Fazer algo de uma maneira diferente gera um estranhamento inicial e traz receios sobre como irá funcionar. Por outro lado, quando esse algo novo está relacionado a uma causa, o nível de engajamento pode ser muito alto, tanto para quem lidera o projeto, quanto para aqueles que estão perto e se veem diante da oportunidade de contribuir para um propósito que pode melhorar a vida de comunidades próximas. Essa costuma ser a experiência de um funcionário ao se deparar com o processo de inovação de um produto com propósito, e é também o que vivemos quando engajamos nossos colaboradores em ações de voluntariado desenvolvidos pela companhia.
Promover programas de voluntariado contribui para um melhor relacionamento com o público interno e pode aumentar em 16% o engajamento do time, conforme aponta o relatório “Além do Bem”, produzido em parceria pela Santo Caos Consultoria, o Bank of America Merrill Lynch e a ONU no Brasil em 2017. Apesar disso, apenas 4% da população brasileira acima dos 14 anos praticaram algum tipo de trabalho voluntário, segundo dados de 2019 levantados para a Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílios Contínua, do IBGE. Em muitos casos, as pessoas querem participar de projetos do gênero, mas não têm conhecimento sobre qual o caminho para começar. Incentivar esse comportamento é muito valioso para gerar mudanças importantes para a sociedade e está em linha com a nossa visão de liderar o mundo no que é essencial para uma vida melhor.
Para engajar nossos colaboradores, entendemos que seria importante trafegar por territórios que estejam próximos dos que atuamos no dia a dia. Lidero uma marca de higiene pessoal que é lembrada de maneira icônica no segmento de papel higiênico e que, a partir da definição do banheiro como território de marca, abraça a causa da universalização do saneamento básico como forma de expandir a higiene, o conforto e o cuidado íntimo para todos. Mais de 87 milhões de brasileiros não têm acesso a coleta de esgoto, sendo que quatro milhões não têm nem um banheiro em seus lares, segundo pesquisa do Instituto Trata Brasil de 2019. A possibilidade de mudar a vida de tantas pessoas que precisam é muito envolvente.
Por meio do projeto Banheiros Mudam Vidas, nos últimos 12 meses, promovemos um programa de aceleração de empreendedores sociais que atuam com inovações voltadas à coleta e tratamento de esgoto. Neste formato, foi possível contribuir com mudanças concretas por meio de iniciativas que atuam em favelas e comunidades rurais, ribeirinhas e indígenas. Pudemos observar como o propósito tem o potencial de engajar os colaboradores e desperta o orgulho de fazer parte da empresa. Em alguns casos, vimos que as relações ultrapassaram o âmbito profissional. Vimos colaboradores que criaram laços mais profundos com a causa que utilizaram seu tempo de férias para viajar e visitar presencialmente algumas comunidades atendidas pelos projetos durante o voluntariado.
Após tornar o tema próximo da rotina, o segundo passo foi consolidar um programa que pudesse utilizar o melhor que cada um tem a oferecer. Por meio de uma ferramenta online com voluntários on demand, e com suporte de voluntários-anjos, conectamos as iniciativas (ONGs, startups e empresas) aos mais de 60 profissionais da companhia que se disponibilizaram a ajudar com consultoria em temas específicos, desde necessidades técnicas, até questões financeiras, jurídicas, gestão, marketing e mídia. O colaborador voluntário, independentemente do cargo que ocupa, se disponibiliza a compartilhar seus conhecimentos e experiências. São horas de trabalho que seriam dedicadas à empresa doadas para os projetos, além daqueles que quiseram ir além e incluíram atividades em seu tempo livre.
E, neste ponto, observamos um dos movimentos mais interessantes do projeto. Muitas vezes, a rotina de trabalho está tão estabelecida, que as pessoas veem seus conhecimentos como corriqueiros e básicos, até por interagirem com pares que detém experiências semelhantes. Mas, em projetos como esse, em que diferentes áreas podem se juntar, a expertise ganha mais valor, especialmente na interação com especialistas em saneamento, nesse caso. Embora eles tenham grande conhecimento técnico na área, desconhecem outros aspectos de negócios. Dessa maneira, observamos cada voluntário da companhia passando a valorizar mais o próprio conhecimento, e isso traz auto confiança para que se arrisquem mais e saiam da zona de conforto, ao mesmo tempo em que somam novos aprendizados trazidos pelas trocas com as iniciativas e fazem a diferença na vida de outras pessoas.
O empoderamento do time também se apresentou como um resultado de se trabalhar de forma mais orgânica. Vimos analistas liderando ações que contavam com a participação de diferentes níveis hierárquicos, como gerentes e especialistas. Também descobrimos, de forma muito espontânea, como é interessante atuar conectados a um ecossistema. Nesse projeto, reunimos colaboradores, empreendedores sociais, institutos e consultorias especialistas, além de comunidades com sua vivência da realidade, em prol de levar dignidade por meio do saneamento básico. Esse formato de trabalho proporcionou experiências riquíssimas aos voluntários, que deram sentido e agregaram muito, inclusive gerando novas possibilidades de atuação para as startups a medida em que os empreendedores começaram a observar novas formas e oportunidades de atuar em conjunto.
Assim pudemos perceber oportunidades de usar ferramentas e fortalezas que já dispomos e conhecemos para algo completamente novo, alinhadas a um propósito maior. Os benefícios do programa de voluntariado inspiraram inovações para os produtos da companhia, inclusive. Motivados pelo desejo de ir além e dar ainda mais visibilidade ao saneamento básico após esta experiência, e considerando que temos uma das marcas mais amadas de papel higiênico no Brasil, resolvemos transformar as nossas embalagens de produto em uma plataforma de divulgação das iniciativas destaque que foram aceleradas com a participação do nosso time de voluntários. Assim, pudemos usar nossa capilaridade para levar esse tema tão importante para a pauta de milhões de consumidores espalhados pelo Brasil. Esse tipo de inovação com propósito, tão poderoso, só pode ser gerada internamente quando os times trabalham de forma diferente e se sentem mais empoderados para tomar decisões.
O formato do projeto também trouxe a oportunidade de aprendermos mais sobre a dinâmica de startups, na qual o processo de tomada de decisões é muito mais acelerado, assim como a flexibilidade para ajustes de rotas. Trabalhando dessa forma, aprendemos muito sobre como não precisamos ter todas as respostas ou soluções, mas atuar de maneira mais colaborativa já que os impactos ficam muito mais efetivos em conjunto. Poder contar com parceiros que tem a vivência da realidade, com a experiência e a emoção presente na ponta, empoderá-los através dos nossos conhecimentos faz bem para eles, para nós e para todos nas comunidades que conseguimos alcançar.
E o que nós, como colaboradores e empresa, trazemos de mais forte dessa experiência é a vontade de fazer mais! É unânime o desejo de continuar nessa jornada, assim como o entendimento de que o voluntariado é a essência de projetos com propósito, alinhado com o nosso compromisso global de impactar positivamente 1 bilhão de vidas até 2030.
Por Patrícia Menezes, Diretora de Marketing para Neve® na Kimberly-Clark Brasil.