Convido você a fazer uma breve viagem no tempo. Se tiver menos de 30 anos de idade, esse parágrafo talvez não faça sentido. Mas as gerações que já passaram dessa faixa estiveram imersas por décadas em uma cultura baseada em comando e controle. Foram ensinadas a estudar o que lhes dissessem que era preciso aprender e a cumprir as tarefas quando alguém as solicitasse. No ambiente profissional, a menos que assumissem uma posição gerencial, não aprenderiam a decidir coletivamente, pois não costumavam ser consultadas quando era preciso pensar em uma solução.
Aposto que isso soou familiar para muita gente. Me alegra perceber que esse padrão, aos poucos, tende a desaparecer. Na era industrial, o trabalhador era alguém que produzia mecanicamente uma peça da engrenagem. Agora, ganha espaço a visão de que cada um de nós é um ser capaz de gerar conhecimento. A economia criativa valoriza a capacidade de enxergar os fatos criticamente, em perspectiva e com vistas à resolução dos problemas. E isso é uma ótima notícia – só falta combinar com o RH.
Grande parte das ferramentas de gestão de pessoas datam de algumas décadas atrás, uma época em que a rigidez dos processos não era vista como um problema. Pelo contrário, muitas vezes era encarada como sinal de disciplina e qualidade. Elas funcionavam bem quando o que se esperava dos trabalhadores era um trabalho repetitivo bem-feito – mas não combinam com o tipo de resultado demandado de um profissional dos dias de hoje. Na essência do trabalho criativo estão a não linearidade, a colaboração e o aprendizado constante. São todas características muito mais difíceis de tangibilizar do que a capacidade de encaixar uma peça no lugar ou de apertar um parafuso com a dose certa de força.
Gestão de pessoas: Métodos ágeis como referência
Por isso, nas áreas responsáveis por talentos nas empresas, há mais dúvidas do que certezas. Como adaptar a gestão de pessoas a essa nova realidade? Há muitas teorias e experimentos em andamento nesse sentido. Um dos caminhos para dar conta desse desafio é o chamado RH Ágil. O termo remete à cultura ágil, nascida no setor de tecnologia da informação e disseminada nas empresas em geral com o objetivo de acelerar o processo de inovação e permitir a adaptação dos negócios a cenários dinâmicos de mercado.
Na prática, um RH Ágil adota uma abordagem menos focada em regras e planejamentos de longo prazo – como acontece no RH tradicional – e mais voltada para a simplicidade, a flexibilidade e a adaptabilidade. O objetivo é assegurar as bases para que os profissionais tenham condições de exercer seus papéis com maestria, de colaborar entre si para gerar resultados exponenciais e de tomar decisões assertivas rapidamente. As bases para tudo isso são ferramentas normalmente adotadas pelas áreas de desenvolvimento ou de produto, como as metodologias Scrum e Kanban.
Solução – ou exposição – de problemas?
Mas em que medida um RH Ágil dá conta dos desafios da gestão de pessoas na era do conhecimento? Ouvi recentemente de Andre Bocater Szeneszi, um especialista no assunto da consultoria Knewledge21, que adotar uma postura ágil não resolve os problemas. Pelo contrário – expõe os problemas.
Um dos pilares dos métodos ágeis mais utilizados é a comunicação visual. As tarefas que já foram finalizadas, estão em andamento ou ainda precisam ser feitas costumam ser publicamente apresentadas em ambientes de acesso irrestrito aos colaboradores. É uma forma, segundo Snezeszi, de colocar o “bode na sala”. Alguns talvez se sintam desconfortáveis com isso num primeiro momento. Mas não há maneira melhor de encontrar soluções rapidamente do que compartilhando os problemas com quem tem ferramentas para ajudar.
Talvez o maior mérito de um RH Ágil seja dar espaço para a experimentação e o erro, que deveria deixar de ser visto como um fracasso e passar a ser encarado como uma oportunidade de melhorar – e rapidamente. Prezamos pela agilidade na cultura do Grupo Algar, assim como pela confiança, inovação e perenidade. Na mesa de cada executivo encontra-se hoje um pequeno bode de pelúcia, um símbolo de que os problemas não devem ser escondidos, mas compartilhados para que se busque uma solução. Temos trilhado com entusiasmo o caminho rumo à era do conhecimento até aqui.
Por Eliane Garcia Melgaço, Vice-Presidente de Gente do Grupo Algar