Uma startup em seu início tem um momento desafiador, sem grande volume de capital ou nome no mercado
Montar o time de tecnologia de uma startup que está começando, o que chamamos de early stage, é muito diferente do que em empresas já estabelecidas e tradicionais no mercado.
Empresas tradicionais atraem pessoas não só pelo salário, mas também pela reputação, plano de carreira, cultura organizacional, entre outros benefícios. Esses são itens que normalmente ainda não estão bem consolidados no início da jornada de um startup e que precisa ser construído justamente pelas primeiras contratações. Então, o grande questionamento é: como podemos atrair esse time e reter os talentos durante o processo de crescimento da empresa?
Uma startup em seu início tem um momento desafiador, sem grande volume de capital ou nome no mercado. O primeiro ponto necessário é escolher bons líderes. Eles atraem bons networkings para formação de suas equipes. Uma pessoa que já passou por outros lugares tem mais chances de incluir pessoas com quem já trabalhou no novo ambiente, e a indicação é uma ferramenta poderosa e muito bem-vinda.
A trilha de carreira dificilmente estará bem definida nas early stages e scale ups, mas é um ambiente em que existe espaço para colocar ideias e auxiliar áreas diversas. As oportunidades de crescimento profissional são maiores do que em empresas já estabelecidas com estruturas hierárquicas mais engessadas.
Tão extensos quanto as oportunidades são os desafios. Uma pessoa que acredita na ideia de uma startup tem que estar disposta a construir uma empresa do zero, e vai passar por muitos deles. O que se aprende nesse processo é um conjunto muito rico de conhecimento e habilidades.
É importante notar que pessoas diferentes têm perfis diferentes de trabalho. Existem aqueles que preferem a segurança de uma empresa tradicional e, para esses, a startup terá poucos atrativos. Já quem entra em um ambiente de inovação precisa estar confortável em testar direções e atuar em diversas frentes. Nesse momento, é muito importante que os recrutadores entendam quais os desafios das vagas para conseguirem selecionar pessoas que sejam compatíveis.
E para quem pergunta se o salário é um fator decisivo, eu respondo: depende. Claro que é um fator importante, mas talvez não seja decisivo. A maior questão é que, se não houver um bom salário, a empresa precisa oferecer outros benefícios que compensem isso. Não dá pra esquecer do básico como um bom plano de saúde, mas também é preciso disponibilizar um ambiente propício para o desenvolvimento e troca de expertises. Em times pequenos, os liderados têm contato direto com os maiores nomes do setor, o que favorece a aprendizagem e, por que não, o currículo. Empresas grandes costumam ter diversos níveis de comando que distanciam a equipe operacional dos principais líderes.
Outro atrativo é a possibilidade de ter stock options. O colaborador que inicia uma jornada em uma startup early stage pode conseguir grandes vantagens na participação da empresa, obtendo uma fatia como sócio.
As ESOP (employee stock options) são incentivos de longo prazo e ideais para serem compartilhadas com a equipe principalmente no momento em que a startup está iniciando, onde ainda não tem um valuation muito alto, porém com expectativas de crescimento exponencial.
Também há sempre o atrativo de se tornar um líder, que em uma early stage o caminho pode ser mais curto. Com apoio e planejamento é possível chegar nessa posição muito rápido. É importante entender as pessoas, saber onde estão suas motivações para oferecer a elas o que é importante e o que está dentro dos limites da empresa.
O equilíbrio é a palavra-chave na formação de times. Trazer profissionais para o contexto da empresa, aqueles que buscam não só salário, mas crescimento e aprendizagem.
É importante ter equipe com lideranças mais seniores no processo de tomada de decisão, por conhecerem melhor as questões e suas complexidades. Por outro lado, esse mesmo líder precisa fazer tarefas muito triviais, que, inclusive, podem consumir muito tempo. Por isso, unir profissionais seniores e juniores equilibra o dia a dia da equipe para executar não só as tarefas simples e mais complexas como também a rentabilidade da empresa.
Por fim, outra vantagem de trabalhar em uma startup desde a sua fundação é poder fazer parte da construção da cultura organizacional. Ou seja, poder opinar sobre as boas práticas da empresa sabendo o que lhe faz feliz no trabalho garante ao profissional maior satisfação individual e um legado para os próximos colaboradores.
E, para você que está montando um time de tecnologia, considere o fator de diversidade e acolhida destes profissionais. Buscar pessoas que tenham diferentes perfis, pensando desde a formação acadêmica, bagagem profissional, faixa etária, até personalidade, é fundamental para enriquecer os times com diversidade para ter um ambiente mais plural, colaborativo e complementar na hora da tomada de decisão.
Rodrigo Perenha é CTO da Kamino