Existe dentro de todos nós ferramentas necessárias para transformar sonhos em realidade e virar o jogo
No alto dos meus “mais de 60 anos”, tenho uma façanha para contar. Na verdade, tenho a concretização de uma espécie de legado das minhas viradas de jogo na vida. Dizem que durante sua existência, o ser humano deve realizar pelo menos três coisas: plantar uma árvore, ter um filho e escrever um livro. Na infância fui bandeirante e, nas aventuras com a turma, plantei muitas árvores. Depois, casei e tive três filhos! Eles já estão todos criados e agora estou à espera dos netos. A terceira realização, talvez, eu tenha passado da média! Com a quantidade de insights e ideias perambulando na minha cabeça, além das experiências que eu me permito vivenciar, apenas um livro seria impossível. Então, estou curtindo o meu 16º livro, o “Virar o Jogo – como agir no mundo das incertezas”.
Quando me perguntam sobre do que exatamente se trata este lançamento, logo respondo: “Ele está recheado de histórias reais que tinham tudo para dar certo, mas não saíram como eu desejava”. Algumas pessoas nem escutam direito o que falo e já se espantam: “Ficou louca, Leila, você lançou um livro com histórias de fracassos?”. E antes que você pense o mesmo, vamos clarear as ideias. Em nenhum momento eu disse que fracassei, perdi ou desisti. Porém, o brilho e a inspiração do livro estão justamente nos ganhos e nas vitórias que foram muito melhores do que eu imaginava quando tudo “deu errado”. Cheguei a um nível de compreensão da vida que me permite afirmar que, se algo não está ou não saiu do jeito que você gostaria, é porque pode ser ainda melhor. E isso serve para a vida de qualquer pessoa.
Você já deve ter escutado a história de um discípulo que circulava em lugares distantes com um sábio mestre. Em determinado trecho da caminhada, o jovem rapaz avistou uma casinha muito pobre e ali era o único lugar que poderiam encontrar água fresca para beber. Atencioso, o discípulo foi até a casa e, ao se deparar com a pobreza que viva aquela família, nem teve coragem de pedir qualquer coisa. Ele se entristeceu com a história lamentável daquelas pessoas que tinham apenas uma vaquinha provedora de toda a renda da família. O leite produzido pelo animal era dividido parte para consumo e parte para a troca por outros alimentos. Inconformado com aquela situação, o discípulo recorreu ao mestre para saber o que poderiam fazer para ajudá-los. O sábio avaliou a situação e respondeu seguramente: “Joga a vaquinha no precipício”. Mesmo contrariado, o discípulo obedeceu e os dois continuaram a viagem.
O que impressiona nessa história é saber que algum tempo depois, mestre e discípulo passam pela mesma região e vislumbram o lugar ricamente transformado. Precipitadamente, o discípulo bate à porta da casa principal daquela fazenda e logo pergunta sobre o final trágico da família dependente da vaquinha. Gentilmente, o empregado responde que a tal família é dona daquela propriedade, animais, plantações e empregados. “Os meus patrões eram realmente bem pobres”, informou o empregado. “Mas, depois que perderam o único recurso da família, tiveram que descobrir outras formas de sobreviver e enriqueceram”.
Então, qual é a vaquinha que você deve se desprender? Será que precisa surgir alguém para lançar a sua em um penhasco? Essa é uma provocação séria! Meu novo livro está recheado de histórias de “vacas lançadas ao precipício” que desencadearam a descoberta de talentos, competências, habilidades e riquezas. Mudanças geram desconfortos, mas também são elas que nos tiram da zona de conforto, da acomodação e nos fazem explorar novas descobertas. Talvez você esteja aí, remoendo possibilidade para sua vida, sua carreira ou o seu negócio. Por medo de perder, você está preso à sua “vaquinha”, incapaz de enxergar o mar de possibilidades que existe ao seu redor.
Muitas vezes um relacionamento, uma circunstância, um negócio ou um emprego que você tem como sua válvula de escape, sua tábua de salvação, é justamente o obstáculo que deve ser removido para que seu mundo seja expandido e seus horizontes ampliados. É sempre mais fácil enxergar o diagnóstico e a solução para as questões alheias do que olhar para o próprio umbigo.
O resultado é muito mais valioso quando percebemos nossa própria vida e tomamos as decisões necessárias antes que algum discípulo obedeça ao mestre e provoque mudanças inesperadas. Existe dentro de nós todas as ferramentas para transformar sonhos em realidade e virar o jogo. Mesmo que você esteja no fundo do poço, ainda assim existe lá uma mola. Fica a dica.
Leila Navarro é empresária, autora de mais de 10 livros e uma das palestrantes mais requisitadas do Brasil. www.leilanavarro.com.br