Uma cultura forte é frequentemente associada ao reconhecimento de uma identidade percebida em práticas arraigadas e automatismos que atribuem, também, estabilidade organizacional.
Por Rúbia Marina Scarponi Spindola, Vice-presidente do Conselho Deliberativo da ABRH-MG e Diretora de Pessoas, Cultura e Desenvolvimento Organizacional do Grupo Fleury.
Em um mundo empresarial em constante transformação, as organizações enfrentam um dilema fundamental: como equilibrar a tensão entre a necessidade de uma cultura organizacional forte e coesa, com a flexibilidade de uma cultura permeável e adaptável? Essa tensão é especialmente relevante à medida que as empresas buscam se manter competitivas em um mercado globalizado, onde a inovação e a inclusão são requisitos para o sucesso.
Uma cultura forte é frequentemente associada ao reconhecimento de uma identidade percebida em práticas arraigadas e automatismos que atribuem, também, estabilidade organizacional. Esse tipo de cultura promove a coesão interna, fortalece o engajamento dos colaboradores e facilita a tomada de decisões, pois as pessoas entendem e compartilham dos mesmos princípios. Empresas icônicas como Apple e Toyota são exemplos de organizações que construíram marcas poderosas alicerçadas em culturas fortes e bem definidas.
No contraponto, o excesso de coesão e rigidez também pode gerar riscos. Em alguns casos, a cultura pode se tornar resistente às mudanças e ser uma barreira à inovação. Isso é particularmente problemático em contextos em que as demandas externas evoluem rapidamente, como em setores de tecnologia e comunicação. No entanto, há de se considerar que os desafios existentes na sociedade confirmam a tendência de que um certo grau de permeabilidade seja um imperativo comum às organizações na contemporaneidade, frente à pluralidade de perfis e talentos, desafios de atração, de aceleração digital e das premissas para inovar. Mesmo em setores com alta regulação, a rigidez cultural pode levar à estagnação.
Uma cultura organizacional permeável permite a incorporação de novas ideias, perspectivas e práticas. Esse tipo de cultura é caracterizado por sua abertura à diversidade e capacidade de adaptação. Em um ambiente assim, os colaboradores se sentem mais livres para propor soluções criativas e questionar o status quo, promovendo a inovação. Porém, a permeabilidade também apresenta desafios. Em excesso, ela pode diluir a identidade organizacional, dificultando o alinhamento interno e comprometendo a consistência nas operações. Equilibrar flexibilidade com coesão se torna essencial para uma gestão bem-sucedida da cultura.
Em uma sociedade complexa, lideranças capazes de equilibrar fluidez, força, autoconhecimento e aprendizagem tornam-se valiosas para enfrentar os desafios organizacionais. A crescente complexidade exige líderes ambidestros, que conciliem as pressões por estabilidade e unidade organizacional com a sensibilidade para mudanças.
Gerenciar a tensão entre uma cultura forte e permeável exige estratégias claras e intencionais. Algumas ações podem ajudar nesse processo. Entre essas, praticar os valores declarados, promover a diversidade e a inclusão, incentivar o diálogo e investir no desenvolvimento de lideranças, somadas ao monitoramento e avaliação regulares, mostram-se alternativas eficazes.
Enfim, para que as organizações prosperem em um mundo em constante evolução, alinhar coesão interna com abertura à inovação, cria ambientes que inspiram seus colaboradores, respondem às demandas do mercado e mantêm sua relevância ao longo do tempo. O segredo está em cultivar uma cultura que seja, simultaneamente, uma base sólida e um campo aberto para o novo. Um convite à liderança!