O Brasil não tem mais bônus demográfico
Colunista Mundo RH – Fabrício Garcia, CEO da Qstione
Segundo os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad), a idade média da população brasileira ocupada se aproxima de 40 anos. Além disso, a entrada de jovens no mercado de trabalho tem diminuído, contribuindo ainda mais para o envelhecimento da população economicamente produtiva.
A transição demográfica teve início na década de 1950, quando o país passou por uma transformação completa em seu perfil demográfico. De uma sociedade majoritariamente rural e tradicional, caracterizada por famílias numerosas e alto risco de mortalidade infantil, evoluiu para uma sociedade predominantemente urbana, com arranjos familiares diversos, incluindo famílias com filhos, sem filhos, unipessoais, homoafetivas, entre outras categorias, além da redução significativa da mortalidade infantil.
Os impactos econômicos resultantes dessas mudanças sociodemográficas estão começando a ser sentidos e suas consequências vão muito além do simples aumento médio da idade dos trabalhadores brasileiros. Um dos resultados menos estudados deste processo é a mudança no padrão de consumo da população em geral, uma vez que os hábitos e necessidades, a renda e outros fatores se alteram com o avanço da idade. No entanto, é importante destacar que esse aspecto possui grande relevância, dado o seu impacto sobre toda a estrutura produtiva do país, que deve se rearranjar para suprir essa nova demanda.
Nesse contexto, abordar o aumento da produtividade é fundamental, uma vez que o envelhecimento da população produtiva pode ter impactos negativos no crescimento econômico do país. Sendo assim, elevar a produtividade torna-se uma saída para mitigar os impactos socioeconômicos dessa mudança demográfica.
A produtividade do trabalhador brasileiro é relativamente baixa quando comparada a países como EUA, China e Alemanha, conforme demonstrado por estudos recentes. De acordo com os dados de 2022 da World Population, o Brasil ocupa a modesta posição 57 no ranking global de produtividade, inclusive ficando atrás de países latino-americanos como Equador, Colômbia e Peru. Enquanto o Brasil produz apenas US$ 10,78 por hora, o líder do ranking, a Noruega, alcança uma produtividade de US$ 75,08 por hora.
Essa baixa produtividade é um fator que pode dificultar o alcance de um crescimento econômico satisfatório nos próximos anos para o Brasil. Diante desse cenário, surge a pergunta: o que podemos fazer para melhorar esse quadro?
A resposta é simples: investir em educação e tecnologia. A melhoria dos serviços educacionais, aliada à implementação de novas tecnologias, pode ser a chave para reverter a situação de baixa produtividade do trabalhador brasileiro. No entanto, é preocupante constatar que, apesar do Brasil ter aumentado significativamente o investimento em educação nas últimas três décadas, pouca coisa mudou. Isso ressalta a importância de não apenas aumentar o investimento, mas também alocar os recursos de forma eficiente e inteligente.
A má notícia é que, de fato, há muitos anos falamos sobre o problema da baixa produtividade e, apesar disso, ainda não promovemos mudanças significativas nas políticas educacionais e de desenvolvimento tecnológico. No entanto, como brasileiros, temos uma característica marcante: não desistimos nunca!