Os efeitos do novo coronavírus no mercado de trabalho ainda serão sentidos por um longo período. Além da paralisação de várias atividades durante a quarentena, mudanças no estilo de vida e consumo afetarão muitos negócios.
Também foram aceleradas pelos efeitos da pandemia, as transformações digitais na forma de trabalhar, o que deve reduzir o tamanho dos escritórios, trânsito, horários fixos, estruturas, número de viagens e reuniões.
Ainda é incerta a velocidade de retomada das atividades. Muitos cenários apontam para um retorno mais lento das atividades com grandes públicos, como eventos e turismo e mais rápida para comércio e serviços.
Isso tudo aliado às transformações que já se anunciavam por conta da tecnologia, como a da Inteligência Artificial substituindo empregos administrativos e de telemarketing; a robotização de funções mecânicas, principalmente na área industrial, substituindo tarefas penosas ou repetitivas e o aumento das atividades sob demanda e com maior autonomia. Essas tendências poderão reduzir milhões de vagas, num mercado já afetado pela crise econômica.
Qual é o papel dos empresários neste momento?
Essa é a oportunidade de os empresários mostrarem proatividade para manter e gerar empregos. Mostrar que realmente se importam com seus empregados e que têm uma responsabilidade social junto à sociedade. Não basta chamá-los de “Colaboradores” ou “Associados” para depois dispensá-los, ao primeiro sinal de turbulência.
A pandemia não é a única culpada pelas dificuldades atuais. Mais de 40 milhões de trabalhadores já estavam no mercado informal, sendo que 12 milhões sequer tinham CPF e três milhões nem o registro civil. Vieram à tona milhares de brasileiros sem qualificação e sem suporte, um desafio que não pode ser mais ignorado pela sociedade.
Muitos empresários já vinham trabalhando sem caixa e capital de giro, sem fôlego para segurar poucos meses de quarentena. Não pensar só no curto prazo foi o caminho dos empresários que estão fazendo um esforço para não demitir.
Inicialmente acionaram o teletrabalho, a antecipação de férias e a formação de banco de horas para uso futuro. Aproveitaram linhas de crédito e de desoneração para a folha de pagamento, ou adotaram os mecanismos de benefício emergencial do governo em acordos de redução de jornada e suspensão de contrato. Todas estas ferramentas estão disponíveis para os que acreditam que retomarão suas atividades após a pandemia, mesmo com reduções ou mudanças no seu negócio.
Sabem que precisarão contar com equipes prontas e qualificadas para reconquistar seus clientes.
Para os que, mesmo assim, tiverem que demitir, devem tratar as pessoas que forem dispensadas de forma respeitosa e solidária. É quando o RH deve estar mais presente, junto das equipes e lideranças. Tratar a situação com transparência, mas mantendo a leveza do ambiente, renovando as esperanças.
O desafio do RH é manter as equipes motivadas, mesmo após cortes. Respeitar o sentimento de perda, sem deixar o desânimo se generalizar.
E ajudar as pessoas que estão buscando recolocação, ajudando-as a repensar suas carreiras, orientando quanto a opções de estudo e, principalmente, se colocando à disposição para ouvir e trocar ideias.
E os trabalhadores, o que podem fazer enquanto o mercado não melhora? Adianta ficar mandando currículos, bater de porta em porta? É momento de respirar fundo e pensar em um dia de cada vez, focar nas pequenas conquistas, nas coisas que estão ao nosso alcance.
Pensando positivamente, é hora de preparação para a retomada. A empresa precisa continuar a investir em formação, a incentivar a troca de conhecimentos, a abrir espaço para o desenvolvimento das equipes. A comunicação precisa ser reforçada, compartilhando o que for possível e reestabelecendo a confiança interna.
Depois que tudo passar, não seremos os mesmos de antes: estaremos mais fortes, mais preparados para gestão e convivência dentro das empresas e na sociedade.
Com certeza, o que vivemos na pandemia nos transformará para sempre. Percebemos nossa fraqueza humana e o quanto precisamos uns dos outros. Afetará a forma como consumimos e o resgate de valores essenciais.
Devemos caminhar para um mundo mais solidário. Percebemos que o emprego, como conhecemos, está acabando e que milhões de pessoas trabalham em atividades informais.
Estamos diante de uma mudança social e econômica sem precedentes.
E é para este novo tempo que temos que estar prontos.
Lucia Madeira é Presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos do Rio de Janeiro, ABRH-RJ