Abuso sexual no trabalho: como identificar e evitar situações
Poucas empresas dão a devida importância às questões que envolvem assédio sexual, por ser um tema polêmico e delicado. Em geral se discute sobre abuso quando acontece algum caso grave e a vítima se pronuncia. É o que aconteceu recentemente por meio do movimento “Me too”, campanha liderada por artistas de Hollywood que denunciaram casos de assedio na mídia.
Toda situação de relacionamento em que haja constrangimento, exposição, incentivo de coação por interesse, ou qualquer ação que force uma das partes a agir de maneira indesejada pode ser considerada abuso. No entanto, abuso sexual identificado como crime no Brasil trata-se de constrangimento gerado por pessoas que estejam em posição mais alta no organograma de uma organização, relacionado ao interesse de obter benefícios sexuais.
Embora as mulheres tenham conquistado muito espaço no cenário mundial, ainda vivemos em um mundo muito influenciado pela cultura machista, o que as torna mais suscetíveis às situações de constrangimento e agressão. A posição muitas vezes desfavorável pelo fator físico, hierárquico, cultural, moral e social, faz com a classe feminina se cale por medo de julgamento, exposição e, até mesmo, agressão. Fato que faz com que o agressor se sinta confortável para continuar com abusos e a reincidência do comportamento faz com que o assédio seja visto por muitos com “normal.”
Como evitar o abuso sexual no ambiente de trabalho
A dica mais importante para combater o abuso é não ficar quieta. É importante que o agressor se sinta constrangido. O ideal é conversar primeiro com a pessoa e quando houver insistência, comunicar a outros superiores.
É muito comum para algumas pessoas confundir excesso de simpatia com flerte. A maior incidência de casos acontece com pessoas que se mostram mais vulneráveis. Aos primeiros sinais de abuso você pode assumir uma postura mais séria e não é necessário sequer ser grosseira, basta ser enérgica. A pessoa má intencionada identifica facilmente “presas” mais fáceis. Não tenha receio de assumir uma postura mais firme.
É comum levantarem a hipótese de que a “culpa pode ser da vítima.” Se é vítima, foi vitimada, logo não tem culpa! Mas, existem maneiras de se comportar que podem estimular o interesse do assediador e chegam a comprometer sua imagem perante a equipe. Por isso fique atento à linguagem corporal, tom de voz e participação de brincadeiras de cunho sexual. Passar a mão no cabelo em excesso enquanto fala com alguém, se tocar com frequência, olhar fixo somente para uma pessoa ou usar roupas provocantes, são atos que podem ser confundidos com interesse ao envolvimento sexual ou ato de sedução.
É importante ficar atento para observar os sinais de uma agressão em potencial, como: excessos de toques, massagens, indiretas de conotação sexual, brincadeiras ambíguas e convites para almoço sem outros colegas.
Encontre pretextos para fugir de situações inconvenientes, diga que tem um trabalho atrasado, que não gosta de certas brincadeiras no ambiente de trabalho, que tem algo de urgência para fazer e não vai sair para almoçar. Se as provocações persistirem, fale de forma clara.
Se mesmo com essas medidas a situação continuar, fale para outras pessoas, busque o RH da empresa ou o responsável.
Em situações caracterizadas como abuso, a vítima pode fazer uma denúncia. Para isso é preciso provas da agressão sexual, que podem ser gravação de áudio, vídeo ou testemunha.
No Brasil o crime de assédio prevê pena de até 2 anos, se o agressor for condenado (Lei nº 2.848 de 07 de Dezembro de 1940). Não é de interesse da empresa que funcionários ou proprietários estejam envolvidos em processos, por isso o melhor caminho é sempre buscar uma solução interna antes que a situação se agrave.
As empresas podem evitar casos de assedio orientandos os colaboradores de forma clara acerca das normas de conduta interna no ato da contratação e em campanhas periódicas. As normas podem incluir: vestimenta adequada, vocabulário intolerável, normas de toque físico e orientações de medidas em casos de constrangimento.
Abuso em relações com clientes
Relações com clientes também são propícias ao abuso. Esses, muitas vezes, podem tentar se beneficiar da condição de cliente para que o prestador de serviços ceda aos seus interesses. Por isso, fique atenta para assumir uma postura séria sempre que iniciarem comentários impertinentes; fale de forma gentil, mas com o tom de voz firme; no atendimento a casais, certifique-se de envolver a pessoa do mesmo sexo na conversa e de dar mais atenção a ela; tenha na ponta da língua respostas profissionais para as cantadas mais comuns; deixe claro que o que está à venda é o produto e não você.
Em tudo que diz respeito ao abuso em relacionamentos, ressalto que a solução é a comunicação. Cada um é responsável por demonstrar seus limites e por respeitar os limites dos demais. As pessoas não têm os mesmo parâmetros de respeito, cabe a cada um demonstrar os seus. E, quando houver caso de agressão, recorde que a divulgação de um caso pode evitar diversos abusos futuros. É fundamental ter coincidência que o assédio pode acontecer em todos os lugares; lembrar da importância de comunicar qualquer tipo de abuso; saber pedir ajuda; não se calar diante de situações a sua volta; e tomar medidas preventivas.
Por Fabiana Carvalho, sócio-fundadora da Xpanding Mind