além disso, cerca de um terço da população brasileira em atividade laboral ativa apresenta sinais de estresse, que é um importante fomento da Síndrome de Burnout – distúrbio emocional caracterizado pelo esgotamento mental que afeta profissionais em áreas distintas.
A mente humana é, sem dúvida, a parte do corpo mais exigida ao longo de uma jornada de trabalho, independente da função desempenhada pelo indivíduo. A capacidade de produção está diretamente ligada ao foco, a motivação, a concentração e ao comprometimento com os resultados, que só serão possíveis através do equilíbrio físico e mental, motivo pelo qual a maneira de encarar problemas de aspectos psicológicos deve ser repensada pelas empresas. Um colaborador em desequilíbrio psíquico pode, pela falta de motivação, ausentar-se de suas funções com maior frequência, além de apresentar uma incidência de atrasos constantes, implicando na elevação da taxa de absenteísmo.
Outrossim, o Turn Over também pode acrescer impactando diretamente no capital intelectual, gerando a necessidade de investimentos em nova mão-de-obra e novos treinamentos, o que irá espelhar a elevação dos gastos mensais. Outro ponto crucial é o clima organizacional que, através dos conflitos nas relações interpessoais, das alterações de humor e falta de harmonia, poderá denunciar a presença de um claro desajuste funcional.
É muito importante que o olhar das empresas esteja voltado para a gestão da saúde e da promoção da qualidade de vida no ambiente corporativo. O cenário atual trouxe insegurança e a necessidade de sérias adaptações laborais. E cada indivíduo irá reagir a elas de forma diferente. Alguns conseguem adaptar-se com mais facilidade, outros nem tanto. E está tudo bem. Só é necessário prezar pelo bem-estar de todos, levando em consideração os dilemas pessoais, emocionais, físicos e até socioambientais.
O momento exige a valorização do cuidado da mente por parte das corporações, através do desenvolvimento de estratégias que contribuam para motivar, acolher e fortificar, intimamente o funcionário. Oferecendo, por meio de uma análise minuciosa do perfil de sua estrutura, condições para uma progressão profissional e pessoal, que estimule a execução das atividades diárias com qualidade e, consequente, entrega de resultados satisfatórios.
Algumas ações podem atenuar a situação e promover um ambiente corporativo mais confortável e atraente, no qual as pessoas sejam incentivadas a buscar ajuda profissional e a falar sobre suas aflições internas. Ao passo que poderão aprender a governar suas emoções com mais propriedade, tratando sintomas como ansiedade, insônia e até mesmo depressão. O fortalecimento da empresa está, de certa maneira, ligado à saúde e ao bem-estar de todos que a integram. Aumentando a confiabilidade e amparando os funcionários é possível promover o engajamento destes com a marca empregadora.
A empatia na gestão, os treinamentos por meio de rodas de conversa, mesmo que virtuais, incentivam uma comunicação mais transparente através da possibilidade da verbalização dos sintomas e das sensações. Estratégias que agregam de forma positiva os programas voltados para a revisão da relação com os colaboradores. O grande desafio aqui é perceber os sinais de que algo está errado. O resgate humano do cuidado é fundamental para o sucesso das implementações empresariais voltadas para o socorro emocional de cada um. Não podemos esquecer que as empresas são reflexos da sociedade e quanto mais saudável for seu ambiente, maior será o impacto positivo na saúde mental de seus funcionários, através do equilíbrio entre vida pessoal e carreira.
Infelizmente, a possibilidade de adoecimento psíquico por questões laborais ou por conta de um cenário adaptativo, ao qual todos estão sendo forçados a se encaixar, é uma realidade. Sensibilizar-se com a integridade física e psicológica do outro é um grande diferencial hoje em dia. Porém, o livre acesso ao suporte emocional e a escuta ativa nas companhias ainda é muito deficitário, motivo pelo qual é importante frisar que jamais a conversa sobre saúde mental deve ser evitada. Os tabus sobre o tema negligenciam a dignidade e o crescimento humano. Ao passo que as emoções influenciam os relacionamentos em ambientes de trabalho, seja na produtividade, na motivação, no humor ou no entusiasmo das pessoas.
Grandes instituições já entenderam a real necessidade do equilíbrio mental de suas equipes e estão investindo em ações a longo prazo que trazem impactos positivos através de políticas estruturadas na prevenção e no autoconhecimento dos indivíduos. Os resultados ecoam em mensagens subliminares de desejo de um crescimento pessoal e profissional para cada um.
Enfim, o colaborador ao se sentir acolhido, dominando de forma adequada suas emoções, classificando sem neuroses seus sentimentos e aprendendo a dominar seu nível de estresse frente às pressões diárias, através do suporte psicológico recebido por parte da empresa, terá uma maior capacidade em reverter seu equilíbrio mental em resultados financeiros e entregas mais favoráveis para a marca empregadora que, consequentemente, estará apta a competir com mais força e destaque no mercado empresarial.
Dra. Andréa Ladislau, Psicanalista